Longa jornada

Jornalista conta como encontrou homem que delatou seus pais na ditadura

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27 de maio de 2015, 22h23

Na falta de uma Justiça de transição pós-regime militar, personagens do período seguem anônimos no país. Reportagem do jornalista Matheus Leitão publicada nesta quarta-feira (27/5) relata os anos em que buscou um desses personagens desconhecidos, o homem que denunciou seus pais — os também jornalistas Míriam Leitão e Marcelo Netto, que foram torturados por militares. O texto “A Espera” estreia a plataforma de reportagens multimídia Brio, lançada nesta quarta.

Leitão encontrou em um sítio do interior do Espírito Santo um idoso de 73 anos de idade, Foedes dos Santos, que reconheceu ter entregado os nomes do casal, mas sob tortura. As informações do homem — de codinome Zé — desmantelaram o PCdoB no Espírito Santo e geraram pistas sobre o comitê central do partido no Rio de Janeiro.

Em uma das sessões de tortura, Míriam Leitão foi colocada num auditório escuro com uma cobra, quando tinha 19 anos e estava grávida. Também sofreu “ameaças de estupro, socos, chutes, cachorros ferozes, sob os gritos de ‘terrorista’”.

O jornalista narra que a procura teve uma série de dificuldades, entre elas a batalha pela burocracia para encontrar informações em órgãos públicos. Antes da existência da Lei de Acesso à Informação, levou meses para ter acesso a documentos sobre a própria família no Superior Tribunal Militar. Com ajuda de um conhecido no Tribunal Superior Eleitoral, conseguiu dados pessoais de Foedes.

A história é contada em texto, vídeos e fotos, incluindo imagens dos documentos encontrados. O site Brio, formado por uma equipe de jornalistas, planeja apresentar narrativas mais longas que o jornalismo diário.

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