Ditadura militar

Comissão quer saber paradeiro de 111 desaparecidos

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8 de maio de 2013, 17h23

Ao tomar posse nesta quarta-feira (8/5) na presidência da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, o advogado Wadih Damous afirmou que o Rio foi a "capital da tortura" durante o regime militar e, por este motivo, não serão poupados esforços nas investigações para saber o paradeiro de todos os 111 mortos e desaparecidos políticos. "A nossa homenagem é aos órfãos do ‘talvez’ e às viúvas do ‘quem sabe’, que perderam seus entes queridos", disse.

Segundo Damous, a população tem o direito de saber o que os titulares do poder naquele período sombrio fizeram com os perseguidos políticos do regime. Ele garantiu que os mortos e desaparecidos no período da ditadura são a principal razão da existência das comissões criadas pelos governos federal e estadual e pediu atenção dos governantes.

"Sabemos dos dois lados daquela época sombria: os parlamentares e militares que desonraram seus mandatos e fardas e os verdadeiros heróis brasileiros que não sucumbiram à repressão. É um paradoxo, mas a categoria profissional mais atingida pelo golpe foi exatamente a militar. São as histórias dessas pessoas que queremos contar", disse.

O presidente da Comissão da Verdade lembrou que, estigmatizado como traidores ou desertores, milhares de militares que resistiram ao golpe de 1964 começam a contar o que lhes aconteceu nos anos de chumbo. “A população brasileira precisa saber a história pouco conhecida daqueles que, verdadeiramente, honraram a farda e a pátria, e por isso foram perseguidos, presos, mortos ou destituídos de seus direitos de patente”, disse

A Comissão da Verdade do Rio de Janeiro será instalada na sede da Caixa de Assistência dos Advogados (Caarj), perto do prédio da Seccional da OAB e local onde funcionou o Conselho Federal à época do atentado em 1980 que vitimou a então secretária do presidente da entidade, Lyda Monteiro. Foi o próprio Wadih quem anunciou a instalação da grupo na sede da Caarj: "Terei orgulho de trabalhar onde Lyda Monteiro trabalhou". Dona Lyda, como era conhecida, morreu na explosão da bomba endereçada ao presidente do Conselho Federal à época, Eduardo Seabra Fagundes.

Presente na posse de Damous, a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário lembrou a atuação dos advogados na época da repressão. "A figura de Modesto da Silveira representa todos os advogados que fizeram sua carreira defendendo quem estava à margem do respeito da sociedade, num período em que a Constituição foi rasgada", constatou.

Também na posse de Wadih, o governador Sérgio Cabral garantiu autonomia ao grupo fluminense e anunciou que a sede do antigo Dops, localizada na Rua da Relação, na Lapa, será transformada em um centro de memória. "Vamos restaurá-la e dar a dignidade da verdade e da memória ao centro. Esse é o primeiro passo, pois a pretensão é expandir esse projeto a outros centros de tortura da época da ditadura". O Dops foi um dos principais centros de detenção e tortura no período militar.

Já Rosa Maria Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade e conhecida por ter defendido a presidente Dilma Rouseff quando guerrilheira, destacou durante a cerimônia de posse o amadurecimento da sociedade, que tem, segundo ela, se mostrado interessada em saber o que de fato se passou durante o período militar. "O interesse pela exumação de Jango é um exemplo disso", destacou, fazendo referência à investigação sobre a morte do ex-presidente João Goulart.

Representando a OAB-RJ na cerimônia, o vice-presidente da entidade, Ronaldo Cramer disse que no Rio de Janeiro surgiu o embrião da Comissão Nacional da Verdade (CNV) com a campanha instalada em 2010. “Acredito que o Wadih terá muito trabalho porque no Rio aconteceu grande parte dos crimes da ditadura", afirmou o vice-presidente da Seccional, Ronaldo Cramer, referindo-se ao presidente da núcleo estadual da Verdade, Wadih Damous, que comandou a Seccional entre 2007 e 2012.

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