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A comunicação para a gestão e retenção de talentos

Autor

  • Carlos Alberto Bitinas

    é consultor da VOC Gestão e Desenvolvimento de Pessoas palestrante e professor especializado em gestão de pessoas e desenvolvimento organizacional. Graduado em Administração de Empresas e Economia pela Faap Coach Executivo & Pessoal certificado pelo ICI - Integrated Coaching Institute pós-graduado em Gestão Estratégica e Total Quality Management pela FGV-SP e Comunicação Empresarial pela ESPM; foi Executivo em empresas nacionais e multinacionais e professor convidado em cursos de pós-graduação da FGV/GVlaw-SP UNISINOS-RS e IICS/CEU-SP além de vice-presidente do CeaEAE – Centro de Estudos de Administração de Escritórios de Advocacia.

28 de setembro de 2012, 13h50

Spacca
Administrador, historiador, escritor, naturalista e oficial romano, Plínio, O Velho, que viveu no primeiro século da era cristã, observou que “O homem é o único animal que não aprende nada sem ser ensinado; não sabe falar, nem caminhar, nem comer, enfim, não sabe fazer nada no estado natural, a não ser chorar”.

Irônico, pois, de certa forma, podemos dizer que o choro demonstra a nossa primal competência — a de se comunicar, antes de todas as outras. No passar da vida vamos aprendendo a nos comunicar e a fazer uso da comunicação como elemento essencial para sermos o que somos, para entender o mundo e obter dele o que queremos obter.

É uma competência inata, que por ser complexa nos distingue dos demais habitantes deste planeta. Mas cabe a pergunta: Comunicamo-nos de maneira correta e eficiente? E mais, realmente aprendemos a nos comunicar de forma minimamente estruturada para lidar com as demandas que nos cercam?

Cada um vai se comunicando à sua própria forma, com seu estilo. Até aí, tudo bem, mas quando transpassamos esta questão para o ambiente organizacional, a boa comunicação ganha uma importância enorme, pois ela é um elemento-chave para gerir pessoas, gerar produtividade, resultados, realização pessoal.

Comunicar-se apenas “do seu jeito” pode não ser suficiente — e em geral não é — para fazer as coisas funcionarem, para lidar com as pessoas, para gerir os recursos humanos em toda a sua complexidade e reter os talentos profissionais.

Todos se preocupam em reter talentos e muito se faz em termos de gestão de pessoas, hunting profissionalizado, treinamentos, coaching, avaliação de desempenho, alinhamento de equipes, planejamento de carreira, remuneração por resultados, etc., mas percebo que, não raro, um item foge a atenção do gestor, por melhor que este seja preparado.

Estou falando da comunicação interna, da comunicação da empresa com os seus profissionais, sejam eles de que nível for.

A comunicação é um sistema de gestão que muitas vezes é executado de maneira meio empírica, bem ao estilo “eu faço da minha maneira”, ou “assim eu acho que está bom”.

Há grande possibilidade de aí residir a causa dos obstáculos que os gestores (os quais tem grande responsabilidade nesta estória) têm para alcançar melhores níveis de excelência. Obstáculos estes que poderiam não existir, uma vez que o homem é um ser caracterizado pela capacidade inata de comunicação — é uma das primeiras coisas que fazemos, lembra-se? — logo ao nascer.

Podemos fazer uma analogia. Não é nova, mas acho que é válida para falarmos da comunicação com o público interno.

Imagine a organização como um corpo humano o qual, aliás, possui cerca de 100 trilhões de células. Na empresa, as células são os funcionários. O corpo humano funciona, normalmente, com perfeição e harmonia incríveis. Todas as células sabem exatamente qual é o seu papel dentro do conjunto, sabem o que fazer para que o corpo permaneça bem, em qualquer circunstância.

E olhe que são “zilhões” de situações às quais o corpo é obrigado a se adaptar ou reagir a cada momento — mudanças de ritmo, de temperatura, agressões naturais ou não, estresse, felicidade, excitação, tristeza, amor, ódio e por aí afora.

Como conseguem essas células se comportar com a rapidez e precisão necessárias para que o corpo, que nada mais é do que o conjunto das células, reaja de maneira adequada às suas necessidades ou às condições do ambiente?

Como essas células ficam sabendo sobre suas necessidades e condições?

É evidente que as células recebem informações, que elas são comunicadas sobre o que precisam saber e fazer, conforme suas funções. Algo semelhante funciona dentro de sua empresa, ou departamento?

Podemos dizer que no corpo humano existe um impressionante sistema de comunicação interna. A velocidade, a precisão e eficácia desse sistema são tais que ele funciona sem que a nossa consciência atue voluntariamente. Quer mais? As células dão feedback imediato ao corpo sobre como elas reagiram à comunicação que receberam, provocando outras comunicações internas, outras ações, outras reações sincronizadas.

Todos têm um eficientíssimo sistema de comunicação dentro de si! Então, porque não praticá-lo “fora de nós”?

Agora vamos transpor este quadro à empresa, à organização. As empresas têm dezenas, centenas ou milhares de profissionais, como se fossem as células de um corpo. É incumbência dos gestores manter um sistema de comunicação eficaz com seu público interno, seus talentos, para que as empresas sejam permanentemente saudáveis, ágeis, competitivas.

Esse público interno é que faz as coisas se realizarem dentro da empresa. Ele é o agente das mudanças — se não estiver bem informado, não poderá desempenhar bem o seu papel dentro do conjunto, que é a organização. Se assim o for, em algum momento, o público externo vai perceber facilmente que a organização está como um corpo que padece de algum mal. Provavelmente não vai enxergar qual é a célula-problema (ou o órgão-setor problema), mas vai identificar uma empresa doente e, como todo doente, dono de uma imagem nada atraente.

Por isso, gestores, atenção com a comunicação com o público interno! Ela deve ser precisa, ágil, clara e feita sob medida, pois nem sempre o estagiário fala a mesma linguagem do gestor, que não se comunica da mesma forma que o sócio.

Toda empresa necessita formar um ambiente de comunicação sadio e, para isso, os dirigentes devem ser conscientizados e treinados e os recursos de comunicação — audiovisuais, orais, eletrônicos, impressos, coletivos ou individuais — usados de forma integrada, constante e planejada.

Os profissionais que são responsáveis pela comunicação interna de uma empresa — e, atenção, todos o são — precisam enxergar que existem profissionais e conjuntos de profissionais que, de acordo com sua cultura, nível de instrução, história na empresa, nível hierárquico e outras variáveis, vão assimilar as informações de maneira diferente. Não ver isso é provocar frases, constantes nas empresas, como: “Eles não entendem o que falamos”; “Ninguém me disse”; “Não pensei que seria assim.”

Nessa situação, os clientes, os sócios, os parceiros, os fornecedores, enfim, a comunidade de negócios reconhecerá uma empresa que não alcança boa performance, que não retém talentos, que padece de grave mal. E contra este mal só há um remédio: Uma excelente prática de comunicação com o público interno, que deve ser aplicada na dose certa, mas com rapidez, pois este mal pode já estar matando a empresa, sem que ela perceba.

Se puder fazer uma recomendação ao leitor, e sinto-me no dever de fazê-lo, atente-se seriamente ao assunto. No próximo artigo de Gestão de Pessoas vamos abordar alguns fundamentos essenciais para lidar com a Comunicação.

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