Os advogados de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ficaram satisfeitos com a atitude da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) de criticar a defesa de Lula, como forma de sair em defesa do juiz Sergio Moro.
A reação da Ajufe aconteceu após mais um bate-boca entre Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, e um advogado de Lula, Juarez Cirino, durante audiência da ação penal na qual o ex-presidente é reu, na última segunda-feira (12/12). Em nota, o presidente da Ajufe, Roberto Veloso, disse que a discussão faz parte de uma "estratégia deliberada” da defesa do ex-presidente para tentar afastar Moro do processo. "Essa tentativa demonstra a ausência de argumentos para desconstituir as provas juntadas nos autos pelo Ministério Público”, diz trecho da nota.
Os advogados Cristiano Zanin Martins, Valeska Teixeira Martins e Roberto Teixeira não gostaram de ver a associação atacando seu trabalho e afirmaram que a Ajufe comete "desvio de finalidade” ao opinar sobre fatos processuais em que não é parte. “O principal objetivo da Ajufe, de acordo com os seus Estatutos, não é opinar sobre fatos processuais ou fazer a defesa de interesses corporativos, mas, sim, zelar pelo aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito e pela plena observância dos direitos humanos."
Em nota, os defensores de Lula ainda contabilizam: esta é a terceira vez que a Ajufe se manifesta sobre caso concreto envolvendo o ex-presidente Lula, "de forma contrária a esse objetivo estatutário”.
A defesa de Lula afirma que Moro tem desrespeitado as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa durante as audiências. "As gravações mostram que Moro pretende estabelecer uma inexistente hierarquia entre juiz e advogado. Os parâmetros usados para autorizar o Ministério Público Federal a colher a sua prova são totalmente diferentes daqueles adotados em relação aos advogados. Ainda, Moro impede que a palavra final sobre novos questionamentos seja da defesa", afirmam.
Bate-boca
O bate-boca que motivou a troca de acusações entre a associação e os advogados começou após uma pergunta feita por um procurador da República à funcionária Marilza Marques, responsável pela área de atendimento da empreiteira OAS e que acompanhou as visitas no apartamento tríplex em Guarujá (SP), imóvel investigado na operação "lava jato".
Marilza disse que mulher de Lula, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, era apresentada como “se o imóvel já tivesse sido destinado”. O advogado de Lula disse que o MPF estava pedindo a opinião da testemunha, o que não deveria ser feito. Moro, então, aumentou o tom, dizendo que o advogado estaria sendo inconveniente. Leia:
Advogado: A defesa não é inconveniente na medida em que estamos no exercício da ampla defesa
Moro: Já foi indeferida sua questão, já foi indeferida sua questão, doutor
Advogado: Vocês não podem cassar a palavra da defesa
Moro: Posso, doutor, por estar sendo inconveniente
Advogado: Não pode, porque estamos colocando uma questão muito importante, relevante, o procurador da República está pedindo a opinião da testemunha e ele não pode
Moro: Doutor, o senhor está sendo inconveniente! Já foi indeferida sua questão, já está registrada, e o senhor respeite o juízo (clique aqui para ver o vídeo)