Dscassez de advogados

Escritórios enfrentam dificuldades para contratar profissionais

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1 de março de 2014, 7h26

Numa palestra que proferi em Vitória, a convite dos advogados locais, percebi a angústia demonstrada pelos advogados capixabas com a completa escassez destes por lá. Cheguei a pensar que o problema seria a qualidade dos profissionais e não efetivamente a sua falta. Mas o problema era realmente de quantidade, posto que a grande maioria dos estudantes de direito já ingressa na faculdade almejando um cargo público nas mais diversas boas oportunidades que esta carreira oferece. Desta forma, não é de surpreender a falta de advogados, já que muitos fazem o curso apenas por complemento de formação e um número considerável é excluído por falta de preparo compatível com o exercício da advocacia, pois sequer passam no exame de Ordem. Ao contrário do que se pensa, há escassez de advogados no Brasil.

As coisas não parecem ser muito diferentes em todas as capitais e grandes cidades dos estados da Federação. São enormes as dificuldades encontradas pelos escritórios locais para contratar profissionais, a começar por bons estagiários — praticamente uma raça em extinção. Os bons estagiários são aqueles que prezam pelo bom português, procuram conhecer mais do que um idioma, que entendem que não há sucesso sem sacrificar os happy hours da vida para estudar um pouco e que, às vezes, decidir entre a carreira e a balada, é necessário.

Gosto mais dos estagiários que não se limitam ao horário legal e que prolongam voluntariamente seu tempo no escritório para estudar, já que sua única função é aprender. Desprezar duas horas de aprendizado diariamente é uma tragédia.

No outro dia, numa das nossas reuniões internas, o gerente de RH de nosso escritório apresentou pesquisa feita nas universidades constatando que alguns dos estudantes de melhores notas não estão interessados em fazer estágio nos escritórios, pois preferem estudar para prestar concurso público. Isso me faz projetar um cenário de escassez de profissionais muito maior do que o enfrentado hoje.

Saber que os melhores estudantes estão se direcionando à carreira pública dá a certeza que teremos no futuro ótimos procuradores e promotores de Justiça, entre outros, em contraponto a advogados que correm o risco de serem apenas regulares, caso não façam um esforço para se superarem. Será uma batalha desigual. Por outro lado, os que se direcionam para a carreira pública e não obtêm êxito nos concursos se mostram completamente despreparados para o exercício da advocacia, gerando enorme frustração, pelo desvio de foco vocacional.

Mister se faz que nossos estudantes, apesar das boas oportunidades no serviço público, sintam a importância e o prazer de ser um advogado militante, que tenham orgulho da profissão, de também administrar a Justiça, de servir.

Ser advogado é fazer parte da tríade da Justiça, pois sem o advogado sua consecução resta prejudicada. É preciso resgatar o orgulho para estes profissionais. É preciso dizer sempre, com honra: sou advogado, sim senhor, com muito orgulho..

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