Pai do Cesa

Advogados lamentam a morte de Orlando Di Giacomo

Autor

12 de setembro de 2012, 12h15

Morreu na terça-feira (11/9), aos 72 anos, o advogado Orlando Di Giacomo Filho, fundador e primeiro presidente do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados, o Cesa. Estava internado desde o fim de agosto, por causa de um câncer no pulmão contra o qual lutava há três anos.

Giacomo construiu uma carreira de sucesso como um artista modela uma obra de arte. No caso dele, uma obra prima. Além da militância de quase 50 anos, a maior parte deles no Demarest & Almeida Advogados, ocupou inúmeros cargos de liderança na seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil.

Além de fundador, foi o idealizador do Cesa, instituição que, para ele, seria uma “congregadora” de todos os grandes escritórios de advocacia do país. Esta semana Giacomo receberia, do Cesa, uma placa de homenagem com a “certidão de nascimento”, que entregava a todos os novos sócios do grupo.

Para Clemência Gabriela Wolthers, ex-sócia do Pinheiro Neto e presidente do Cesa durante quatro mandatos, Giacomo criou a essência do que hoje é prática comum entre as bancas: a troca de ideias e a busca de soluções operacionais boas para todos. Carlos Mateucci, atual presidente do Cesa, tem Giacomo como “referência”, “um lorde em nossa comunidade”.

No velório do advogados, ao qual compareceu um número enorme de advogados, juízes e autoridades, alguns dos depoimentos abaixo foram dados entre lágrimas tristes e sorrisos com as lembranças que o profissional deixou entre seus fidelíssimos amigos que o acompanharam até o último momento.

Leia os depoimentos sobre Orlando Di Giacomo:

Clemência Gabriela Wolthers, ex-sócia do Pinheiro Neto e presidente do Cesa durante quatro mandatos: Giacomo foi o idealizador do Cesa, trinta anos atrás. Ele imaginou a entidade como uma congregadora dos “grandes” escritórios — que na época não eram grandes coisa nenhuma — para trocar ideias e experiências. As sociedades começavam a ganhar alguma musculatura e veio a necessidade de encontrar soluções operacionais que afligiam a todos. Não era fácil encontrar respostas em plena era da reserva de mercado na informática, quando sequer se poderia pensar em ter um computador.

Ajudar-nos uns aos outros era o único jeito de sair do lugar. Era essa a filosofia e a razão de existir do Cesa, o que se mantém até hoje. Os escritórios concorrem pra valer pelo mercado, mas dentro do Cesa trocam ideias como se fossem parceiros. Essa é a essência: identificar os interesses comuns, olhando para dentro, não para fora. 

Fui a terceira presidente do Cesa numa época em que tínhamos de fazer rodízio na direção — não havia disputa. Tinha de aceitar o cargo na marra. A OAB, nessa época, concentrava sua ação na pessoa física do advogado. Era preciso regulamentar a vida das sociedades, as regras trabalhistas, os registros dos escritórios. Nem sempre foi fácil, mas hoje as duas entidades trabalham juntas. 

Essa preocupação foi incorporada por todos os escritórios que investem na formação do estagiário, incutindo sempre o espírito de equipe, trabalhando para que a sociedade se converta em uma somatória de talentos, em que um complementa o outro. Cabe a nós continuar esse trabalho.

Moira Virgínia Huggard-Caine, diretora financeira e administrativa do Cesa: Ele trabalhava o futuro. Tinha especial dedicação ao jovem advogado, a quem sempre incentivou. Queria fórmulas que facilitassem o ingresso na profissão e impulsionassem os talentos.

Giacomo costumava desenhar as etapas da advocacia, começando com o “escritório do eu sozinho”, o advogado que carrega o escritório na pasta. O segundo nível é o da junção de interesses sem formalizar sociedade, os advogados que racham as despesas, mas não compartilham a clientela, até chegar à sociedade de advogados como a forma mais moderna de interagir e crescer.

Carlos Mateucci, presidente do Cesa: Orlando Giacomo é uma referência. Um lorde em nossa comunidade. Era quem aglutinava. Trazia todos para o projeto, estimulava, incentivava. Representava uma advocacia leal, urbana, entre amigos. Foi esse espírito que ele instalou no Cesa e que persiste até hoje.  

