"lava jato"

Sergio Moro manda prender presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez

Autor

19 de junho de 2015, 10h11

Ao determinar a prisão preventiva dos presidentes das principais empreiteiras do país, o juiz federal Sergio Fernando Moro aplicou uma espécie de versão brasileira da teoria do domínio do fato para explicar por que deveriam ficar atrás das grades.

O presidente da construtora Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, foram presos na manhã desta sexta-feira (19/6) por agentes da Polícia Federal.

Moro avaliou que, “considerando a duração do esquema criminoso, pelo menos desde 2004 (…) e o valor milionário das propinas pagas aos dirigentes da Petrobras, parece inviável que ele fosse desconhecido dos presidentes das duas empreiteiras”. Ele disse que a prisão preventiva é necessária diante de “um contexto de criminalidade desenvolvida de forma habitual, profissional e sofisticada”.

O juiz considerou ainda peculiar que, com a operação “lava jato”, nenhuma das empreiteiras tenha tomado “qualquer providência” para apurar internamente se funcionários cometeram irregularidades. “A falta de qualquer providência da espécie é indicativo do envolvimento da cúpula diretiva e que os desvios não decorreram de ação individual, mas da política da empresa.”

As duas empresas são suspeitas de terem praticado crimes de formação de cartel, fraude a licitações, corrupção, desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro, entre outros. Na decisão, ele aponta que as duas empreiteiras são as maiores do país (em 2013, chegaram no total a receitas brutas R$ 15 bilhões) e fecharam contratos com a Petrobras que somam R$ 29 bilhões.

Novidades
Em novembro de 2014, já haviam sido presos executivos de outras empreiteiras. Só agora, segundo o juiz, um “acúmulo progressivo de provas” indica o pagamento de propinas envolvendo Odebrecht e Andrade Gutierrez.

Moro aponta que ao menos cinco delatores citaram expressamente dirigentes das duas empresas como integrantes de um esquema criminoso, como o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o presidente da Camargo Correa, Dalton dos Santos Avancini, que assinou acordo de colaboração mais recentemente.

O juiz diz não se restringir à prova oral. Ele apontou que as empreiteiras aparecem em tabelas que “repartiam” obras da Petrobras, conforme documentos apreendidos na sede da Engevix Engenharia e apresentados pelo também delator Augusto Mendonça, dirigente da Setal Óleo e Gás. Também relatou que, durante apreensão na sede da Odebrecht, encontrou-se mensagem eletrônica em que um dirigente da Braskem fala em fixar sobrepreço em um contrato de operação de sondas — a Petrobras, porém, não é citada.

Costa e Youssef disseram que receberam depósitos em contas off-shore da Constructora Internacional Del Sur, do Panamá. O juiz diz que esses repasses foram comprovados, assim como a ligação entre essa construtora e a Odebrecht. Um dos motivos é que ambas contrataram o mesmo escritório de advocacia, afirma.

No caso da Andrade Gutierrez, Moro apontou ligação com o empresário Fernando Soares, o Fernando Baiano, acusado de ser operador do esquema. Isso porque ele é sócio administrador da empresa que recebeu pelo menos R$ 3,164 milhões da Andrade Gutierrez. Outra empresa controlada por ele repassou R$ 500 mil para Marques Azevedo, presidente da empreiteira.

Ao todo, estão sendo cumpridos 59 mandados judiciais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, sendo 38 mandados de busca e apreensão, nove de condução coercitiva, oito de prisão preventiva e quatro de prisão temporária.

De acordo com nota da PF, cerca de 220 policiais federais trabalham na operação. Os presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde permanecerão à disposição da Justiça Federal.

Outro lado
Em nota publicada em seu site, a Odebrecht afirmou que "estes mandados são desnecessários, uma vez que a empresa e seus executivos, desde o início da operação "lava jato", sempre estiveram à disposição das autoridades para colaborar com as investigações".

Já a Andrade Gutierrez disse que está prestando "todo o apoio necessário" a seus executivos e declarou que está colaborando com as investigações. Além disso, a empresa declarou "que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela operação 'lava jato', e espera poder esclarecer todos os questionamentos da Justiça o quanto antes". Com informações da Agência Brasil.

Clique aqui para ler a decisão.

* Texto atualizado às 15h30 do dia 19/5/2015.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!