Bom funcionário

Promotor usa retórica da vingança em suas funções

Autor

30 de maio de 2013, 17h25

A expressão é forte; o significado que dela emana, maior ainda. Em debate na TV sobre a execução penal e a alternativa do regime semiaberto ser cumprido no domiciliar, devido à lotação carcerária, promotor de justiça gaúcho reivindicou, para si, como elogio, o fato de ser chamado denazista. Disse o promotor que ser chamado assim significa que está fazendo bom trabalho, pois é rigoroso ao cumprir seu mister.


Para além da repercussão que a autocomparação ocasiona, vale analisar a fala no contexto do papel que alguns promotores pensam desempenhar, como vocação redentora de combate ao crime.

Ainda há, no seio da corporação, na plena vigência do Estado de Direito, um resquício de discurso quase autoritário, que cumpre dupla função: reafirmar o espaço corporativo de combate ao crime, se não exclusivo ao menos majoritário, em particular, no confronto com as forças de segurança; e, usar uma retórica que serve a apaziguar o sentimento de desproteção e abandono do cidadão comum, que acha-se vitimizado e inseguro.


Esse último aspecto está arraigado no discurso de alguns promotores, em especial aqueles que lidam contra o crime e pregam a estrita e dura aplicação da lei penal e processual, como se ela contivesse, por si só, a solução do caos criminal. Aristóteles escreveu a Tecne Rhetorica (Retórica) que é a arte e análise da comunicação sob o viés do discurso público com fins persuasivos. Uma tentativa de sistematizar racionalmente a fala pela argumentação e pela dedução lógica das premissas usadas e sua função prática. A ele, como a Platão, seu mestre, repugnava o mero uso emocional, de puro efeito externo.


Ao usar o adjetivonazistacomo forma de identificação com asegurançae com aaplicação rigorosa da lei, o promotor manda mensagem à sociedade de que alguém está velando por ela, dizendo:Fiquem tranquilos. Estou combatendo o crime e vingando vocês. É a entrega, em nome do Estado, da vingança pública que o cidadão não pode realizar de modo privado.


Para muitos, nazistas cuidando de presídios resolveria o problema criminal, principalmente quando a fumaça saísse das chaminés. Só que instituições do Estado, como o MP e seus membros, não podem querer apaziguar corações e mentes do povo com a retórica do medo e da intimidação. O termonazista, para além de trazer segurança, traz à lembrança que um dia a lei foi usada como meio de privação de direitos, usurpação da justiça, terror de Estado e morte.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!