Advogados no poder

Sócios da WilmerHale são os favoritos do governo Obama

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12 de outubro de 2012, 7h15

É notória a presença de juristas vindos do mundo acadêmico e de advogados de algumas da principais bancas do país no alto escalão do governo federal nos Estados Unidos. O próprio presidente dos EUA Barack Obama é advogado, formado em Harvard em 1991. Foi ainda o primeiro afro-americano a dirigir a Harvard Law Review, conceituado journal acadêmico da área do Direito no país. Antes de ingressar na política, Barack Obama foi advogado associado de duas bancas de Chicago, a Sidley Austin e a Hopkins & Sutter. A primeira é uma das dez maiores do país, fundada em 1886 e em atividade até hoje. A segunda funcionou entre 1921 e 2000, quando foi incorporada pela Foley & Lardner, de Milwaukee, Wisconsin.

Uma banca, contudo, mais do que qualquer outra, tem se destacado ao preencher as fileiras da atual administração. No que toca a indicação de nomes a cargos no alto escalão da Administração Pública federal, o chefe do executivo e aqueles logo abaixo na hierarquia de comando recorrem com frequência a sócios da mesma firma, a Wilmer Cutler Pickering Hale and Dorr, conhecida por um nome mais curto, WilmerHale. O escritório foi fundado em 2004, da fusão entre a Hale and Dorr, de Boston, e a Wilmer Cutler & Pickering, de Washington D. C..

Desde 2009, vinte sócios deixaram a banca para ocupar posições no alto escalão do governo federal. Do Departamento do Tesouro à CIA, a agência de inteligência americana. A “coincidência” foi trazida à publico essa semana nos Estados Unidos e ganhou reportagem no portal do semanário The National Law Journal, que enumerou os escolhidos do alto escalão, oriundos da WilmerHale.

Alguns dos indicados já deixaram o governo e voltaram à advocacia ou mesmo à antiga banca, mas alguns dos ex-sócios ainda ocupam altos postos do governo federal. Entre eles, ninguém menos do que o procurador da República para o Distrito de Columbia, Ronald Machen Jr; o vice-secretário do Tesouro, Neal Wolin; o conselheiro-chefe da Receita Federal, William Wilkins, e a presidente da Comissão de Segurança do Mercado Financeiro, Meredith Cross, todos ainda estão no governo e vieram da WilmerHale.

Mesmo reconhecendo que as grandes bancas da capital têm com frequência  ex-sócios atuando na administração federal – o procurador-geral do EUA, Eric Holder Jr. era sócio da Covington & Burling por exemplo – ainda assim o caso da WilmerHale é considerado singular pela quantidade de advogados que deixam o escritório para atuar no governo.

Um dos sócios-gerentes da banca, Robert Novick, aponta como motivo pela preferência a prática consolidada da firma na área pública. Essa seria  uma das razões, acima até mesmo de questões partidárias, segundo Novick. Ainda assim, mesmo reconhecendo a experiência de sócios da empresa com o Poder Público, as conexões com o Partido Democrata, mantidas por advogados da firma, são indicadas como a verdadeira causa para a preferência pela WilmerHale. Dessa forma,  o fato de sócios que trabalharam juntos se revezarem nas indicacões uns aos outros, pesa pela preferência pelo escritório de Washington, o velho “QI”.

“Nós ajudamos uns aos outros e isso vale para republicanos e democratas”, disse ao NLJ, a sócia da WilmerHale, Jamie Gorelick, que foi conselheira do Departamento de Defesa e vice-procuradora-geral dos EUA durante o governo do presidente democrata Bill Clinton.

Um exemplo da dinâmica de indicações em Washington vem da própria advogada Jamie Gorelick, que foi quem indicou justamente ao chefão da CIA , Leon Panetta, o nome de outro sócio da Wilmer, Stephen Preston, para o cargo de conselheiro-geral da agência. Preston é hoje o advogado-chefe da agência de inteligência norte-americana, o que dá a dimensão da presença de ex-sócios da WilmerHale em posições-chave.

Profissionais assediados
Com o epicentro da advocacia americana deslocado sobretudo para a figura do sócio, a saída destes para ocupar cargos no governo não é necessariamente algo positivo para a banca. O exemplo vem do próprio conselheiro-chefe da Receita Federal, William Wilkins, um dos mais renomados advogados tributaristas do país. A WilmerHale, até a saída de Wilkins, integrava o restrito ranking da Chambers and Practices das melhores bancas em advocacia tributária de Washington. Com a saída do sócio no ano seguinte, a banca deixou de integrar a relação das melhores.

Wilkins é apontado por recrutadores nos Estados Unidos como um dos profissionais mais assediados por bancas. Sua volta para a advocacia é aguardada, e projeções sobre o quanto pode cobrar são feitas por caça-talentos que trabalham para escritórios atrás de sócios. Um dos motivos apontados seria a visão previligiada que Wilkins adquiriu sobre o novo papel da Receita Federal nos EUA frente à vigência da nova lei da saúde pública no país, o Obamacare e as mudanças cruciais que irá provocar na “cultura tributária” do país.

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