Efeito bumerangue

Americanos não estão preparados para guerra cibernética

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4 de junho de 2012, 10h20

A confirmação na sexta-feira (1º/6) de que os Estados Unidos, com a ajuda de Israel, promoveram os ataques com o malware Stuxnet às instalações nucleares do Irã, em 2010, levantou preocupações generalizadas com a segurança nacional do país. Em destaque, a mensagem que os EUA passaram a seus inimigos: a guerra cibernética (cyberwar) está aberta a todos os interessados. Entretanto, os EUA dispararam uma operação de ataque em uma área na qual o país é o mais vulnerável a contra-ataques — e o mais visado também, segundo a revista Computer World e outras publicações. 

"O Estados Unidos podem lançar ataques cibernéticos (cyberattacks), como o com malware Stuxnet, mas não pode se defender contra eles", afirmou o Huffington Post-Tech em reportagem publicada no sábado (2/6). "Especialistas informam que, se outros países lançarem ataques semelhantes contra os EUA, o país está terrivelmente despreparado para se defender", escreveu. 

Especialistas discutem também o efeito bumerangue das armas cibernéticas (cyberweapons): depois de lançado na internet, o malware pode acidentalmente voltar e infectar, nos EUA, computadores que não eram alvo do ataque. Mas, depois da revelação da entrada oficial dos EUA na guerra cibernética, um assunto foi abandonado: a legalidade dos ataques com armas cibernéticas. 

No ano passado — antes, portanto, que a operação "Jogos Olímpicos", criada pelo ex-presidente Bush e acelerada pelo presidente Obama, segundo o New York Times, chegasse ao conhecimento público — o Pentágono declarou que sabotagens a sistemas de computação, promovidas por outros países, "podem constituir um ato de guerra" que, segundo o Wall Street Journal, pode abrir as portas, pela primeira vez, para os EUA responderem com o uso de forças militares tradicionais. 

Em uma versão desclassificada de 12 páginas, extraída de uma versão classificada de 30 páginas, o Pentágono conclui que "as Leis do Conflito Armado — derivadas de vários tratados e costumes que, no decorrer dos anos, se tornaram um guia de conduta na guerra e da resposta proporcional a ataques — se aplicam ao espaço cibernético (cyberspace), da mesma forma que na guerra tradicional", relatou o Wall Street Journal

As regras do conflito armado, que servem de guia para as guerras tradicionais, derivam de uma série de tratados internacionais, tais como as Convenções de Genebra, bem como de práticas que os EUA e outras nações consideram leis internacionais consuetudinárias, explica o jornal. No entanto, guerras cibernéticas não são previstas nos atuais tratados. "Ato de guerra" é uma expressão política, não jurídica", diz o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Duke Charles Dunlap, que pertenceu à Força Aérea americana. Para ele, os Estados Unidos teriam de provar que um ataque cibernético fez um estrago semelhante ao de um ataque convencional ou de um ato terrorista, para justificar um ataque armado a outro país. 

Por enquanto, os países estão perdidos, porque é difícil estabelecer o tamanho do estrago e de onde ele veio. Estados Unidos, Israel, China e Rússia já foram acusados de promover ataques cibernéticos. Todos negaram. Os especialistas suspeitaram que os ataques ao complexo nuclear do Irã foram originados nos Estados Unidos e Israel, depois que um bielorrusso descobriu que as mil centrífugas iranianas, de um total de 6 mil, foram destruídas pelo malware Stuxnet. Alguns especialistas já sabiam que o Stuxnet fora desenvolvido pelos EUA e por Israel, que chegaram a montar sistemas com computadores da Siemens — os mesmos que executam as operações das centrífugas do Irã — para testar o malware

De acordo com o Washington Post, os Estados Unidos e Israel poderiam ter destruído todas as centrífugas do Irã. O Stuxnet faz uma centrífuga trabalhar em uma velocidade tão alta, que ela acaba se destruindo. Mas, o plano não era destruir de uma vez todas as centrífugas do Irã, pois ficaria óbvio para todo o mundo que as instalações iranianas sofreram um ataque cibernético, originado nos EUA e em Israel. O plano era infiltrar e danificar os sistemas executados por computadores progressivamente, para que os iranianos atribuíssem o problema à incompetência de seus próprios engenheiros, explicou o jornal. 

O Departamento de Segurança Nacional dos EUA alertou as grandes corporações americanas sobre a descoberta de um novo vírus, chamado "Flame", que serve como uma ferramenta de espionagem. É um programa com um design sofisticado, que usa criptografia e outras técnicas para penetrar em computadores e circular pelas redes de organizações privadas e governamentais. O vírus pode espreitar o tráfego de dados, fazer captura de telas (screenshots) de computadores, gravar conversações próximas às máquinas e retransmiti-las. E, sobretudo, pode registrar toques no teclado, o que ajuda a capturar nomes de usuários e senhas. Advertiu que nenhuma infecção foi descoberta até agora nos EUA e declarou que não conhece sua origem, noticiou o Salt Lake Tribune.

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