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OAB critica adoção de repercussão geral pelo STJ

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9 de março de 2012, 10h32

"O direito da parte de ajuizar um recurso não pode ficar prejudicado em razão do volume de processos existente no Superior Tribunal de Justiça". A afirmação foi feita nesta quinta-feira (8/3) pelo presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, ao classificar como "equivocada" a Proposta de Emenda à Constituição discutida pela corte, que insere a relevância da questão federal a ser decidida como requisito para admissão do recurso especial, em mecanismo semelhante ao da repercussão geral, adotado atualmente pelo Supremo Tribunal Federal.

Para o presidente da OAB, a PEC a ser enviada ao Congresso Nacional está equivocada em seu conteúdo e objetivo. Isso porque uma das missões do STJ, conforme a Constituição, é dar interpretação à lei federal e, como o Brasil é uma Federação, os tribunais de Justiça aplicam a lei de acordo com o seu entendimento. "Se vier a prevalecer a repercussão geral na forma anunciada pelo STJ, teremos um Direito federal por estado caso a Corte venha a decidir que aquela matéria não se enquadra na hipótese de repercussão geral. O STJ vai, pois, deixar de cumprir uma de suas missões constitucionais", opinou.  

Quanto à oportunidade e justificativa dadas para a apresentação da proposta, o presidente da OAB afirmou que o STJ parece estar mais preocupado em frear a quantidade dos processos do que com a qualidade das decisões. Para Ophir, seria preferível que a corte ampliasse o número de integrantes a optar por reduzir as possibilidades recursais. "Haverá uma diminuição do amplo acesso à Justiça. Neste está inserida a questão recursal", afirmou.

Outra alegação afastada por Ophir foi a de que o mecanismo da repercussão geral seria eficaz para o STJ porque este, com a apreciação de recursos, teria se transformado em uma terceira instância recursal. Mas em sua avaliação, os ministros da corte têm cumprido o seu papel e analisado os casos em que se pode ou não atender à pretensão recursal da parte.

"Não nos impressiona a justificativa de que o STJ tenha virado uma terceira instância. Se isso aconteceu, definitivamente não foi por culpa da parte", afirmou o presidente da OAB, acrescentando que a entidade vai trabalhar para que a Proposta de Emenda à Constituição não seja aprovada no Congresso.

O presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, também criticou a proposta do STJ. Para o advogado, a corte tem outras ferramentas para gerir melhor seus processos, como a Lei de Recursos Repetitivos, que permite julgar de uma só vez diversas ações sobre o mesmo tema.

"É lamentável que uma corte que se autointitula tribunal da cidadania, pois está mais ao alcance dos jurisdicionados do que o Supremo, agora lhes vire as costas, a fim de atender a um interesse egoísta: julgar menos. A meu ver, o STJ precisa julgar mais", critica o representante da advocacia fluminense.

Damous entende ser um erro comparar o STJ com o Supremo Tribunal Federal, onde esse filtro já é aplicado desde 2007. Ele acredita que faz sentido ter esse tipo de filtro na Suprema Corte porque ela julga casos de grande relevância. O STJ deve estar aberto para apreciar qualquer violação à legislação federal, afirma o presidente da OAB-RJ.

O texto que prevê o filtro de processos no STJ segue agora para o Executivo, que é responsável por encaminhar a proposta para o Congresso Nacional. Para que a mudança entre em vigor, são necessárias duas intervenções do Congresso Nacional — uma emenda à Constituição permitindo que o STJ tenha esse filtro, e uma lei para estabelecer quais serão os critérios de pré-seleção. Com informações da Assessoria de Imprensa do Conselho Federal da OAB e da OAB-RJ

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