Crime passional

No dia da Mulher, rapaz é condenado por matar ex-namorada

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8 de março de 2012, 21h34

Assassino confesso da ex-namorada, Lucas Alves Matos foi julgado nesta quinta-feira, Dia Internacional da Mulher, no Fórum de Santos, condenado a 13 anos de reclusão. Mais uma vez, ele admitiu ter matado com 16 facadas Tamiris Brito de Carvalho, apesar de afirmar na sessão que “gostava dela”. A sessão começou às 10h30. Às 20h30, o juiz Antonio Álvaro Castello anunciou a condenação do acusado.

Sem convencer as seis mulheres e o único homem sorteados como jurados, Lucas alegou que a vítima lhe apontou uma faca, motivando-o a desarmá-la e golpeá-la. O Conselho de Sentença majoritariamente feminino acolheu a tese do Ministério Público, para quem o réu, de 18 anos, cometeu um homicídio qualificado pelo emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, da mesma idade.

Quatro testemunhas depuseram no Plenário do Júri. O irmão e a mãe de Tamiris, uma amiga da vítima e a irmã do acusado não presenciaram o crime, mas contaram o que sabiam sobre os protagonistas do namoro que terminou em tragédia. No entanto, antes desses depoimentos, os jurados puderam ver as cenas do crime captadas pela câmera de segurança de uma transportadora situada no local do assassinato.

As imagens são fortes. Elas mostram o acusado parando a sua moto na Rua Cristiano Solano, no Bom Retiro, que é sem saída e termina em um mangue. Naquele trecho da via não há casas, mas apenas empresas, que não registram movimento em uma manhã de domingo, quando o crime foi cometido, em 28 de agosto de 2011. Mas no cenário aparentemente sem testemunhas, um olho eletrônico tudo registrou.

Além disso, o funcionário de uma empresa ouviu os gritos de socorro da vítima, olhou por cima do muro da firma e anotou a placa da moto, possibilitando a prisão em flagrante do réu na mesma data. A captura de Lucas por policiais militares ocorreu em sua casa. Eles descobriram o endereço do rapaz por meio da pesquisa do emplacamento do veículo, cuja compra foi possível com dinheiro fornecido pela vítima.

Conforme o vídeo exibido durante o júri, Lucas trazia Tamiris na garupa da moto e se afastou. Momentos depois, retornou e lhe desferiu as diversas facadas. O golpe fatal atingiu o pescoço da vítima, conforme o laudo necroscópico. Sem demonstrar descontrole, o rapaz subiu no veículo e foi embora, mas retornou logo em seguida. Não demorou muito, regressou à moto para fugir definitivamente para sua casa.

FACA NA MÃO

Algumas cenas do crime não aparecem na filmagem. A falta dessas imagens foi suprida pela versão dada pelo réu em seu interrogatório. Ele afirmou ter ido à rua sem saída porque precisava “urinar”, apesar de o local ficar fora da rota que deveria fazer. Lucas ofereceu carona a Tamiris até uma universidade, onde a jovem prestaria concurso público para o cargo de oficial administrativo da prefeitura de Santos.

Após as facadas, o réu admitiu ter arrastado o corpo da ex-namorada, segurando-o pelos pés, até a beira do mangue, a mais de 50 metros de onde estava a moto. O vídeo não mostra isso, mas apenas ele voltando ao veículo, saindo e retornando em seguida. Ontem, ele contou que regressou para empurrar o cadáver da jovem no “córrego” e colocar a faca de cozinha usada no crime na palma de uma das mãos da vítima.

Sobre a faca, Lucas deu ontem uma versão diferente da que anteriormente apresentou. Antes, havia dito que achou a arma do crime no próprio local do homicídio. No júri, afirmou que a faca estava com Tamiris, acusando-a de ofendê-lo e agredi-lo com tapas no capacete durante o trajeto até a Rua Cristiano Solano. A mais recente história do acusado deixou indignado o promotor Octávio Borba de Vasconcellos Filho.

“O vídeo não é mentiroso como o réu, que mente conforme a orientação que recebe”, disparou Borba. Segundo o promotor, Lucas era agressivo e ciumento com a vítima, além de não aceitar o fato de Tamiris não querer reatar o relacionamento. Atuando como assistente da acusação, o advogado Francisco Angelo Carbone Sobrinho acentuou a índole de “assassino” do acusado, frisando que ele premeditou o crime.

O advogado Clóvis Lot Barreto, defensor de Lucas, sustentou a tese do homicídio privilegiado, segundo o qual o autor faz jus à redução da pena quando comete o crime “sob o domínio de violenta emoção”. Na réplica, o promotor rechaçou esse argumento, frisando que o réu tinha consciência do seu ato e a lei exige uma “injusta provocação da vítima”, imediatamente anterior, para justificar o alegado estado emocional.

Após os debates, os jurados se reuniram na sala especial para votar os quesitos formulados pelo juiz com base nas teses da acusação e da defesa. Na sentença, o magistrado reconheceu como atenuantes a idade inferior a 21 anos e a confissão espontânea do réu, negando-lhe o direito de recorrer em liberdade. Por fim, fixou o regime inicialmente fechado para o cumprimento da pena, em razão de o crime ser hediondo.

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