Homenagem a um amigo

As aulas de generosidade do mestre Helio Bialski

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1 de junho de 2012, 12h15

Ao ler o artigo escrito por Daniel Bialski, na ConJur do dia 23 de maio último (clique aqui para ler o artigo), dei-me conta de que já será completado o primeiro mês da morte do meu amigo, irmão e conselheiro Helio Bialski. Por isso, resolvi também eu prestar-lhe a devida homenagem, certo de que, por mais que o homenageemos, ainda assim ficaremos em débito com sua memória.

Perdê-lo doeu mais em mim do que a morte de meu próprio pai a quem eu muito amava também. E quem disse que a dor da morte de um ente querido passa parece nunca ter perdido ninguém. Suportamos a dor, é verdade, porque precisamos tocar a vida. Mas ela está lá, incomodando, fazendo-se sentir todos os dias. Pode ser que algum dia eu tenha condições de dizer que não dói mais, porém não vislumbro esse distante dia.

Não é para menos, garanto-lhes. Com o Helio Bialski escrevi as páginas mais gloriosas da minha vida pessoal e profissional. Nos últimos 30 anos, ele esteve presente nos meus melhores momentos.

Dou o meu testemunho pessoal de tudo aquilo que o Daniel Bialski escreveu acerca de seu saudoso pai. O Helio tinha nos filhos e, ultimamente, nos sete netos, a razão de sua existência. Por eles sacrificou-se muito, visando a dar-lhes o conforto que ele mesmo não experimentara em sua juventude.

Sua incomum generosidade fez-se presente em minha vida já no início de nossa amizade. Ele cedeu-me as salas onde fiz meu escritório e em que trabalhei por muitos anos. Nunca fui seu contratado, seu empregado e nem lhe era subordinado. Era apenas sublocatário e vizinho. Mas eu tinha o privilégio de comer os farelos que caíam de sua farta mesa, os quais eram verdadeiros banquetes na minha incipiente banca de advocacia.

Com o tempo, estabelecido o vínculo de confiança mútua e amizade leal, passamos a advogar juntos em algumas das grandes causas de seu bem sucedido escritório. Jamais sonegou-me ensinamento. Não me ensinou apenas o caminho, mas mostrou-me, também, os seus tortuosos atalhos. Apresentava-me a todos os clientes, autoridades e amigos. Mesmo restando claro que o mestre era ele, o Helio não tinha vaidade e não me negava os créditos pelo que fazíamos juntos. Ao contrário, por vezes dizia ser nossos méritos que eram só deles.

O Helio era aquele amigo leal que, ao ver um companheiro em necessidade, primeiro ajudava para depois perguntar o que tinha havido. Fez isso muitas vezes com advogados e policiais às voltas com a Justiça Criminal. Estendia a mão generosa a todos que o buscavam e muitas vezes procurava os perseguidos, oferecendo ajuda.

Eu ainda não o conhecia quando advoguei num caso de flagrante. Eram tempos em que ainda não existia telefonia celular. Tarde da noite, toca o telefone da delegacia e o escrivão passou-me o telefone, dizendo que havia alguém querendo falar comigo. A voz grave e forte identificou-se como sendo Helio Bialski e perguntando se tudo estava correndo bem, se eu estava sendo bem tratado na delegacia e se eu precisava de alguma ajuda. Ele estava jantando com a família, mas disse que iria até a delegacia, se eu precisasse, independentemente de acerto de honorários. Iria apenas em socorro do novato. Assim era o meu grande amigo Helio.

Dele herdei a intransigibilidade absoluta na defesa das prerrogativas profissionais. Com ele aprendi a lealdade suprema aos clientes. A defender imperterritamente nossos constituintes. E com ele aprendi a me fazer respeitar perante qualquer pessoa, afinal, o medo é um inimigo inconciliável do advogado criminalista.

Com ele, também, eu me diverti muito. Seja contando e ouvindo anedotas (ela as adorava), seja jogando gamão (que ele me ensinou) e yam (que eu o ensinei) ou cacheta. Os fins de semana em seu belo sítio eram sempre muito alegres. Das festas, então, nem preciso falar, pois ele era conhecido como um grande organizador de festas. Ele fazia questão de convidar todos os amigos, desde ministros do STF ao mais simples contínuo do escritório, passando por desembargadores, juízes, delegados, investigadores, enfim, todos.

Através dele, conheci gente muito importante. Pessoas que transferiam para mim o carinho que tinham por ele. Pessoas que abriram muitas portas e muitas vezes me ajudaram muito. Para minha honra, elas associavam a minha imagem à do Helio, parceiros que éramos.

Dos muitos frutos e legados que deixou, sem dúvida o Daniel Bialski, advogado de escol, é a síntese de tudo isso, de forma miríades de vezes aprimorada. Sinto-me responsável por uma pequena parcela da formação do Daniel, pois, quando começou a frequentar o escritório do pai, trabalhávamos juntos. Com a inteligência e abnegação herdadas do pai, é exemplo nítido de discípulo que superou os mestres.

Carregarei comigo a imensa dor da perda do grande amigo por toda a vida, mas terei sempre comigo a convicção de que eu o homenageei ainda em vida, dando ao meu filho o nome de seu filho caçula (Davi). E não levarei remorso algum porque, sempre que o encontrava, eu o beijava e verbalizava sempre que eu o amava muito. Não, não é em sentido figurado, não! Eu dizia, mesmo: Helio, eu te amo!

E hoje, terminando de escrever este artigo, em meio às lágrimas que insistem em não me abandonar, digo, para que todos saibam e para que ele ouça de onde estiver: amigo Helio, eu te amarei para sempre!

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