Viagem aos EUA

Viagem de Dilma não traria nenhum avanço importante

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18 de setembro de 2013, 11h50

[Artigo originalmente publicado nesta quarta-feira (18/9) no jornal Folha de S.Paulo]

Durante sua visita de Estado a Washington, marcada para 23 de outubro, a presidente Dilma Rousseff não anunciaria que os brasileiros passariam a ser dispensados de visto para entrar nos Estados Unidos.

Tampouco seria revelado na Casa Branca que os dois países iriam assinar um acordo para eliminar a bitributação, maior reivindicação dos empresários.

Também não iria sair o tão esperado apoio do presidente Barack Obama à ambição do Brasil de ser membro permanente de um expandido Conselho de Segurança das Nações Unidas.

E não havia clima para assinar o acordo permitindo que os norte-americanos usassem a base de Alcântara, no Maranhão, para lançamento de foguetes.

Ou seja, nenhuma das principais questões da agenda bilateral teria avanço na visita que foi cancelada.

No máximo, os dois chefes de Estado iriam anunciar mais uns 33 grupos de trabalho que não servem para nada. E passariam a entrevista coletiva pós-visita respondendo sobre novas e inevitáveis acusações de espionagem da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos EUA.

Trocando em miúdos: visita de Estado para quê?

Segundo um integrante do governo brasileiro, não havia como escapar: a agenda principal da visita de 23 de outubro seria negativa.

Não havia "deliverables" (resultados concretos, no jargão diplomático) que fossem sexy o bastante para ofuscar as acusações de espionagem sobre Dilma e a Petrobras.

"As acusações de espionagem envenenaram o ambiente, não ia sair nada de concreto da visita", diz Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute do Woodrow Wilson Center.

Ser recebido em visita de Estado nos EUA seria simbolicamente importante para assinalar a nova estatura do Brasil no cenário mundial, independentemente de resultados concretos.

Dilma se sentiu desprestigiada na visita que fez a Obama em 2012, em que foi recebida de forma fugaz.

Mas o simbolismo estaria arruinado se Dilma fosse acolhida em jantar de gala na condição de homenageada que tem seus e-mails bisbilhotados e não recebe o desagravo adequado.

Não consta que o premiê britânico David Cameron ou a chanceler alemã Angela Merkel sejam alvo de espionagem (a NSA, aliás, compartilha dados com esses países).

Para Obama, cuja política externa tem sido claudicante, admitir que Dilma não vai a Washington pega mal.

Seria a única visita de Estado do ano. Mas a Casa Branca já pôs sua máquina de relações públicas para trabalhar: minutos após a nota sobre o cancelamento da visita, anunciou que o premiê israelense Binyamin Netanyahu se reunirá com Obama para discutir a questão palestina.

Eles confiam que a opinião pública vai esquecer rapidamente que Dilma era esperada para jantar na Casa Branca, mas esnobou Obama.

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