Curva de profissionalização

Mercado jurídico cresce e pede por advogados gestores

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26 de agosto de 2013, 10h22

O Brasil gera cerca de 100 mil vagas de trabalho por mês. E cerca de 7% das vagas em aberto são direcionadas ao mercado jurídico, segundo a Santivo Consultoria, que contabilizou posições de advogado e de cargos destinados a bacharéis sem inscrição na OAB. No outro extremo, até 2014, o número de advogados com OAB será de 1 milhão, sem contar os bacharéis, cujo número é muito maior. O funil é a prova de que o mercado jurídico brasileiro passa por uma intensa profissionalização.

A grande procura por profissionais qualificados e talentosos força as bancas a oferecer melhores salários e pacotes de benefício para atrair o interesse dos candidatos. Pesquisa do Fórum de Departamentos Jurídicos aponta que o que mais desestimula os profissionais de escritórios e departamentos é a falta de atrativos na remuneração e nos benefícios.

A advogada Marcia Bicudo, especialista em Direito Empresarial da Mobidomo Consultoria, afirma que há mercado para todos esses profissionais. “A área do Direito é uma das que oferecem maiores oportunidades de carreira, ainda que não seja diretamente ligada à técnica jurídica”, diz.

Nesse cenário, as áreas mais demandadas são Societário, Tributário, Compliance, Imobiliário, Infraestrutura, Mercado de Capitais e Trabalhista.

Gestão legal
Mas o cenário promissor esbarra na falta de profissionalização da gestão das bancas. Segundo Márcia, conceitos simples de planejamento, orçamento, fluxo de caixa e fundo de reserva são desconhecidos para a grande maioria dos profissionais recém-formados e que não possuem uma experiência corporativa. O fato é comprovado pela presidente da Comissão de Advogados de São Paulo, Clemencia Wolthers, que afirma que muitos advogados recém-formados tentam formar sociedades, mas nem sempre conseguem mantê-las por imaturidade. Segundo ela, em média, 60 sociedades são constituídas por mês em São Paulo.

Desmistificar e adaptar os conceitos da gestão legal como estratégia de valor é o desafio de mudança desse modelo. “Não basta só conhecer profundamente a operação, a cultura e o planejamento do cliente. Esse conhecimento deve gerar informação relevante a ser tratada não só de forma qualitativa, mas também quantitativa e plenamente mensurável”, afirma Márcia.

Segundo ela, para o cliente é mais importante gerenciar e medir diariamente os riscos da sua atividade para controlar o impacto nos seus resultados e na sua imagem do que o trabalho técnico visando ganhar causas. Os clientes querem, ela afirma, que os sócios dos escritórios tornem-se empreendedores da advocacia e sejam hábeis nos aspectos gerenciais, já que o escritório é uma organização empreendedora como qualquer outra. 

Por isso, é importante a participação de gestores, que atuam de foram estratégica e dirigida aos resultados da organização. A atuação desses gestores é mais agressiva e direcionada a um foco planejado e diretamente ligada à conquista de resultados fora do ambiente corporativo interno. As estratégias gerenciais diminuem preocupações objetivas (tempo, dinheiro e desvio de foco) e subjetivas (imagem, perda de mercado) que atrapalham a execução dos trabalhos contratados.

Márcia reforça a necessidade de o advogado estar preparado e orientado fora do aspecto técnico. "O advogado precisa de toda uma estrutura de conhecimento adaptada à realidade jurídica para que possa separar do dia a dia a atividade puramente técnica e uma atividade de gestão de negócios, já que o advogado é, antes de mais nada, um empresário."

Os departamentos jurídicos são um exemplo. Eles têm diminuído de tamanho e terceirizado o trabalho técnico, tornando seus advogados internos mais conhecedores do negócio da empresa. O administrador jurídico Rogério Antônio Rafael entende que a terceirização ocorre pela necessidade de destacar as funções que demandam conhecimento técnico das mais administrativas. "A segmentação das funções jurídicas e não jurídicas de um escritório permite que o gestor jurídico tenha uma visão mais ampla do negócio e consiga manter a qualidade técnica na elaboração dos processos", explica.

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