Ligações perigosas

Bumlai afirma que foi usado por banco devido a sua amizade com Lula

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21 de janeiro de 2016, 18h58

O empresário José Carlos Bumlai afirmou à Justiça Federal de Curitiba que, por ser amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi usado por uma instituição financeira interessada em se beneficiar de contratos com a Petrobras. Em petição protocolada nesta quinta-feira (21/1), ele nega ter cometido crimes e diz nunca ter se beneficiado da relação próxima a Lula. Pelo contrário, a amizade só “degringolou” sua situação financeira, afirma.

Bumlai é suspeito de ter repassado ao PT um empréstimo de aproximadamente R$ 12 milhões que havia contraído com o Banco Schahin, para o partido pagar dívidas da campanha à reeleição do ex-presidente. O grupo Schahin teria então perdoado o empréstimo, ganhando em troca um contrato de navio-sonda com a Petrobras, de forma irregular.

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Bumlai diz que tentou pagar empréstimo de R$ 12 milhões, mas banco negou oferta
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Já o advogado Arnaldo Malheiros Filho aponta versão do cliente para o episódio: segundo ele, Bumlai foi convocado pela presidência do banco para uma reunião em 2004 e só durante o encontro descobriu que o PT queria usar seu nome para acertar dívida com publicitários e outros prestadores de serviços de campanha.

“Sem saber dizer ‘não’, como era de seu costume, e constrangido com a presença do tesoureiro do PT, o peticionário afirmou inicialmente que aceitava a proposta do grupo, até porque acreditava, em seu íntimo, que esta não se concretizaria, dada a precariedade da reunião e a ausência naquele momento de elementos concretos para realização do mútuo”, diz a petição.

O advogado diz que o empresário tentou pagar a dívida com parte de uma fazenda, mas a oferta foi recusada pelo grupo Schahin. Assim, alega que em nenhum momento Bumlai participou de esquema de fraudes, e sim foi “usado pelos sócios da instituição financeira, que buscavam utilizar-se do crédito com o PT para beneficiar-se indevidamente de negócios com a petroleira”.

O criminalista Guilherme San Juan Araujo, que defende Milton e Fernando Schahin (antigos membros da cúpula do grupo), afirma que não teve acesso ao documento e que só se manifestará nos autos. O advogado do delator Salim Schahin, Rogério Taffarello, também planeja se manifestar apenas nos autos.

Isca
A defesa de Bumlai também afirma que ele tem sido usado “como se fosse ele a isca perfeita para se conseguir fisgar o peixe (ou melhor, o molusco cefalópode) que muitos queriam — e ainda querem — na frigideira”. Para Malheiros, essa estratégia é falha, porque o cliente nunca se beneficiou da amizade com Lula.

Segundo a petição, Bumlai formou-se em engenharia civil, atuou em uma série de obras importantes, como linhas do metrô de São Paulo, e teve trajetória bem-sucedida como empresário até 2008, quando decidiu junto com a família investir praticamente todos os seus recursos no setor sucroalcooleiro.

A ideia, relata, era construir “um dos maiores e mais modernos complexos de usinas para produção de açúcar e álcool e de energia elétrica a partir do processamento do bagaço de cana-de-açúcar do Brasil”, prejudicada pela política de contenção artificial do preço da gasolina somada ao baixo incentivo do governo federal à produção de etanol.

“Esse, MM. juiz, é o maior argumento a demonstrar que o defendente, contrariamente ao que se propala há tanto tempo, nunca se beneficiou — lícita ou ilicitamente — de sua relação com Lula. Pelo contrário, desde que sua amizade com o ex-presidente (…) se tornou notória, sua situação financeira só degringolou.”

Malheiros também questiona a competência do juiz federal Sergio Moro para julgar o caso, por entender que ocorreram em São Paulo todos os crimes apontados na denúncia do Ministério Público Federal. Aponta ainda problemas nas interceptações telefônicas e critica a falta de acesso pela defesa a documentos da investigação. 

Clique aqui para ler a petição.

* Texto atualizado às 21h30 do dia 21/1/2016 para acréscimo de informação.

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