Mudança no Vaticano

Igreja Católica vive em constante transformação

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10 de março de 2013, 9h26

Com acertos e erros, uma das instituições mais antigas do planeta é a Igreja Católica. Seus benefícios para a humanidade superam, de longe, seus alegados males. A eclesia romana e o Império Bizantino provavelmente salvaram para o mundo a herança clássica greco-romana, na Idade Média. Só isso justificaria sua existência. Mas, não foi só. As primeiras universidades foram fundadas pela igreja, que também pode se orgulhar por ter defendido o fim da escravidão e o combate às desigualdades sociais.

Ao lado de seus acertos, contabilizam-se, também, erros. A história da Igreja é marcada por fraudes (como a doação de Constantino), disputas pelo poder e perseguições. Atualmente, ela enfrenta muita dificuldade decorrente dos casos de pedofilia, que maculam a sua imagem. Mas ninguém nega que é uma instituição séria, e que seus dirigentes tentam fazer o bem, dentro de suas limitações humanas.

Na verdade, a Igreja é criticada por ser conservadora. Demasiadamente conservadora, segundo muitos. No fundo, queremos que a Igreja pense como nós, o que prova a sua importância. Só damos valor àquilo que faz parte de nossas vidas, para as coisas que nos movem. Criticamos a Igreja que perde fiéis ao condenar o uso da camisinha, que proíbe a ordenação de mulheres e que impõe o celibato aos padres, mas nada falamos da mesma Igreja que defende, de maneira intransigente, os direitos humanos e o amor ao próximo.

É claro que o catolicismo precisa mudar. É o próprio Bento XVI, agora papa emérito, quem o diz. Sua exortação para que o espírito do Concílio Vaticano II esteja presente na Cúria Romana não pode significar coisa diversa. A própria renúncia do papa, a primeira em 600 anos, já é um grande signo do profundo processo de modificação pelo qual vive a Igreja. Para o cardinalato, a renúncia era impensável, tanto que nem mesmo era prevista nos códigos canônicos. “Da cruz não se desce”, sussurraram alguns. Mas os católicos, em geral, interpretaram a vacância da Santa Sé como um ato de nobreza e humildade do Sumo Pontífice, de alguém que admite não ser mais capaz de fazer o que considera certo e abre espaço para que outro o faça.

Porém, não se deve crer que a transformação pelo qual passa a Igreja deva simplesmente significar uma mudança dela segundo nossas convicções. Nos séculos VII e VIII, o cristianismo enfrentou grande crise a respeito do uso de imagens, que foram inclusive banidas no mundo oriental. O ocidente queria manter a imagens. O oriente queria o seu fim. Nada obstante, a Igreja seguiu seu curso, e a discussão que se seguiu deu origem a uma profunda teologia sobre o uso de imagens (iconofilia).

As discussões pela qual atravessa a Igreja terão resultado. E nem é verdade que o Catolicismo não mude, ou mude muito pouco. Entre duas grandes transformações pelo qual a Igreja passou no século XX estão o fim das missas em latim e sua aproximação de outras religiões, em especial as Igrejas Ortodoxas Orientais, de quem o Catolicismo Romano se mantinha divorciado desde o séc. X.

A máquina católica, centralizada no Papa, tem 209 cardeais, 5.100 bispos e 412 mil padres, além de cerca de um bilhão de fiéis. É notável que uma instituição deste porte possua dois milênios de história. E se ela continuar mudando como vêm mudando, sem necessariamente agradar a todos, mas seguindo sua coerência filosófica e histórica, é bastante provável que tenhamos mais dois mil anos de história. A humanidade agradece.

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