História rentável

Juiz dos EUA aumenta fiança para proteger réu

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17 de abril de 2013, 11h36

Um juiz do Condado de Kennebec, no estado de Maine, aumentou a fiança de um réu de US$ 5 mil para US$ 25 mil "para protegê-lo". Em determinado momento, chegou a aumentar para US$ 250 mil, para desestimular centenas de ofertas para pagar a fiança, vindas de diversos pontos do país. O juiz concluiu que havia muitos interessados em "explorar" o caso.

O motivo é simples. O réu diz que está bem na prisão. Tudo o que precisa é de uma cela só para ele, com características de solitária.

Um nova-iorquino, por exemplo, viajou para o Maine para pagar a fiança fixada inicialmente em US$ 5 mil. Sua proposta não foi aceita pelo réu. Os telefones da cadeia de Kennebec não param de tocar, tantos são os interessados em libertar o réu, que aguarda o julgamento. Todas são recusadas, com aconselhamento de membros do Judiciário local.

Uma proposta de casamento, de uma mulher da Califórnia, também chegou a sua cela na prisão. E também foi rejeitada, porque o réu prefere ficar sozinho. "Ele recusa tudo com muita humildade e um sorriso tímido", disse aos jornais a encarregada de fianças do condado, Diane Perkins-Vance. O Kennebec Journal, a National Public Radio e diversas publicações cobrem a história com muito interesse.

O réu tem uma história fascinante, que mexe com o imaginário popular. Um bom advogado criminalista — um que seja um bom contador de histórias — não terá dificuldades em comover o júri. Essa é, provavelmente, a razão por que tanta gente está interessada em pagar a fiança, imagina o juiz de Maine.

Além disso, há outra razão para o tribunal evitar o pagamento da fiança: o réu pode desaparecer. Ele já fez isso antes. Tinha apenas 19 anos quando foi viver "no mato". Reapareceu agora, com 47, quando foi preso por pequenos furtos.

Maine Dept. of Public Safety
Christopher Knight, 'o ermitão do North Pond' - 17/04/13 [Maine Dept. of Public Safety]Christopher Knight (foto), "o ermitão do North Pond" vive ao lado de um lago, uma área selvagem de Maine, o estado mais ao norte do Nordeste dos EUA, há 27 anos. Em todos esse tempo, só trocou uma palavra com uma pessoa, na década de 1960. E foi só uma palavra. Ele cruzou com alguém em seu caminho, que o cumprimentou com um "hello". Ele respondeu "hello".

Sem as habilidades dos sobreviventes da selva, Knight deve muito de sua sobrevivência a furtos de comida e de utensílios de cozinha. Ele invade casas de campo para buscar o que precisa. Jamais pega dinheiro. Vez ou outra furta coisas curiosas, como um jogo da Nintendo ou joias, que não têm utilidade alguma para ele, mas servem para enfeitar sua tenda.

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Acampamento de Christopher Knight, 'o ermitão do North Pond' - 17/04/13 [Maine Dept. of Public Safety]

Alguns donos de casas de campos já estão habituados com os furtos. Deixam alimentos e outras coisas que possam ser úteis na varanda da casa, para que ele não quebre nada. Na lista de consumo estão pilhas de rádio. Em sua improvisada tenda de lona, amarrada nas árvores, ele gosta de ouvir programas de conversas com ouvintes (talk show) e estações que tocam rock-and-roll.

A necessidade do ermitão que possivelmente gerou a reclamação à Polícia foi a de furtar botijões de gás. O denunciante — a vítima favorita de Knight — era o acampamento Pine Tree Camp. O guarda do acampamento, o sargento Terry Hughes, tentou, durante anos, pegá-lo em flagrante — sem sucesso, porque Knight aperfeiçoou suas habilidades de "ladrão de galinha" com o passar do tempo.

Finalmente, Hughes conseguiu pegá-lo, depois de armar um sistema de alarmes de segurança, de cuja existência o ladrão sequer suspeitava. Knight estava saindo do acampamento com uma sacola cheia de alimentos. Pior: levava todas as pastas de amendoim que encontrava e não deixava nada para o sargento, que tinha de se contentar com as latas de atum, que o ermitão não apreciava.

Knight não reagiu à voz de prisão, não tentou fugir, não reclamou. Explicou às autoridades do condado, mais tarde, que durante o inverno, com temperatura abaixo de zero e muita neve, não conseguia acender fogo com lenha. Precisava dos botijões de gás para enfrentar o inverno demorado.

Por causa do frio, ele também furtava sacos de dormir, nos quais se enrolava para se aquecer. "Nós éramos o Walmart dele", afirmou o gerente do acampamento Harvey Chesley. "E não aguentávamos mais encomendar botijões de gás. Fiz um levantamento hoje de manhã e estavam faltando dois botijões", disse aos jornais.

Uma surpresa para os policiais, ao encontrar Knight, foi sua aparência. Ele não correspondia à imagem do ermitão com barbas e cabelos longos. Ao contrário, estava bem barbeado e com cabelos curtos, usando óculos de aviador — os mesmos que usava nos anos 1980.

Agora preso, Knight ainda não tem um advogado. Mas o tribunal não terá dificuldades em conseguir um que faça sua defesa pro bono.

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