Mudança de ares

Advogada especialista em delação desiste de clientes da "lava jato" 

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22 de julho de 2015, 18h44

A advogada Beatriz Catta Preta, que costurou ao menos nove acordos de delação premiada na operação “lava jato”, renunciou à defesa de três réus nos últimos dias. Ficaram “órfãos” o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e os empresários Augusto Ribeiro de Mendonça e Julio Gerin de Camargo, do grupo Toyo Setal, todos delatores do caso.

Catta Preta ganhou notoriedade ao atender investigados interessados em colaborar em troca de benefícios — enquanto a maioria dos criminalistas atuantes nos processos torcia o nariz para tal estratégia. O primeiro acordo negociado por ela foi de Paulo Roberto Costa, um dos principais personagens do caso, que comandava o setor de Abastecimento da petrolífera e desde 2014 já tinha trocado a defesa.

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Catta Preta comunicou desistência a clientes da operação "lava jato".
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No início de julho, a CPI da Petrobras autorizou a convocação da advogada para que ela explicasse a origem do dinheiro que pagou seus honorários. A manobra resultou na reação de entidades ligadas à advocacia.

A mudança de ares ocorre ainda depois que Julio Camargo citou em depoimento o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em audiência com o juiz Sergio Fernando Moro, responsável pelas ações da operação "lava jato" no Paraná, ele afirmou que foram cobrados US$ 5 milhões como propina por contratos de navios-sonda. O deputado nega e tenta agora levar o processo ao Supremo Tribunal Federal.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, aponta-se que Catta Preta decidiu mudar de país. Em outubro de 2014, ela registrou na Florida (EUA) a Catta Preta Consulting, ainda de acordo com a publicação. Desde que teve o nome citado pela CPI, seu celular só fica na caixa postal e ninguém atende ligações no seu escritório, localizado no Jardim Europa, na capital paulista.

Assistente da criminalista, o advogado Luiz Henrique Vieira também assinou as renúncias. A revista Consultor Jurídico constatou ainda que a advogada deixou processos de outros clientes que tramitavam no Supremo Tribunal Federal.

Beatriz tem 40 anos de idade e graduou-se em Direito pela Universidade Paulista (Unip) em 1999, de acordo com o jornal O Globo. É pós-graduada na FGV em Direito Penal Empresarial e herdou o sobrenome do marido, com quem vive no município de Barueri, na Grande São Paulo.

“Os advogados podem criticar, gostar ou não. Eu acredito na delação como meio de defesa. É prevista em lei, agora regulamentada pela Lei 12.850. É sim um meio eficaz de defesa quando o réu se vê sem outra saída”, afirmou em fevereiro ao blog do jornalista Fausto Macedo, do jornal O Estado de S. Paulo.

Herança
Julio Camargo já tem como novo advogado Augusto Figueiredo Basto, que defende os também delatores Alberto Youssef e Carlos Alberto da Costa Silva, funcionário da UTC. Basto afirmou à ConJur que foi procurado por Camargo depois de audiência promovida na última sexta-feira (17/7).

Com escritório em Curitiba e defensor do doleiro Youssef desde o caso Banestado, nos anos 1990, o advogado tem ainda cerca de dez clientes envolvidos com a “lava jato”, entre pessoas físicas e jurídicas — ele prefere não citar nomes.

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