Rumos opostos

Às vésperas das eleições, diretores da AMB renunciam

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4 de junho de 2013, 20h07

Às vésperas das eleições para a direção da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), parte da atual diretoria renunciou a seus cargos e funções. Liderados pelo vice-presidente administrativo da associação, Marcos Daros, e pelo secretário-geral Nelson Missias de Morais, 22 magistrados, nesta tarde, se disseram insatisfeitos com os rumos que a entidade tomou durante a gestão atual, do presidente Henrique Nelson Calandra.

“Há algum tempo, o inconformismo dos signatários deste documento quanto aos rumos administrativos e políticos dessa prestigiada entidade tem sido manifestado, sem, contudo, encontrar o eco necessário. Assim, renunciam, coletivamente, dos cargos e funções que ocupam, de forma irrevogável e irretratável”, acentua o documento entregue ao presidente da AMB, Henrique Nelson Calandra.

Os diretores que se demitiram firmaram, junto a outras entidades de representação da magistratura, uma espécie de movimento de coalizão chamado Unidade e Valorização. De acordo com o líder da agremiação, que reúne 25 entidades ligadas à AMB, o juiz João Ricardo da Costa, o intuito é "recuperar a representatividade política da AMB". Costa provavelmente concorrerá ao cargo de Calandra nas próximas eleições.

De acordo com Nelson Missias, a frustração com o que chamou de desvirtuamento da missão da AMB é o principal causador da crise. “Faltou vontade política para a defesa do projeto original, com repercussão negativa para a administração da entidade. Na verdade, com a atual gestão, a entidade perdeu o rumo e a identidade. Vamos buscar um novo caminho em defesa de uma magistratura altiva, independente e respeitada pela sociedade.”

Missias nega uma possível candidatura para a presidência da AMB. A eleição para o triênio 2014/16 acontecerá em novembro, ainda sem chapas definidas, para substituir o desembargador Henrique Nelson Calandra, presidente até dezembro deste ano. A corrida, no entanto, já está acontecendo. O juiz Roberto Portugal Bacellar, que apoia a presidência atual da AMB, já se declarou candidato.

Candidatura frustrada
Nelson Clandra
não acredita nessa versão. Segundo explicou à ConJur, Missias queria ser o candidato a presidente da chapa da situação, apoiada por Calandra. Como não conseguiu, reuniu-se com seus apoiadores e renunciou a seu cargo. Calandra afirma que Missias e Daros, que capitanearam a dissidência, foram apoiar João Ricardo da Costa.

O vice-presidente da entidade, Marcos Daros, se disse decepcionado. Para ele, há falta de comando na entidade e à excessiva interferência de pessoas de fora da magistratura. Outra vice-presidente (de Interiorização), Maria Luíza Sant’ana, integra a lista de renúncia. “Deixaram de atender às reivindicações dos magistrados".

Um dos primeiros a renunciar foi o diretor-tesoureiro da AMB, Átila Naves. “Renunciei ao cargo em outubro do ano passado por discordar dos rumos da política financeira da entidade”, disse ele, que prenunciou o atual desfecho. Um mês depois, em novembro, seguiu caminho semelhante o diretor da Secretaria de Direitos e Prerrogativas e atual presidente da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro (Amaerj), Cláudio Dell’Orto. “Saí por conta das dificuldades na implementação de medidas em defesa dos direitos e das prerrogativas dos magistrados”, apontou Dell’Orto.

O diretor da Secretaria de Direitos Humanos da AMB, Gil Guerra, defendeu o revigoramento da entidade com propostas e ações que reflitam os anseios da classe. O vice-presidente da Escola Nacional da Magistratura (ENM), Marcelo Piragibe, reclamou da falta de cuidado com o projeto que pretendia resgatar a valorização da magistratura. “Vamos buscar a unidade e a valorização da magistratura por um caminho novo para um novo tempo”, disse.

O diretor da Associação dos Magistrados do Amazonas (Amazon), Flávio Pasquarelli, também apoia o movimento pela valorização da magistratura “de maneira ela possa ser ouvida pela sociedade e pelo poder público”. Ele adiantou que a diretoria eleita da Amazon também discorda dos rumos da atual gestão da AMB.

Apesar da manobra engendrada pelos colegas, Calandra parece tranquilo. Disse que não vê o episódio como uma "debandada". "Dois vice-diretores renunciaram a prosseguir na jornada conosco, mas eles já estavam afastados há algum tempo. Não pretendo perder a amizade e a admiração que tenho pelos meus colegas. Pretendo conduzir o processo sucessório da maneira democrática que venho fazendo."

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