O seu carinho pelo Cesa era inesgotável. A ponto de ele dizer que o Centro de Estudos era o filho almejado que ele nunca teve. Daí o clima familiar da entidade. Jamais se soube de um comentário negativo de sua parte contra quem quer que seja. Por isso pode-se dizer que ele deu alma ao Cesa. O espírito de harmonia, em que as pessoas convivem, gostam da convivência e constroem juntos, foi a herança que ele nos deixou.

José Luís Salles Freire, sócio do Tozzini Freire, ex-presidente do Cesa: Conheci o Orlando Giacomo junto com outros amigos. O Silas Tozzini foi estagiário do Orlando e eu tinha um grande amigo que era cunhado do Altamiro Bôscoli. Foi amizade instantânea.

Antes da criação do Cesa existia um almoço de fim de ano entre advogados dos diferentes escritórios. Acho que foi em uma festa na casa de uma amiga que o Orlando falou a primeira vez da ideia de criar o Cesa. Lembro que a nossa primeira reunião foi na OAB, para discutir um tema fiscal, uma questão tributária sobre sociedades de advogados. 

A partir daí as reuniões passaram a acontecer na sede do Demarest. Com a expansão do grupo, a OAB cedeu-nos um espaço que ocupamos por um bom tempo. Só depois passamos a fazer as reuniões no Club Nacional. Fomos nômades por uma época. Até no clube Homs da Paulista nos reunimos. Hoje nos encontramos em salas alugadas do Hotel Renaissance. 

Acho que a única pessoa capaz de viabilizar a ideia do Orlando era o próprio Orlando. Era amigo de todo mundo, unanimidade legítima. Apoiei desde o início a ideia, mas quem podia implementar o plano era o Orlando. 

Jovem, ainda estudante, atuava como escrevente de audiência no TJ. Datilógrafo exímio, deu os primeiros passos no Judiciário até ser recrutado pelo Demarest & Almeida, onde se dedicou ao contencioso.  

Nossa convivência foi favorecida também pelo fato de o Demarest e o Tozzini Freire terem ocupado o mesmo prédio, o Conde Prates, que fica na Praça Patriarca, em frente ao edifício do antigo Banespa. Dali o Demarest deslocou-se para a Alameda Campinas até mudar-se mais tarde para o bairro de Pinheiros. Ele era um irmão para mim. 

Toda sociedade de advogados se ressente da falta de uma pessoa com habilidade para administrar os bons e os maus humores inevitáveis no trabalho. Ele, como unanimidade, fez bem esse papel. Uma perda. Um golpe como esse não dá para disfarçar.

Altamiro Bôscoli, sócio do Demarest & Almeida: O Cesa surgiu dentro da noção de que havia pressões jurídicas e tributárias afetando os escritórios e seria necessário unir esforços para enfrentar o problema. Ou seja, um centro que tratasse dos interesses das sociedades de advogados.

Nasceu então o Cesa, para agregar, com a liderança do Orlando Giacomo. Uma liderança fundamental por sua característica de aglutinador. Afinal, era necessário reunir concorrentes, algo aparentemente paradoxal. Hoje o Cesa é uma entidade de prestígio e relevância, até internacional, mas nasceu de uma ideia. Uma ideia do Orlando. 

Como advogado, ele teve dois papéis. Um no contencioso, onde ele atuava com dedicação absoluta aos clientes e às causas. Outro na administração da equipe, como aglutinador, uma espécie de cola que unia sócios e advogados. Dele se pode dizer que é verdadeiramente uma perda irreparável, um gigante inesquecível na memória de todos nós, advogados brasileiros, em que deixará um vazio muito grande.

Rogério Lessa, ex-sócio Demarest & Almeida: Convivi durante 42 anos, diariamente, com Orlando Giacomo e posso garantir: ele era uma unanimidade. Nunca tivemos um problema sequer. Vivemos juntos os anos gloriosos do Demarest & Almeida e posso testemunhar da sua integridade. 

