Sensualidade e mistérios em contos que tangenciam a lei
17 de junho de 2013, 12h19
O livro é uma curiosa mistura que tangencia a lei, "mas com uma linguagem diferente e com a liberdade da ficção", define Muyalert, ex-secretário da Justiça e da Segurança Pública do Estado de São Paulo e ex-presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em Brasília. No encontro de amigos, transformado em livro, Muyalert teve dupla missão: além de contribuir com O Número 36, inspirado pela Paris dos anos 60, ficou responsável pelas fotos que ilustram o livro, outra de suas paixões antigas.
Acostumados a produzir textos fechados em significados e interpretações, a literatura abre para os autores a possibilidade de novas experiências, explica Pierre Moreau na apresentação do livro. Entre as vantagens da ficção, ele destaca a liberdade da escrita. "No livro não somos reféns do sigilo, do tempo, da precisão. Aqui, somos apenas devotos das palavras no que elas têm de dual e volátil, na beleza de seu significado amplo, na variedade de sons que revelam contos", afirma.
Os doze contos percorrem diferentes caminhos. As histórias são fictícias, asseguram os autores, mas fica claro para o leitor que boa parte delas tem como base elementos reais, colhidos no próprio universo profissional de cada um. Corregedor-geral da Justiça em São Paulo, o desembargador José Renato Nalini aborda, por exemplo, a trajetória de um ambicioso magistrado, "pessoa quase normal", que não poupa esforços em busca de poder e prestígio. Especialista em Direito Societário e mestre pela Columbia University School Law, Marcelo S. Barbosa segue pela mesma trilha ao reconstituir o ambiente de intrigas e rivalidades presentes no fictício escritório criado por ele.
Não é diferente com José Gregori, nome definitivamente ligado à defesa dos direitos humanos, dentro e fora do país, que narra a trajetória de Guerino, um ex-militante político torturado física e psicologicamente e que acaba sendo vítima do próprio grupo que ajudou a chegar ao poder. O viés opressivo também se sobressai na trama desenvolvida por Luis Francisco Carvalho Filho, advogado que tem no currículo uma emblemática passagem na presidência da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, na primeira metade da década passada.
Os demais autores nem sempre se valem dos mesmos atalhos e uma boa mostra da pluralidade temática e de estilos aparece em O Ombro de A., de Eros Grau, professor titular da Universidade de São Paulo e ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal. No conto, que abre a coletânea, um "magistrado quase celibatário" passa a vida tentando reencontrar a mulher que muitos anos atrás proporcionou a ele "não mais do que alguns segundos de nudez", em um gesto sensual marcado pela mais absoluta casualidade. Enquanto procura, o personagem criado pelo autor imagina como tudo teria sido diferente se tivesse rompido o infinito, no caso não a mais do que "três palmos de distância".
Serviço:
Titulo: As Letras da Lei
Autores: Eduardo Muylaert, Eros Grau, José Gregori, José Alexandre Tavares Guerreiro, José Renato Nalini, Luciana Gerbovic, Luis Kignel, Luís Francisco Carvalho Filho, Marcelo S. Barbosa, Miguel Reale Júnior, Denis Borges Barbosa e Pierre Moreau (organizador).
Editora: Casa da Palavra
Edição: 1ª edição — 2013
Número de Páginas: 136
Preço: R$ 35,00
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