Negócio é negócio

Um brasileiro não vale o risco de perdermos um mercado precioso

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20 de janeiro de 2015, 18h32

O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira foi executado na Indonésia, no domingo de lá (sábado de cá – 18/1), em execução de pena de morte por tráfico de entorpecentes. Um tiro só. Antigamente, em alguns países, havia um ritual. O pelotão de fuzilamento era composto por 12. Onze tinham balas de festim, sem o saberem. O décimo segundo atirava realmente, também desconhecendo a letalidade. Acontecia de o executado não morrer, pois nenhum dos doze mirava o peito do condenado. Na Indonésia deve ter sido um só atirador. Não se fala em assassínio colegiado.

De qualquer maneira, matar com espada, arma de fogo, foice, guilhotina ou veneno é, realmente, tarefa para especialista. Nos Estados Unidos da América do Norte havia a eletroplessão, substituída por coquetel de substâncias tranquilizantes elevadas ao máximo. Lá, em alguns Estados da nação norte-americana, aparece apenas o braço da criatura a ser executada. Às vezes, analogamente, o condenado demora a morrer. Dizem que é por ter pecados demais. Terminada a tarefa, o assassino volta ao lar e vai cuidar dos filhos. Nos Estados Unidos deve ser a mesma coisa porque carrasco também gera descendência, vai à feira, carrega criança no colo e faz preces às divindades, estudando bastante para aperfeiçoar a arte de matar.

Basta dizer, entretanto, que o presidente daquele país (Indonésia) não atendeu aos apelos de Dilma. A língua diplomática, tempos atrás, era o francês. Hoje não se sabe bem, mas a presidente bem que tentou, não porque o executado pudesse redimir-se, mas por ser brasileiro e inexistir aqui a pena de morte, ressalvado o Código Penal Militar, isso em caso de guerra. Traficante seria condenado a alguns anos de reclusão com progressão. Foi baleado no coração, ele e outros cinco. Há alguns na fila de espera. O presidente eleito fez promessa de campanha pelo combate ao tráfico. Não poderia voltar atrás, até porque a isonomia o obrigaria perdoar os outros.

Resta, do todo, saber qual o comportamento da presidente Dilma. Chamou o embaixador para consulta. O diplomata dirá que fez o possível. O Brasil, a nosso ver, foi desconsiderado. Sobrariam, de tudo, duas opções dentro da arte diplomática: a) cortar relações com a Indonésia; b) emitir nota de protesto, mas não levar o caso às últimas consequências. Bem vistas as coisas, o Brasil vendeu muito à Indonésia, sem exceção de Super-Tucanos fabricados pela Embraer, mais tecnologia correspondente, não se falando em foguetes ao preço de R$ 1,5 bilhão. Somos bons fabricantes de armas, embora proibidos de usar aqui. Assim, ajudamos a matar gente lá fora. Fica mais simpático.

Dentro do contexto, aqueles caças são joias caríssimas. Um brasileiro a mais ou a menos não vale isso, não se podendo correr o risco, também, de perda de mercado que pode ser precioso à nação. É provável que a segunda alternativa seja a predominante. O moço traficante já foi incinerado. Há outro brasileiro esperando vez. Negócio é negócio. Dilma vai ficar amuada com a desatenção do colega refratário, mas para nisso.

Alguém, conselheiro atuante na corte, soprará, no ouvido da presidente, refrão muito conhecido: “— Uma andorinha não faz verão”. Quando o outro condenado for justiçado, a frase pode ser repetida, com pequena alteração: “— Duas andorinhas também não fazem verão”. De repente, antes da segunda execução, o mandatário da Indonésia manda que os aviões vendidos pelos brasileiros façam rasantes sobre o local, colorindo os céus com as cores do Brasil, tudo em sinal de respeito ao pedido de clemência. Fica bonito e todos se consolam. Evidentemente, os exportadores de drogas hão de pensar bastante antes de tentar outras incursões. Fica tudo por aqui, que é mais fácil, a menos que a concorrência seja muito séria…  

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