Ele construiu uma vida bonita. Fez o bem e teve o bem. Fez por merecer e teve uma existência confortável. Conheceu o mundo. Dedicou-se às artes, à música. Fez milhares de amigos. Ajudou pessoas. Deu-se aos amigos de quem se tornava um irmão. No meu caso, mais que irmão. Ele era um professor de companheirismo. 

Teve um final digno. Eu segurava na sua mão quando ele se foi sem um espasmo sequer, às 18h40 desta terça-feira. Eu me orgulho muito de ter vivido ao lado desse homem honesto, íntegro, que nunca teve uma mancha em seu caráter — uma pessoa que se sentia bem fazendo o bem para outros. Por isso tornou-se uma unanimidade. 

Nos seus últimos dias ele recebeu a visita dos amigos que lhe foram levar carinho e respeito. Fará falta em casa, no escritório, no Cesa, na OAB, em todos os lugares por onde passou. Era uma pessoa que recebia e retribuía. Sua falta é uma tristeza insuportável, mas atenuada pela alegria de ter desfrutado de convívio com pessoa tão querida.

Antonio Corrêa Meyer, sócio do Machado, Meyer, Sendacz e Opice: O Orlando deixou carinho e amor por onde andou. Sempre gentil, amável e solidário. Foi um Lorde, um Mestre,um advogado exemplar, um amigo para todas as horas, um grande companheiro, desses que farão muita falta entre nós. Dedicado à profissão e sempre muito preocupado em valorizar a advocacia. Espero que o seu exemplo seja seguido por muitos advogados da nova geração.

Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente licenciado da OAB São Paulo: Foi um diplomata na vida e na profissão. Era a ele a quem eu recorria quando era preciso conciliar pessoas e interesses aparentemente inconciliáveis. Perder uma pessoa preciosa que tinha o dom de melhorar outras pessoas é doloroso.

Alberto Zacharias Toron, advogado criminalista: Orlando Di Giacomo era um gentleman. Elegante, atencioso, bem humorado e muito competente. Deixará muitas saudades entre todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele. Afora tudo, como um dos fundadores do CESA, deixa sua marca como liderança nos rumos da nossa classe. Certamente descansa entre os justos!

Eduardo Boccuzzi, especialista em Direito Empresarial: Giacomo foi tão importante na história dos escritórios de advocacia brasileiros quanto seu amigo Pinheiro Neto. À frente do Demarest e Almeida por 47 anos, ajudou a profissionalizar a advocacia nacional, transformando o Demarest em um centro de excelência na prestação de serviços jurídicos e em paradigma a ser seguido pelos demais escritórios”. Além das habilidades profissionais, Boccuzzi ressalta que o advogado “sempre se destacou pela urbanidade com que sempre tratou seus colegas de profissão

Ivo Aidar, do AidarSBZ: Além das perdas que serão lamentadas pelas pessoas que o conheceram, é a própria advocacia que perde uma de suas grandes bandeiras.

Marcos da Costa, presidente em exercício da OAB São Paulo: A Advocacia está enlutada, perde um pioneiro, que ajudou a escrever a história contemporânea das sociedades de advogados no Brasil e preparou gerações de profissionais para os desafios do futuro.

Carlos José Santos da Silva, o Cajé: Giacomo foi um ícone da advocacia brasileira. Sua elegância e doçura marcaram a vida de todos que tiveram a bênção de conviver ao seu lado. A história das sociedades de advogados no Brasil tem nome e sobrenome: Orlando Di Giacomo.

Paulo Rocha, sócio e membro do conselho do Demarest & Almeida: Giacomo sintetizava a essência da cultura do Demarest: integridade, caráter e uma profunda preocupação com todos os integrantes do escritório. Tudo isto com uma elegância ímpar e reconhecimento de todo o meio jurídico.

Marcelo Knopflemacher, presidente do Movimento de Defesa da Advocacia (MDA):O Movimento de Defesa da Advocacia manifesta sua profunda tristeza pelo falecimento do Dr. Orlando Di Giacomo Filho, advogado que durante anos esteve à frente das mais variadas e diversas batalhas em defesa da nossa classe, idealizando, apenas para exemplificar uma das suas inúmeras contribuições, o Cesa. A sua falta, não só nos encontros de final de ano do Cesa, certamente será sentida por toda a comunidade jurídica.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!