Jogo de damas

Quando candidatos inelegíveis lançam suas mulheres, reforçam padrão machista

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19 de setembro de 2014, 15h22

*Artigo originalmente publicado no blog Conexão Eleitoral, do jornal O Estado de S.Paulo

Em 2010, o ex governador Joaquim Roriz foi barrado pela justiça eleitoral e na última hora lançou sua mulher para substituí-lo como candidata a governadora. Inexperiente, mas leal, a candidata participou de um debate na TV com os adversários, onde protagonizou cenas constrangedoras que caíram na internet e se tornaram virais. Recentemente o vídeo voltou a circular nas redes e de novo fez sucesso, pelo riso fácil que algumas cenas provocam.Nesta semana dois candidatos a governador seguiram o mesmo caminho. Barrados pela lei da ficha limpa, desistiram de suas candidaturas para governador e lançaram suas mulheres. Encontraram uma forma de driblar a regra. Em direito chamamos isto de fraude à lei.

A prática de usar mulheres de políticos como alternativas eleitoreiras não é recente. Em 2002 Garotinho desistiu de disputar a reeleição para o governo do Rio e preferiu se arriscar em uma candidatura a presidente. Mas deixou sua mulher no seu lugar.

No Brasil temos uma lei que obriga os partidos a comporem as chapas para cargos proporcionais, reservando pelo menos 25% de vagas para mulheres. A fixação da cota feminina tem o objetivo de modificar um padrão historicamente masculino da vida política.

Quando candidatos inelegíveis lançam suas mulheres em seus lugares, reforçam o padrão machista que relega as mulheres a um papel secundário na política. Na linguagem das nossas tradições estes políticos escarnecem da lei e reafirmam o seu espaço de poder. É a identidade deles que prevalece sobre a de suas mulheres.

O incrível é que isto tudo esteja acontecendo na mesma eleição em que duas mulheres duelam genuinamente pelo cargo de Presidente da República, mas a questão de gênero não é debatida.

O Brasil é realmente um país de paradoxos.

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