Antagonicamente, Peter Drucker, grande pensador da Administração — que curiosamente era formado em Direito — dizia que “passamos muito tempo ensinando aos líderes o que fazer. Não passamos tempo suficiente ensinando aos líderes que comportamento abandonar. Metade dos líderes que conheci não precisa aprender o que fazer. Eles precisam aprender o que parar de fazer”.
Sábio o pensamento de Drucker, pois a liderança é fenômeno de natureza comportamental; não é “ciência exata” estando, portanto, atrelada às características pessoais de quem a exerce.
Os trabalhos de Coaching que realizamos há anos apoiando o desenvolvimento da carreira de centenas de profissionais comprovam que não basta aprender — em muitos casos há que se desaprender.
Não raro, é um árduo caminho de mudança comportamental. E esse caminho contém o que chamo de armadilhas comportamentais. São atitudes, posturas, formas de estabelecer relacionamentos, padrões de comportamento, enfim, que, praticados em maior ou menor intensidade e frequência, se revelam e são nocivos ao convívio organizacional.
O primeiro passo para desarmar essas armadilhas comportamentais é conhecê-las. São distorções crônicas, patológicas, muitas vezes inconscientes, mas que precisam ser banidas. Eis aqui um rol de dez delas:
Autoritarismo: constranger, coagir, intimidar ou até humilhar as pessoas;
Falsidade: fazer uso de mentiras, distorcer a verdade, omitir fatos e informações, inventar e fomentar em prejuízo de outro;
Ladroagem: apoderar-se indevidamente de recursos, ideias e trabalhos para benefício próprio;
Desrespeito: praticar gestos ríspidos, depreciar o próximo, não dar atenção devida, desconfiar por regra e sem motivo;
Arrogância: posicionar-se com soberba, com superioridade aos outros, deixar de controlar e passar a fiscalizar;
Descompromisso: não cumprir regras, não honrar pactos, violar a confiança, não dar feedback;
Covardia: culpar o outro, omitir para proteger-se;
Discriminação: ignorar a diversidade, não dar igualdade a todos, muito menos às minorias e aos menos favorecidos;
Desdém: não dar reconhecimento, minimizar os feitos do outro;
Discórdia: promover a intriga, a desarmonia, a desorientação.
Devemos reconhecer que não é tarefa fácil desarmar essas armadilhas, modificar comportamentos. Mas, e em maior medida, não podemos esquecer que é indispensável fazê-lo.
Menciono Drucker novamente e arrisco dizer que, se vivo, confirmaria a necessidade de aprimoramento contínuo da liderança, pois é dele também a lembrança de que “as únicas coisas que evoluem por vontade própria em uma organização são a desordem, o atrito e o mau desempenho”.