Segunda Leitura

O papel dos pais de adolescentes estudantes de Direito

Autor

  • Vladimir Passos de Freitas

    é professor de Direito no PPGD (mestrado/doutorado) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná pós-doutor pela FSP/USP mestre e doutor em Direito pela UFPR desembargador federal aposentado ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Foi secretário Nacional de Justiça promotor de Justiça em SP e PR e presidente da International Association for Courts Administration (Iaca) da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e do Instituto Brasileiro de Administração do Sistema Judiciário (Ibrajus).

16 de setembro de 2012, 8h00

Spacca
Os estudantes de Direito são em número cada vez maior. São cerca de 1.200 Faculdades de Direito espalhadas pelo território nacional, gerando milhares de bacharéis a cada semestre. Eles não são iguais. Há os mais maduros, que procuram a faculdade como meio de progressão em suas carreiras ou um reforço cultural. E há os jovens, em plena adolescência, que ingressam em um curso que se pauta pelo formalismo.

Estes jovens, nascidos ao redor de 1990 e 1995, possuem características muito diversas das gerações anteriores. Acostumados aos aparelhos eletrônicos, regra geral não receberam transmissão oral de cultura, porque seus pais se achavam empenhados na atividade profissional, muitos tiveram os dias livres, deles podendo fazer o que quisessem, poucos foram criados em regime de disciplina. Esta educação básica, por certo, conduz as suas vidas de estudantes de Direito e exercerá influência sobre seus destinos profissionais.

Amy Chua, nascida na China e professora de Direito na conceituada Universidade de Yale, no livro Grito de Guerra da Mãe Tigre faz severa crítica à educação nos Estados Unidos, e afirma que por isso “esse país vai acabar indo ladeira a baixo” (Ed. Intrínsica, 2011, p. 229). Essa crítica, que se aplica, em parte, ao Brasil é uma leitura importante, porque leva a um contraponto com a excessiva tolerância dos pais no Brasil.

Educar é orientar, corrigir, dar o caminho a ser seguido. O rigor pode significar o verdadeiro amor, porque omitir-se é sempre mais fácil. Quando o adolescente ingressa na Faculdade de Direito, tudo o que foi ou não foi feito repercutirá no curso e na futura vida profissional.

Os pais em muito ajudarão, ao exigir que o filho escolha a melhor Faculdade de Direito. Alguns se contentam com qualquer uma e esperam que, nos cinco anos seguintes, um milagre ocorra e o filho se torne um excelente aluno. Melhor será perder um ano preparando-se para uma boa faculdade do que entrar naquela em que os professores são menos titulados e os alunos são fracos. Nivelar por baixo significa piores estágios, menores ambições, sucesso mais distante.

Iniciado o curso, será sempre importante acompanhar como vão as aulas. Perguntar, interessar-se, pedir opinião sobre temas mais corriqueiros. Orientar o filho para o esforço, para a conquista. O respeito aos professores deve ser estimulado. Há no Brasil uma absoluta quebra do respeito à autoridade e os professores são os que mais sofrem com isto, em todos os níveis. Respeitar os professores, aproximar-se dos mais destacados, é um ótimo caminho no crescimento pessoal e profissional.

Passado um ano, já é possível fazer-se uma avaliação do potencial do filho. É ingenuidade pensar que todos são iguais. Uns são talentosos, outros não. Uns são esforçados, outros acomodados. Uns gostam do curso, outros detestam.

Se o caso for de inaptidão para o Direito, é preciso ver se ela é irreversível ou se é apenas consequência de um momento na vida do estudante. Se for incidental, deve ser estimulada a conclusão do curso, pois o Direito é útil à pessoa em todas as circunstâncias. No entanto, se a situação for de absoluta inadequação, o abandono deve ser permitido, mas desde que o jovem se comprometa a escolher outro curso e levá-lo até o fim com seriedade. Caso contrário, poderá surgir situação que todos conhecemos, daqueles que vão do Direito a Recursos Humanos, passando por outras faculdades e chegando aos 40 anos sem saber o que querem.

Durante o curso é preciso mostrar que o sucesso profissional exige esforço. Os filhos mais mimados tendem a lastimar-se disto ou daquilo, procurando afago. Demonstrar dó, solidarizar-se com queixas (p. ex., de que o estágio exige muito esforço com idas e vindas a cidades próximas, de ônibus) significa criar um acomodado, sem forças para lutar pela vida.

Mostrar claramente, com poucas e diretas palavras, que a vida sempre apresenta dois caminhos, o do bem e o do mal, pode ajudar muito. Lembro-me de um grande magistrado da região nordeste do Brasil que, contando-me sua vida, disse-me que ao mudar-se para a capital para cursar Direito foi levado por seu pai a livrarias e clubes esportivos e depois ao bairro em que ficavam bares de sinuca mal frequentados, ocasião em que dele ouviu: “Meu filho, a escolha é sua, dela dependerá sua felicidade.”

Nos estágios, os pais devem saber qual o conceito, a conduta ética do escritório. Se o local não for recomendado, devem exigir a saída. O aprendizado ruim influenciará o jovem na sua conduta futura. Sem contar que, não raramente, poderá envolver-se em uma acusação de prática irregular ou até criminosa.

Os colegas do filho são muito importantes. Por vezes são mais ouvidos do que os próprios pais. Por isso, amigos revoltados, desinteressados, devem ser afastados, sutil ou abruptamente. Não podem ser tolerados, porque influenciarão negativamente seu filho.

Incentivar a participação em atividades escolares ou extracurriculares também é relevante. Participar de projetos sociais da Universidade pode ser o melhor caminho para o amadurecimento. O sofrimento próprio ou a visão do sofrimento alheio dão uma noção menos romântica da realidade.

Não é raro às gerações atuais desanimar diante das dificuldades da vida. Ao menor desapontamento, ameaçam largar tudo, alardeando não haver Justiça no Brasil ou coisas semelhantes. Cabe aos pais mostrar que se largarem tudo e ficarem a lamentar-se, nada mudará e que, portanto, o caminho certo é direcionar o inconformismo para a busca de uma posição em que possam diminuir a injustiça que os incomoda.

No oitavo período, é bom começar a induzir a escolha de uma profissão. Atualmente, qualquer que seja a carreira escolhida, a disputa é renhida. Quem sabe o que quer e para isto se prepara, tem mais chances de sucesso. Ajudar é dever dos pais. Mas, tudo deve ser feito à base de compromissos e de respostas. Se os pais pagam o curso preparatório para o exame da OAB, devem exigir algo em troca. Por exemplo, que haja dedicação mínima de certo número de horas de estudo em casa.

Depois de formados, o drama não se acaba. Os pais ficam felizes quando a opção é um concurso público. Isto lhes dá segurança, a aprovação dá o sentimento de missão cumprida. Mas o caminho é longo. São anos a preparar-se. Os pais devem estar cientes disto, estimulando, passando segurança, sugerindo medidas (v.g., curso de oratória aos mais tímidos), dando, enfim, o apoio, inclusive financeiro, com o compromisso do resgate no caso de sucesso.

Em suma, pais têm um papel relevante no encaminhamento dos jovens estudantes de Direito. Lutar para que eles encontrem seu caminho é um ato de amor. Nesta busca não há regras que garantam de forma absoluta o sucesso e a felicidade dos filhos. Mas uma delas não cria dúvida alguma: a omissão é a pior posição de quem ama os seus filhos e quer vê-los realizados.

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