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Política no Brasil é moralizada e judicializada, diz analista

21 de março de 2016, 19h42

Por Redação ConJur

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A divulgação de conversas telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com sua sucessora, Dilma Rousseff, “claramente demonstra que algumas pessoas realmente querem um tipo de golpe, com o Judiciário, a Polícia Federal, para formar um novo governo”, afirmou o cientista político alemão Jens Borchert ao jornal Valor Econômico, ressalvando que a nomeação do petista para a Casa Civil foi um erro.

Segundo ele, a Justiça não deve ser usada para resolver problemas políticos, que estão na raiz da crise que o Brasil vive. Essa instabilidade, a seu ver, decorre da incapacidade da elite política em lidar com a queda da atividade econômica. A culpa disso seria tanto da direita quanto da esquerda. Aqueles, liderados pelo PSDB, não aceitaram perder as eleições presidenciais de 2014 para Dilma, e logo em seguida passaram a pressionar pelo impeachment dela. Já estes desenvolveram um “estilo paranoico de política” pelo qual não mais buscam convencer os outros da importância de seus projetos, preferindo cortar o caminho comprando o apoio de outros partidos.

E esse espaço que a elite política deixou vago está sendo ocupado por juízes, membros do Ministério Público e policiais, avaliou Borchert. “Não há mais discussão sobre assuntos políticos. Tudo é moralizado e judicializado, seguindo a pior tradição da política dos Estados Unidos”.

Contudo, promover grandes mudanças institucionais por causa dos esquemas de corrupção relevados pela operação “lava jato” não traria ganhos ao país, analisou o cientista político ao Valor. Como exemplo disso, ele lembrou que a Itália mudou regras de seu sistema após a operação “mãos limpas”, e nada mudou, e disse que a Constituição “não é o problema”.

Como o Brasil nunca passou a limpo as ditaduras Vargas (1937-1945) e militar (1964-1985), as pessoas ainda não têm “a noção de que a democracia é sempre a melhor escolha e precisa ser defendida a todo custa”, alegou. “Nos protestos, muitos parecem querer destruir seus adversários políticos, em particular o PT, enquanto outros querem se livrar dos partidos e da democracia. Isso é um desdobramento muito perigoso”.

E Borchert não enxerga com bons olhos um processo de impeachment de Dilma: “Uma espécie de ‘golpe frio’ levaria a uma instabilidade por muito tempo, com eventual proliferação de violência nas ruas”. De acordo com ele, o fato de a petista não ser uma boa presidente não justifica sua deposição.

Além disso, o cientista político opinou ao jornal que, ao contrário da opinião prevalecente, o Brasil não é um país muito mais corrupto do que os outros, e sugeriu que o debate político volte a priorizar ideias. “O país vai ficar os próximos 20 anos falando de ‘lava jato’? É necessária alguma forma de concertação. O Brasil precisa de um novo começo".