Vocabulário predileto

Palavras denunciam preferências da imprensa no mensalão

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18 de novembro de 2013, 18h44

Do presidente do Supremo Tribunal Federal, ao último dos eleitores brasileiros, não há quem tenha ficado indiferente ao julgamento da Ação Penal 470, o processo do mensalão. E tanto quanto a opinião dos juízes, os pontos de vista e as preferências da imprensa no caso, serviram para moldar a opinião pública. E de que lado ficaram os jornais, revistas e blogs do país? Uma pesquisa do Adnews, site de publicidade online, usando a ferramenta de buscas do Google, dá uma indicação sobre o que andaram dizendo oito dos mais importantes ou militantes sites brasileiros sobre escândalos recentes envolvendo os dois principais partidos da política brasileira: PT e PSDB.

A metodologia aplicada, sem maior rigor científico, oferece resultados interessantes e com suporte matemático: os pesquisadores elegeram termos significativos e fizeram buscas no Google, nesta segunda-feira (18/11), para saber sua ocorrência em cada veículo investigado. Pode-se assim, perceber que veículos alinhados com o PT preferiam tratar o julgamento da compra de apoio da base do governo Lula de Ação Penal 470, enquanto os adversários do PSDB tratavam o escândalo pelo nome com o qual ele foi denunciado: mensalão. Na pesquisa a revista Veja pronuncia “AP 470” quase 11 mil vezes e fala de “mensalão” 178 mil vezes. O mesmo acontece com o portal G1, das Organizações Globo, onde “AP 470” aparece 25 mil vezes e “mensalão" se repete em 366 mil oportunidades. Os "jornalões" Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo seguem a mesma tendência, digamos, de usar o termo mais pejorativo ao tratar o pecado petista.

Do outro lado estão o site Brasil 247 e a revista CartaCapital, que mostram sua preferência pelo termo menos ofensivo: nestes veículos o número de menções a Ação Penal 470 é mais que o dobro de “mensalão”. A revista IstoÉ é a que aparece mais equilibrada. Com uma leve preferência pelo termo mais suave aos ouvidos petistas.  

Veículo AP 470 Mensalão
Brasil 247 24.400 10.100
CartaCapital 7.330 3.420
Época 9 162
Estadão 4.680 254.000
Folha 495 321000
G1 25.600 366.000
Istoé 9.260 7.650
Veja 10.900 178.000

Além do mensalão petista, a pesquisa analisou também termos relacionados a escândalos que envolveram os tucanos — o mensalão mineiro e o caso da formação de cartel em licitações do metrô de São Paulo. Aqui fica muito claro que alguns órgãos da imprensa tinham muita vontade de falar de um caso e de esquecer o outro. Ou pelo menos, de tratar amigos e inimigos de acordo com essa relação pessoal. Assim a revista Veja usa a expressão “quadrilha petista” 1.450 vezes enquanto o termo “quadrilha tucana" é citada apenas três vezes. Com uma dose maior de moderação, os demais órgãos seguem o mesmo caminho. A exceção fica por conta do, Brasil 247, o único que cita mais a quadrilha tucana mais do que a petista. A CartaCapital não fala de quadrilha.

Veículo Mensaleiro Quadrilha petista AP 470 Mensalão
Brasil 247 5.480 83 24.400 10.100
CartaCapital 257 0 7.330 3.420
Época 53 2 9 162
Estadão 2.450 53 4.680 254.000
Folha 7.680 45 495 321000
G1 1.300 29 25.600 366.000
Istoé 2.390 40 9.260 7.650
Veja 52.700 1.450 10.900 178.000

Com exceção da Folha de S.Paulo, que dá uma atenção relativamente elevada para o mensalão tucano, os escândalos dos governos do PSDB passam ao largo da grande imprensa. Quem fala da “privataria tucana”, ou do “propinoduto tucano” são os veículos de orientação governista como o site Brasil 247 e a revista Carta Capital

Veículo Privataria tucana Mensalão mineiro Mensalão tucano Quadrilha tucana Cartel+cptm Propinoduto. tucano
Brasil 247 8.820 522 1.790 119 601 303
CartaCapital 286 885 686 0 665 3.510
Época 1 4 1 0 10 0
Estadão 144 722 379 0 935 5
Folha 167 455 14.900 2 323 3
G1 223 924 218 0 779 9
Istoé 329 686 3.060 5 1.450 1.330
Veja 664 751 395 3 333 22

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