"Lava jato"

Depoimentos de Youssef citam Dirceu e deixam de informar detalhes

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12 de fevereiro de 2015, 21h11

Com a divulgação de depoimentos da operação “lava jato”, liberados nesta quinta-feira (12/2) pelo juiz federal Sergio Moro, a maior surpresa que surge na leitura de 28 documentos da delação premiada de Alberto Youssef é a citação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Segundo o doleiro, ele sabia que o PT recebia dinheiro de empreiteiras que conseguiam contratos com a Petrobras.

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Condenado na Ação Penal 470, José Dirceu está em regime semiaberto 
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Youssef diz que Dirceu, chamado de “Bob”, chegou a usar um avião que pertencia ao empresário Julio Gerin de Camargo, do grupo Toyo Setal. Ele cita o modelo e diz onde a aeronave está guardada: trata-se de Citaton Excel, que fica no hangar 1 do aeroporto de Congonhas (SP).

Dificilmente, porém, o doleiro consegue precisar um dia ou até ano das ocorrências que dedura. No caso do empréstimo do avião, por exemplo, ele não sabe dizer quantas vezes foi usado, mas garante que foi depois do período em que José Dirceu foi ministro.

De acordo com o delator, “é possível afirmar que Julio Camargo era responsável por instrumentalizar uma parte dos repasses” que eram dados a agentes públicos. Os agentes apontados são em geral Paulo Roberto Costa, que era diretor de abastecimento da Petrobras, e o deputado morto José Janene — que já aparece no primeiro documento como devedor de R$ 13 milhões a Youssef. Também é citado um deputado federal do PP chamado “Luis Fernando”, sem sobrenome, e um cônsul da Grécia, não identificado.

Conhecimento “provável”
Paulo Roberto também deixa de dar detalhes em alguns momentos. Ele disse que “o presidente da Petrobras provavelmente sabia” que eram pagas vantagens indevidas, sem especificar quem. Diz ainda que nunca falou sobre o assunto com José Eduardo Dutra, Sergio Gabrielli e Graça Foster, que comandaram a estatal desde os anos 1990.

Ele afirma que a maior prova de que houve pagamento de propina nos últimos anos é uma tabela de sua agenda com relação de pessoas e valores pagos, manuscrita com base em documento que estava num escritório de Youssef. Questionado se havia outras provas, afirmou: “se eu recebi, é porque outros também receberam”. Sua parte começou a ser paga em 2005 e só terminou em 2012, quando se aposentou.

Costa cita o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, como conhecedor de irregularidades, mas foca a maioria dos relatos em supostos corruptores — representantes de construtoras já conhecidas dos noticiários. Segundo ele, “todas as licitações das quais as grandes empreiteiras citadas participaram teve a incidência de cartelização e de manipulação do resultado da licitação”, em diferentes tipos de obras. Algumas empresas de menor porte participaram esporadicamente, afirma, mesmo não entrando no grupo.

Fim das sombras
As falas foram registradas em 2014 e divulgadas somente agora. Segundo o juiz Sergio Moro, "o acesso só não foi viabilizado antes porque os depoimentos não estavam com este juízo". O conteúdo dos depoimentos chegaram em 21 de janeiro, diz ele, mas "foi necessário examiná-los um a um — e são dezenas — para verificar se a divulgação não prejudicaria investigações em andamento".

Moro diz que o andamento dos processos da "lava jato" deve ser feito "com transparência e publicidade", pois "não se presta o Judiciário para ser o guardião de segredos sombrios".

Defesas de advogados já cobravam o acesso antes. "A divulgação é importante, mas vem tarde", afirma o advogado Alberto Toron, que defende executivos da empreiteira UTC. Ele diz ter havido cerceamento de defesa, porque a oitiva de testemunhas começou neste mês sem que os réus conhecessem todas as acusações.

A abertura das delações já acendeu a luz amarela para outros advogados ouvidos pela revista Consultor Jurídico. Há quem aponte que esse tipo de divulgação é comum na véspera de novas fases de operações, pois ajudaria a fundamentar os motivos de prisões e mandados de busca e apreensão.

Inconformados
Em nota, o ex-ministro José Dirceu declarou repudiar “com veemência” as declarações e nega ter recebido recursos ilícitos. “O próprio conteúdo da delação premiada confirma que Youssef não apresenta qualquer prova nem sabe explicar qual seria a suposta participação de Dirceu. O ex-ministro também esclarece que, depois que deixou a chefia da Casa Civil, em 2005, sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo”, diz o texto.

A defesa de Julio Camargo classificou afirmações de Youssef como “absolutamente inverídicas”. Nota divulgada pela advogada Beatriz Catta Preta afirma que o cliente tinha um avião qualificado como táxi aéreo, que era deixado sob a administração de uma companhia aérea. Vaccari Neto também nega ter participado de irregularidades, e o PT diz que só recebe doações legais.

Clique aqui e aqui para ler depoimentos de Alberto Youssef.

Clique aqui, aqui e aqui para ler depoimentos de Paulo Roberto Costa.

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