Consultor Jurídico

Chevron perde batalha judicial nos EUA contra equatorianos

11 de outubro de 2012, 9h27

Por João Ozorio de Melo

imprimir

Na guerra mundial que as comunidades indígenas do Equador declararam à Chevron, na Justiça, a gigante do petróleo perdeu importante batalha em seu próprio campo: nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira (10/10), a Suprema Corte americana rejeitou um recurso da empresa para bloquear qualquer tentativa de execução de uma sentença proferida pela Justiça do Equador, que a obriga a pagar uma indenização de US$ 18 bilhões a cerca de 30 mil habitantes da região amazônica do Equador, por contaminar a floresta e as águas com refugos do petróleo e causar danos à saúde da população. A notícia foi publicada pela CNN, pelo Mercury News e outros jornais. 

Atualização: A Chevron enviou comunicado à Conjur, declarando que, apesar da "decisão da Suprema Corte dos EUA de não conhecer seu pedido de análise da fraudulenta decisão equatoriana e sua exequibilidade perante a jurisdição daquele país, a Chevron seguirá defendo-se das tentativas dos advogados dos autores de executar uma decisão obtida mediante fraude e corrupção". Veja o comunicado completo da Chevron abaixo.

A batalha continua no Equador. Em janeiro, um tribunal de recursos manteve a sentença condenatória, expedida em primeira instância. Mas, em seguida, a Chevron recorreu à Suprema Corte do Equador. A probabilidade da Chevron se sair bem na Justiça do Equador é mínima. Mas, a confirmação da sentença no Equador não tem efeito prático: A Chevron não tem bens no país para que a indenização seja executada. 

Os advogados das comunidades indígenas começaram, por isso, a processar a Chevron em outros países, onde a empresa tem ativos. No final de junho, foi movida uma ação no Brasil, com essa finalidade. Um pouco antes, em maio, processaram a empresa no Canadá. A ação foi movida em um tribunal superior de Ontário contra a Chevron e suas subsidiárias. A Chevron tem um grande projeto de perfuração de petróleo em Alberta e outras propriedades no país. O Canadá tem uma lei que permite a cobrança de juros sobre o valor de uma sentença expedida em país estrangeiro, durante a tramitação do processo, o que pode aumentar o valor da indenização de US$ 18 bilhões devida pela Chevron. 

Segundo os advogados, a Chevron pode ignorar uma decisão judicial no Equador, como vem fazendo, mas não pode fazer o mesmo no Canadá, onde seus bens podem ser confiscados para garantir o pagamento da dívida. O valor da indenização por danos, na verdade, foi fixado inicialmente em US$ 8,6 bilhões. Mas foi elevado para US$ 18 bilhões porque a Chevron se recusou a pedir desculpas às comunidades indígenas e ao Equador, pelos estragos que fez na região amazônica do país, segundo a CNN. 

A batalha judicial entre os equatorianos e a Chevron já dura 19 anos. O processo foi movido inicialmente nos Estados Unidos. Mas a Chevron conseguiu transferi-lo para o Equador, temendo as altas multas que poderiam ser aplicadas nos EUA. Quando perdeu a causa em duas instâncias no Equador, tentou retornar a batalha judicial para os Estados Unidos. Em 2011, a Chevron obteve uma vitória em primeira instância. Uma ordem judicial proibiu a execução de qualquer sentença contra a empresa emitida no Equador. Mas essa ordem judicial foi anulada em segunda instância. E, nesta semana, a Suprema Corte colocou um ponto final na história, ao não aceitar a apelação da Chevron para restabelecer a ordem. 

Segundo a CNN, a Texaco, empresa que foi adquirida pela Chevron, despejou mais de 18 bilhões de galões de resíduos tóxicos na floresta e nos rios da região amazônica do Equador, abandonou mais de 900 poços de refugo, queimou milhões de metros cúbicos de gases, sem qualquer tipo de controle, e derramou mais de 17 milhões de galões de petróleo, devido a rupturas de oleodutos não consertadas. Isso resultou em muitos casos de câncer e outros problemas de saúde na área, segundo informou a Coalizão de Defesa da Amazônia à CNN

Nos Estados Unidos, a Chevron sofre pressão da comunidade jurídica e de diversas organizações para chegar a um acordo com os demandantes e encerrar o caso. Mas a pressão mais forte vem dos investidores da própria empresa, que querem que a Chevron assuma a responsabilidade pelos desastres ecológicos que provocou e encerre essa disputa judicial que já dura quase duas décadas, conforme noticiou a revista Consultor Jurídico.

Nota da Chevron

Embora esteja desapontada com a decisão da Suprema Corte de não conhecer seu pedido de análise da fraudulenta decisão equatoriana e sua exequibilidade perante a jurisdição daquele país, a Chevron seguirá defendo-se das tentativas dos advogados dos autores de executar uma decisão obtida mediante fraude e corrupção, e perseverará em expor as condutas ilícitas daqueles advogados, nos autos do processo movido sob a Lei Federal dos Estados Unidos para o Combate a Organizações Corruptas e Influenciadas pelo Crime Organizado ("RICO") que está tramitando em Nova York, bem como em outros processos.

 Informações adicionais 

· O pedido da Chevron buscava a revisão de decisão do Segundo Circuito a respeito da lei daquele país (Declaratory Judgment Act), que define os limites da decisão do juiz sobre direitos e deveres das partes a serem observados no curso de processo em que litiguem. O Segundo Circuito havia entendido que tal lei não permite a uma parte que apresente uma defesa antecipada a uma demanda, quando a norma em torno da qual se litigaria não o permite explicitamente. A Chevron havia buscado uma declaração de que a decisão do Equador não era exequível à vista dos dispositivos da Lei Uniforme de Homologação de Sentença de Execução Estrangeira de Nova Iorque ("New York’s Uniform Foreign Money Judgments Recognition Act").  Embora o juiz Kaplan do Distrito Sul de Nova Iorque tivesse decidido em favor da Chevron, logo impedindo a execução da sentença equatoriana em sua jurisdição, o Segundo Circuito reverteu aquela decisão com base em que a lei de Nova Iorque não dispõe a respeito desse tipo de tutela declaratória. O Segundo Circuito, no entanto, não alterou em nada as conclusões do Juiz Kaplan de que o julgamento equatoriano estava eivado de preconcepções e fraudes.

· A decisão de hoje da Suprema Corte não é sobre o mérito da questão, nem atinge as conclusões do Juiz Kaplan. Como a própria Suprema Corte definiu, "a negação de revisão de decisão não importa em julgamento do mérito do caso" – United States v. Carver, 260 U.S. 482, 490 (1923).  De acordo com Stern & Gressman – o tratado mais autorizado sobre a Suprema Cortee – "uma simples decisão de negar conhecimento de um writ of certiorari não tem o condão de refletir a visão da Court, seja sobre o mérito do caso, seja sobre sua jurisdição para conhecer da matéria."

· A Suprema Corte conhece de apenas uma pequena porcentagem de casos submetidos a ela por ano.  Rotineiramente declina de conhecer casos por motivos em nada relacionados com o mérito e não provê suas razões para tal negativa.