Administração e negócios

Cursos de Direito nos EUA agora formam empreendedores

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24 de setembro de 2013, 10h36

No momento, um mal que está corroendo o prestígio das faculdades de Direito americanas é a quantidade de bacharéis que, em um período de nove meses após a formatura, não conseguem empregos. A causa do problema já foi diagnosticada há tempos: as escolas preparam mais "candidatos a emprego" do que o mercado de trabalho pode absorver. Um remédio indicado para curar o mal que aflige os bacharéis e as faculdades é formar advogados empreendedores, em vez de "candidatos a desemprego".

Muitas faculdades estão se empenhando seriamente para virar esse jogo. No lugar de algumas "clínicas" rápidas, que algumas faculdades ofereciam até agora, muitas delas decidiram oferecer disciplinas emprestadas do currículo das escolas de negócios ou de Administração. Em algumas escolas, os estudantes de Direito já podem fazer cursos de Finanças, Contabilidade, Administração, liderança e empreendedorismo.

Cursos de marketing e vendas também podem ser uma opção: nenhum profissional pode se sair bem se não souber promover ou "vender" seu trabalho, sua marca, seu nome ou sua firma. Competência profissional não é, definitivamente, o único requisito básico para o sucesso.

No entanto, a função maior dos cursos de negócios, entremeados nos cursos de Direito, é produzir bacharéis com mentalidade empresarial. "Nós vemos o empreendedorismo como uma forma de mentalidade, disse ao The National Law Journal o professor Brad Berntal, da Faculdade de Direito da Universidade do Colorado, uma das primeiras nos EUA a enfrentar o problema. "Para iniciar uma empresa, não é um fator indispensável ser um empresário. Mas uma mentalidade empreendedora é fundamental", ele afirma.

A ideia essencial é que os bacharéis deixem a faculdade com o mesmo espírito dos estudantes de negócios ou de Administração. Eles querem abrir seus próprios negócios e não se tornarem candidatos a emprego no mercado e se dedicar a disputar, a duras penas, as poucas vagas em oferta. Um emprego em uma banca bem-sucedida às vezes ajuda, mas só para ver como ela toca os seus negócios e aprender mais.

A formação de uma mentalidade empreendedora — que, por sinal, é um atributo que se desenvolve, não um dom de nascença — também pode ajudar muito os profissionais que pretendem se dedicar à advocacia empresarial.

A explicação é simples, disse ao jornal o diretor do Programa Zell de Empreendedorismo e Advocacia (ZEAL) da Faculdade de Direito da Universidade de Michigan. "Tradicionalmente, os advogados veem riscos como algo a ser eliminado ou minimizado. Essa abordagem não funciona no mundo dos negócios, principalmente entre os novos empreendimentos, onde a grande recompensa requer coragem de assumir riscos". Assim, um dos objetivos maiores é ensinar os estudantes de Direito a pensar sobre os riscos da mesma forma que os empresários o fazem.

Todos os cursos de negócios nos EUA ensinam que um dos requisitos básicos para se abrir uma empresa é contratar, imediatamente, um contador e um advogado. Mas há um temor generalizado de se discutir novos negócios com advogados. Já se sabe, desde logo, que eles vão apontar, basicamente, problemas. Pode ser desestimulante. Por isso, os advogados precisam encontrar um ponto de equilíbrio e mesmo aprender a discutir negócios com os empresários.

"Os advogados precisam deixar de ser máquinas mortíferas de ataques a negócios", diz o diretor.

Para ajudar nesse quesito, as faculdades estão colocando os estudantes de Direito para trabalhar com estudantes da escola de negócios ou de Administração, bem como com novos empreendedores de suas respectivas cidades, que querem abrir uma empresa. A ideia é transmitir uma visão jurídico-empresarial aos estudantes de negócios e empreendedores sobre os pontos de contato da lei com o empreendimento, como constituição da empresa, registro de marcas comerciais, contratos etc.

Os estudantes de Direito podem, em contrapartida, aprender como eles pensam, como falam, como se comportam, como veem o empreendimento e como fazem as coisas. Podem ainda conhecer suas expectativas e aprender como abordar possíveis problemas jurídicos de uma forma mais estimulante. E a estabelecer prioridades para questões jurídicas. Os estudantes formam relacionamentos e futuros clientes.

Por isso, esse aprendizado é extremamente útil para advogados que se preparam para abrir sua própria firma ou para fazer carreira solo. Mas também ajuda muito os futuros profissionais que pretendem buscar emprego em assessorias jurídicas de empresas ou de qualquer associação não governamental: eles estarão mais preparados para discutir com os empresários os negócios da empresa. Ou com os dirigentes de entidades, os seus empreendimentos.

"A reclamação clássica dos bacharéis em Direito sempre foi não entender nada de negócios. Mas isso está mudando", disse o diretor da ZEAL. A Faculdade de Direito de Michigan oferece, agora, 28 cursos de negócios, muitos dos quais envolvem simulações e treinamento prático de negociações. Um curso, para o qual a faculdade pretendia atrair 25 estudantes, recebeu 167 inscrições.

A prestigiosa Faculdade de Direito de Harvard começou a oferecer capital inicial para bacharéis que lançarem empreendimentos destinados a melhorar a sociedade.

Uma situação inesperada é que alguns estudantes se desgarram do curso de Direito para se enveredar nos negócios ou no sistema financeiro. Em Michigan, um estudante de Direito e um estudante de negócios se juntaram para lançar um bem-sucedido portal, do tipo mídia social, focado em casamentos. No Colorado, um estudante criou uma plataforma de blog para viajantes, que terminou comprado pela AOL.

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