Luto nacional

Morre, aos 88 anos, Millôr Fernandes

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28 de março de 2012, 11h49

O escritor, jornalista, desenhista, dramaturgo e tradutor Millôr Fernandes morreu na noite da terça-feira (27/3), aos 88 anos. Ele estava em sua casa, em Ipanema, no Rio de Janeiro, e, segundo a família, teve falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. O velório está marcado para esta quinta-feira (29/3), às 10h, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju. O corpo será cremado.

No ano passado, Millôr chegou a ser internado duas vezes na Casa de Saúde São José, na zona sul do Rio. Os motivos da internação não foram divulgados.

Millôr era autodidata. Ensinou a si mesmo a ler, escrever e a falar um inglês impecável. Um de seus trabalhos mais célebres é a tradução de obras do dramaturgo inglês William Shakespeare, o que o tornou um dos principais adaptadores da obra do bardo no Brasil. Começou a carreira aos 14 anos, como jornalista, e aos 19 foi contratado pela revista O Cruzeiro, e logo passou a conciliar as tarefas de jornalista, tradutor e dramaturgo. Foi colaborador , também de revistas como IstoÉ e Veja.

Nos anos 1960, ao lado de amigos como Ziraldo e Jaguar, fundou o jornal O Pasquim, que se opunha e criticava a ditadura militar com textos carregados de sarcasmos, piadas e ironias. Nos anos seguintes, consolidou suas atividades autorais no teatro e publicou suas traduções de Shakespeare. Foi também o criador da Pif-Paf, revista de humor e oposição ao regime militar de curta duração: "Se o governo continuar deixando que circule esta revista, com toda a sua irreverência e crítica, dentro em breve estaremos caindo numa democracia", dizia o editorial de sua oitava e última edição. 

Escreveu cerca de 30 linhas, em que aliou o texto refinado, o humor ferino e o desenho original. Entre suas obras se destacam Tempo e Contratempo, Fábulas Fabulosas, Diário da Nova República (três volumes); Millor Definitivo; The Cow Went do the Swamp ( A Vaca Foi Para o Brejo); e Crítica da Razão Impura.

Nos últimos anos, manteve um site onde publicava textos de humor e cartuns e reuniu seus trabalhos nos últimos 50 anos. O site, inaugurado em 2000, o colocou entre uma das primeiras personalidades brasileiras a figurar na internet. Hoje, seu perfil no Twitter é um dos mais populares no país.

O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, comentou sobre a importância do jornalista. "Millôr foi símbolo da resistência democrática a partir de uma inteligência estimulante", afirmou.

"Millôr Fernandes era dono de um texto tão ácido quanto inteligente. Ninguém, sobretudo os poderosos, escapava à sua verve implacável e demolidora", concordou o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous. "É mais um talento que o Brasil perde num espaço que poucos dias", disse, referindo-se à morte do humorista Chico Anysio, na última sexta-feira (23/3). 

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