Tecnologia dissipa agouros da produção intelectual
11 de setembro de 2013, 7h45
Anos e anos depois, a pianola fez tremer os editores musicais, ao ponto de reivindicarem a sua proibição. O argumento era a perda da receita das vendas das partituras, já que aquela geringonça executava músicas automática e ilimitadamente. Chegou-se, até mesmo, a associar a pianola a ruína dos compositores e o futuro das criações musicais. A história, no entanto, disse exatamente ao contrário: ampliou-se o acesso, desenvolveu-se uma robusta indústria fonográfica e movimenta-se milhões e milhões de dinheiro.
Adiante, foi a vez da indústria do audiovisual se insurgir contra os videocassetes, no episódio conhecido como o “Caso Betamax”. A tese seria a de que o sistema de vídeo doméstico permitiria a cópia não autorizada de determinada obra audiovisual e também aniquilaria o hábito do espectador de ir ao cinema. A conjugação desses dois fatores, portanto, representaria num colapso para Hollywood. Não bastou muito tempo para se constatar que o tal aparelho incrementou o mercado de filmes, apelidado até mesmo de melhor amigo do produtor audiovisual.
O advento da internet, comumente chamada de a “Era Digital”, num primeiro momento abalou as estruturas da concepção tradicional dos direitos autorais e de obsoletos modelos de negócio. Movimentos surgiram para contestá-los, criando-se até mesmo um selo “cc” que daria ao autor um certa autonomia na destinação da sua obra, como se no modelo clássico do copyright, o tal “c” soasse meio démodé. A novidade passou, os produtores de conteúdo se reinventaram, já não se fala tanto no assunto e o “c” continua firme e forte como nunca.
Agora, há quem diga que o teclado dos computadores, tablets e telefones estão com os dias contados. Serão substituídos por óculos, gestos, vozes e até relógios, num movimento de ruptura de lock in histórico e, por consequência, no final dos tempos da escrita pela tipografia.
Para os pessimistas de plantão, corre-se o risco de se pagar o mesmo mico dos filósofos gregos, que desdenharam da tecnologia. Para os otimistas, aqueles a favor da derrocada dos teclados em razão da tecnologia, o risco do mesmo discurso equivocado de quem foi contra a pianola e os videocassetes. A conclusão que se chega, portanto, é que propriedade intelectual, tecnologia e prelúdios realmente não combinam.
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