Petróleo sujo

Petrobras foi aparelhada para extorquir empreiteiras, diz empresário da Engevix

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19 de março de 2015, 16h16

Políticos aparelharam a Petrobras com gestores incompetentes, para obter vantagens pessoais ou para seus partidos. A afirmação é do empresário Cristiano Kok, presidente do conselho de administração da empreiteira Engevix. "A versão que tem sido divulgada é que a Petrobras foi assaltada por um bando de empreiteiras. A verdade é que os políticos aparelharam a Petrobras para arrancar dinheiro das empreiteiras”, diz ele.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o empresário admite que sua empresa pagou cerca de R$ 10 milhões em propina para o doleiro Alberto Youssef. Segundo ele, o objetivo da propina não era vencer licitações, mas garantir que a empresa não seria prejudicada nos pagamentos de aditivos aos contratos e das medições de obra. “Os contratos a gente ganhou por licitação. Mas, para receber em dia, e ter as medições aprovadas, tem que pagar comissão, taxa de facilitação, propina, chame do que você quiser”, conta, qualificando o ato como extorsão.

“Era fazer isso ou ficar sem serviço. As empresas cometeram erros e estão pagando um preço altíssimo por um processo de extorsão. Agora, será que alguma empresa poderia ter denunciado que estava sendo extorquida pelo Paulo Roberto [Costa, ex-diretor da Petrobras]? No mundo real não dá para fazer isso. Você sai do mercado, seu contrato é cancelado, vão comer teu fígado.”

Kok diz não saber para onde ia o dinheiro pago. A propina, segundo ele, era paga em prestações para empresas do doleiro Alberto Yousseff como se fosse prestação de serviço. O nome de Youssef foi indicado pelo ex-deputado do PP José Janene. “Não sei para onde o dinheiro ia e só soube que as empresas eram do Youssef muito depois. Como a indicação do Youssef foi política, evidentemente ele falava em nome do partido [PP]. Mas para quem ele mandou dinheiro eu não sei”.

O executivo contesta a versão do Ministério Publico de que parte do pagamento de propina na Petrobas foi feito de maneira disfarçada, por meio de doações de campanha. Segundo Kok, a Enevix nunca fez doação de campanha para ganhar contratos ou fazer obras. No entanto, ele afirma que há uma política de boa vizinhança ao fazer as doações. “ Agora, evidentemente, quando você apoia um partido ou um candidato, no futuro eles vão procurar ajudá-lo de alguma forma, não tenha dúvida. É política de boa vizinhança”.

Kok rebate também a versão do Tribunal de Contas da União sobre o superfaturamento da refinaria Abreu e Lima. “Os critérios do TCU estão errados. Pegam os preços de uma pavimentação de asfalto e aplicam na pista do aeroporto. São coisas diferentes”, diz. O executivo explica que os preços da refinaria explodiram porque a Petrobras lançava as obras sem projeto e depois ia acrescentando coisas que encareciam tudo. “Em Abreu e Lima, nosso contrato era de R$ 700 milhões, mas acabamos gastando R$ 1,1 bilhão por causa das exigências extras da Petrobras. Nos devem R$ 400 milhões. Em Macaé (RJ), fizemos um contrato de R$ 300 milhões e a obra ficou em R$ 450 milhões. Mais prejuízo. Estamos cobrando a Petrobras por isso. Mas eu devo ser muito burro, porque paguei comissão e perdi dinheiro”, diz.

No caso de Milton Pascowitch, citado pelo ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco como operador de pagamento de propinas ao PT a serviço da empresa Engevix, Kao afirma que ele trabalha na empresa há mais de 15 anos. No entanto, conta que ele foi contratado para ajudar no relacionamento com o PT e não para pagar propina. “Era uma relação de lobby, nunca para pagamento de propina”, afirma.

Os erros cometidos pela empresa no esquema da Petrobras prejudicaram a empreiteira, que hoje corre o risco de quebrar. Nas expectativa de Kok isso não vai acontecer, mas a empresa deve encolher. “Se tudo der certo, vamos encolher, mas continuar vivos. O faturamento do ano passado, que foi de R$ 3 bilhões, cai para R$ 1 bilhão”, afirma. Entre as medidas adotadas para pagar a dívida com os bancos, superior a R$ 1,5 bilhão, a Engevix já vendeu sua empresa de energia e colocou à venda suas participações nos aeroportos de Brasília e Natal. Se conseguirá pagar os R$ 538 milhões cobrados na Justiça, Kok nega. “De jeito nenhum. Se tem alguém que precisa pagar é a Petrobras, que nos deve mais de R$ 500 milhões”.

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