Juiz ameaçado

Ação penal contra Cachoeira está suspensa

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19 de junho de 2012, 18h38

Pelo menos por enquanto, a Ação Penal que apura suposto esquema criminoso comandado pelo empresário goiano Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, está sem juiz. O processo ficou órfão em decorrência do afastamento do magistrado responsável pelo caso, Paulo Moreira Lima, que pediu afastamento da 11ª Vara Federal em Goiás. Ele diz estar sofrendo ameaças de pessoas ligadas ao grupo de Cachoeira.

Com a saída de Moreira Lima, o caso deveria ser encaminhado ao titular da vara, juiz Leão Aparecido Alvez. No entanto, ele é suspeito de ter ligação com um dos investigados. Nesta terça-feira (19/6), a Corregedoria Nacional de Justiça divulgou que a Polícia Federal identificou um telefonema do número do juiz para uma pessoa que integra a suposta quadrilha.

Embora o juiz Leão Aparecido tenha confirmado a ligação, ele informou que, na época, o aparelho estava sendo usado pela mulher dele. No último dia 13 de junho, o juiz Moreira Lima enviou um ofício ao corregedor do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Carlos Olavo, responsável pela correição judiciária na Região Centro-Oeste. O magistrado lembrou sua trajetória na vara criminal, iniciada em 2009, ao longo da qual condenou vários criminosos que não fazem questão de esconder o descontentamento com o trabalho do juiz.

Moreira Lima contou que, desde que assumiu a Operação Monte Carlo, foi informado de que poderia ser alvo de atentados e que estaria obrigado a se submeter a um rígido esquema de segurança, pois sua vida correria perigo. Em um dos episódios citados pelo juiz, policiais procuraram parentes dele para falar sobre a Operação Monte Carlo, “em nítida ameaça velada, visto que mostraram que sabem quem são meus familiares e onde moram”.

O juiz deixará a 11ª Vara para cobrir férias de outro magistrado. No entanto, a assessoria de Moreira Lima confirmou que ele deixou a vara por motivos pessoais e que não retornaria mais ao posto.

“Denúncia gravíssima”
Ao comentar o caso do juiz Paulo Augusto Moreira Lima, o presidente do Conselho Nacional de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, o classificou como de “gravidade qualificada”.

“É um caso de gravidade incomum; na linguagem jurídica, de gravidade  qualificada. Não se pode ameaçar, do ponto de vista da integridade física e nem moral ou psicológica, nenhum julgador. Muito menos o julgador e sua família. Diante da gravidade dos fatos, a corregedora nacional de justiça, conselheira Eliana Calmon, está à frente da apuração dos fatos, do equacionamento deste”, disse o ministro.

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nota nesta terça-feira (19) em apoio ao juiz. O presidente da entidade, Nino Toldo, também considera grave o vazamento do ofício que o magistrado enviou à Corregedoria Regional da Justiça Federal da 1ª Região, no qual relata a insegurança de continuar atuando na vara.

A Ajufe disse que já entrou em contato com o Departamento de Polícia Federal e com a Corregedoria Nacional de Justiça para tratar da situação do magistrado. “A magistratura Federal brasileira não se vergará a qualquer tipo de ameaça”, finaliza Toldo.

Em nota, a Associação dos Magistrados Brasileiros manifestou apoio ao juiz Paulo Moreira Lima. A entidade disse que "repudia todo e qualquer ato de ameaça contra a vida de magistrados e seus familiares", e afirmou que "as ameaças não são contra o juiz, mas sim, contra o Estado, que vê a democracia atacada". 

"A AMB ainda coloca toda a sua estrutura à disposição do Juiz e soma forças com a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) porque a Magistratura nacional não se vergará a qualquer tipo de ameaça", conclui a nota. Com informações da Assessoria de Comunicação do CNJ e da AMB.

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