Obstáculos no Congresso

Ex-senador Gim Argello é denunciado por interferir nos trabalhos de CPIs

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6 de maio de 2016, 17h08

O Ministério Público Federal apresentou nesta sexta-feira (6/5) denúncia contra o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) e outras dez pessoas, em mais um capítulo da operação “lava jato”. Argello é acusado de ter recebido propina para atrapalhar os trabalhos de duas comissões parlamentares de inquérito instauradas para apurar esquema de corrupção na Petrobras, em 2014. Ele integrava a CPI montada no Senado e era vice-presidente da comissão mista formada com a Câmara dos Deputados.

José Cruz/Agência Senado
Segundo MPF, Gim Argello recebeu propina para atrapalhar comissões parlamentares sobre a Petrobras.
José Cruz/Agência Senado

Ao menos quatro empreiteiras aceitaram repassar o dinheiro de forma dissimulada, segundo o MPF: UTC Engenharia, OAS, Toyo Setal e Odebrecht. As empresas Andrade Gutierrez, Engevix e Camargo Côrrea teriam rejeitado o acordo.

A denúncia diz que a UTC fez doações a partidos políticos da mesma chapa de Argello, nas eleições de 2014. Foram enviados R$ 1,7 milhão ao DEM; R$ 1 milhão ao PR; R$ 1,15 milhão ao PMN; e R$ 1,15 milhão ao PRTB.

Já a empreiteira OAS depositou R$ 350 mil na conta bancária de uma paróquia católica localizada no município de Taguatinga (DF), frequentada pelo ex-senador. O pagamento foi associado a uma pessoa identificada como “Alcoólico” — o MPF diz que esse é o apelido de Gim Argello, um trocadilho com a bebida gim.

A Toyo Setal doou R$ 2 milhões ao PR, enquanto Júlio Camargo, representante da empresa, entregou ao senador R$ 200 mil e 200 mil euros em espécie. A Odebrecht pagou R$ 200 mil, como doação oficial ao PR.

O ex-senador está preso desde o dia 12 de abril. A defesa considera frágeis os indícios apontados.

Sem confirmação
Outra denúncia é direcionada ao empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC. Segundo o MPF, ele “estaria extorquindo representantes do PT por razões ainda não confirmadas” e, em troca, recebeu cerca de R$ 6 milhões.

O dinheiro saiu do Banco Schahin, por meio de um empréstimo fraudulento ao pecuarista José Carlos Bumlai (já denunciado na “lava jato”). Circulou para a conta bancária do Frigorífico Bertin, passou para a Remar Agenciamento e Assessoria (de um empresário do Rio de Janeiro) e depois para a Expresso Nova Santo André (empresa de ônibus controlada por Ronan) e outras pessoas físicas e jurídicas ligadas ao empresário.

Os procuradores da República afirmam que Ronan decidiu comprar o Diário do Grande ABC para impedi-lo de continuar publicando notícias em que seu nome era vinculado ao assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (SP). O caminho da lavagem de dinheiro, ainda segundo o MPF, contou com auxílio de pessoas ligadas ao PT, como o publicitário Marcos Valério e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão.

Cabe agora ao juiz federal Sergio Fernando Moro avaliar se abre novas ações penais contra os denunciados. Ele proferiu 17 sentenças nos dois anos da “lava jato”, condenado 67 réus e absolvendo totalmente outros 12. Com informações da Assessoria de Imprensa do MPF-PR.

Clique aqui e aqui para ler as denúncias.
Processos 5022179-78.2016.4.04.7000 e 5022182-33.2016.4.04.7000

* Texto atualizado às 19h10 do dia 6/5/2016.

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