Consultor Jurídico

Não seja um aluno bomba-relógio em Direito Penal

23 de dezembro de 2017, 7h00

Por Alexandre Morais da Rosa

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Spacca
Sei que vocês estão em férias e, talvez, minha carta aberta seja um pouco estranha e até mesmo exigente demais. Espero que vocês aproveitem um pouco as possibilidades das férias, quem sabe o final de dezembro, após as últimas provas e, também, Natal e Ano Novo.

Depois da primeira semana de janeiro quero propor uma encruzilhada. Você pode ser mais um que espera o semestre começar para estudar, ou expandir seus conhecimentos enquanto outros estão estagnados. A decisão depende de qual profissional você pretende ser.

O aluno bomba-relógio caminha para a tragédia: é o que acha que a vida é muito curta, a juventude precisa ser aproveitada e quem sabe por um milagre, no futuro, possa estudar tudo que deixou de ler e se qualificar enquanto tinha tempo; não está nem aí por revisar o material das disciplinas anteriores, especialmente as propedêuticas, e acha que leva o curso de direito na flauta.

É o típico desesperado das fases finais, arrependido de não ter levado a sério o curso desde o início, com grandes dificuldades de colocação no mercado; normalmente espera por um milagre ou faz um cursinho preparatório da OAB; e quando passa se acredita qualificado ao exercício da profissão. Entre ingenuidade e falta de senso de realidade sorri e acha que as aulas são o bálsamo milagroso de sua formação teórica.

Talvez você possa achar muito mais legal ficar o tempo todo no sofá, na praia, jogando videogame. Para essas suas opções existem outras profissões para as quais leitura e formação teórico-abstrata são desnecessárias. Então, não perca tempo com o Direito, nem se torne um jurista mais-ou-menos. Para ser bom no que se faz é preciso um percurso teórico que é incompatível com a superfície normativa.

Claro que você poderá ser um advogado, juiz, membro do Ministério Público, ganhar dinheiro, como muitos, mas nunca será, sinceramente, um profissional respeitável pelas qualidades inerentes à profissão. Aliás, a reputação é o que importa, porque mesmo dinheiro só compra aparência de respeito por pessoas interessadas em manter a pose.

A escolha por qual profissional você quer ser não depende de mim. Estarei na sala de aulas de Direito Penal II e Processo Penal II, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mas se você deixar para ler o Código Penal (art. 1º ao 31, já deve estar craque, pois o tema de Direito Penal I; e o 32-120, tema de Penal II), bem assim a Constituição da República (art. 5º, pelo amor de Deus) somente na sala de aula, não poderei fazer muita coisa, porque você já deveria ser alfabetizado.

O desafio é dar-se conta de que a estagnação e a perda das oportunidades de qualificação cobrará uma conta pessoal no futuro, cujo destino depende fundamentalmente das escolhas de hoje. É sempre uma opção. Curta a vida e espere um milagre ou arregace as mangas e siga adiante estudando o que pode ser muito útil no futuro. Estude para vida e não para avaliações.

O mundo é muito maior do que uma prova e decorar é bem diferente de saber pensar. Aproveite as férias conforme você queira ser, em breve. A capacidade de ser imediatista ou pensar no futuro depende de você. Boas férias!