Essência da democracia

Vaia para Dilma foi para todos os políticos

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23 de junho de 2013, 7h18

Conceitualmente a vaia importa na desaprovação por alguém a alguma coisa que não corresponda ao modo de pensar daquele que a emite. Houve quem sustentasse que surgiu na Grécia, quando as execuções artísticas eram recebidas com aplausos ou com vaias, dependendo do gosto do espectador.

Vaiar importa, em suma, em legítimo direito de discordância ou de crítica a um fato ou pessoa. Há, pois, uma simbiose entre a vaia e a democracia. Esta, tomada como sendo a soberania popular, se ameaçada com restrições abusivas, limita o poder de censurar, de modo que a liberdade política, uma vez sufocada, não passa de mera falácia.

O valor da democracia encontra o seu significado e sua essência na participação da cidadania e no respeito às opiniões contrárias.

Na convulsão que estamos vivendo, 77% da população aprova os protestos populares. É um percentual significativo, consistindo numa advertência de que é chegada a hora de rever os métodos populistas implantados no país, laqueando a boa-fé dos que recebem dádivas aparentemente generosas, mas que concorrem para estimular a ociosidade.

A recente vaia que irrompeu em Brasília, na abertura da Copa das Confederações, não pode ser minimizada. Não se trata de um fato “irrelevante” ou de um acontecimento “complexo”, como afirmado tanto pelo Secretário-Geral da Presidência da República como pela sua Secretária de Comunicação Social.

Quem acompanhou os últimos fatos que infestam a nossa economia não pode ficar apático a uma indignação autêntica. Embora este clamor tenha ficado latente desde o governo Lula, comporta reflexões oportunas. Seja devido à corrupção institucionalizada, seja em face do retorno da inflação, mesmo que a presidente Dilma não tenha se compenetrado da existência desse risco.

Aceitar, segundo o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que as vaias tiveram o objetivo, apenas, de “desestabilizar o governo”, é o mesmo que reconhecer a insuficiência do Executivo e que estaria correndo o risco de desequilibrar-se diante do motejo surgido num estádio de futebol.

Aquela matraca não foi dirigida somente à presidente Dilma Rousseff. Mas, por igual, aos políticos, em todos os níveis, que se empenham na renovação de seus mandatos amparados pela presidente, que também não estaria disposta a abrir mão das regalias de que desfruta.

O temerário ataque ao Congresso Nacional e à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, por mais ousado que seja, serviu para demonstrar que a representação popular conferida ao Legislativo não passa de um engodo.

É compreensível que os acólitos do Planalto permaneçam no estrangeiro nesta fase crítica, ainda que os seus eleitores saiam às ruas. Não para comemorar vitórias esportivas, nem para resistir ao aumento de centavos nas passagens dos coletivos. Mas, sim, para exercer bravamente o seu direito de repulsa através da vaia, que é uma oportuna e eficaz forma de desaprovação.

Os que não têm condições de dirigir-se diretamente ao governo, externando-lhe o seu dissabor, poderão fazê-lo através de apupos, na esperança de que esse recurso possa repercutir junto aos que exercem o poder, indiferentes à sorte do povo.

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