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Ideias políticas que marcaram a história da humanidade

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23 de julho de 2012, 5h22

Spacca
O grande legado intelectual de Roma foi o Direito, ao contrário da Grécia, berço da Política, ambos objetos de profundas reflexões filosóficas, desde o início de uma e de outra civilização. Relativamente recente é a analise da Política sobre o ponto de vista do Direito, bem como a tentativa de estabelecer conexões comuns e, ao mesmo tempo, delimitar as diferenças entre os dois campos. História do Pensamento Político Ocidental, de Diogo Freitas do Amaral, é uma boa contribuição nesse sentido.

Não é um livro de Direito, tampouco apenas de política, mas é, acima de tudo, um livro sobre ideias. Ou, mais apropriadamente, sobre as ideias políticas que fizeram a história – ou terá sido o contrário?. O elemento comum, esse sim, é a Política – com letra maiúscula – e que procura, se não responder, ao menos dar os elementos para que o leitor interessado chegue à sua própria conclusão sobre o que é o Poder, porque ele é necessário, quando é legítimo e como se pode conciliar a autoridade de quem o exerce com os direitos de cada um na sociedade.  

Diogo Freitas do Amaral é formado em Direito pela Universidade de Lisboa e atualmente preside o Conselho Científico da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Em 1974, com o fim do salazarismo, participou ativamente da fundação do CDS, o partido democrata-cristão português, presidido por ele entre 1974 e 1982 e, depois, entre 1988 e 1991. Foi candidato à Presidência da República em 1986, mas perdeu a eleição para Mário Soares, por uma pequena diferença de votos. Tem uma história de vida entre o Direito e a Política, o que o credencia na tarefa de discorrer sobre causas e consequências, entre ideias e fatos históricos tão entrelaçados nos dois campos de pensamento.

É comum a crítica feita por historiadores de que a maioria dos livros que tentam retratar a evolução do pensamento do homem ou são um simples catálogo de opiniões e doutrinas políticas ou, não menos pior, baseiam-se apenas em obras e autores "escolhidos" como representantes do pensamento de uma determinada época. Se por um lado é impossível ignorar a importância dos grandes autores frequentemente citados como expoentes do pensamento ao longo da historia, por outro é preciso reconhecer que várias perguntas continuam sem respostas pelo fato de as análises limitarem-se aos mesmos personagens e às mesmas obras, tomados como sínteses de um determinada sociedade ou período histórico.

História do Pensamento Político Ocidental tenta passar ao largode críticas como essas. As quase 800 páginas do livro evidenciam e contextualizam as divergências entre Platão e Aristóteles, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, Maquiavel e Erasmo, Montesquieu e Rousseau, Marx e Lênin, mas também lançam luz sobre vários outros pensadores, muitos não tão reconhecidos, mas importantes na formação do pensamento ocidental.

"Há muitas maneiras de se contar uma história", admite Freitas do Amaral. Como critério pessoal, que reconhece subjetivo e criticável, ele selecionou 51 nomes para compor o pensamento político ocidental. "Nem todos os que são importantes estão aqui, mas todos que estão, são", garante. Para "outros tantos que ficaram de fora", ele cuidou de reservar um espaço ao final de cada capítulo, como homenagem e citação das obras mais representativas deixadas por eles.

Somam-se, assim, aos 51 nomes destacados, outros 120 "pensadores", no total, entre eles dois brasileiros: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "conhecido internacionalmente por seus estudos, numa perspectiva de centro-esquerda, sobre o desenvolvimento dependente da América Latina na década de 70";  e o frei Leonardo Boff, com a sua Teologia da Libertação, "que pretendeu integrar o cristianismo e o marxismo num projeto político-revolucionário para a América". Ambos aparecem na parte final do livro, dedicada pelo autor português à segunda metade do Século 20, período que, segundo ele, já não se situa, propriamente, no campo da "história política do pensamento", mas, sobretudo, em outra área científica e acadêmica, a do Pensamento Político Contemporâneo.

Entre as diferentes formas possíveis de recontar a história, o político e jurista português optou por seguir o método cronológico, dividindo a obra em "épocas históricas", adotando, em cada uma, o método seletivo – "os principais textos dos principais autores", com o objetivo declarado de deixar o livro mais acessível. Começa pela antiguidade clássica,de Péricles a Cícero – o único romano selecionado por ele; seguindo pela Idade Média, o Renascimento e a Idade Moderna, período em que incluiu, entre outros clássicos, A Utopia, o reino imaginário, justo e perfeito, descrito por São Tomas More, "advogado brilhante e o único político até hoje proclamado santo pela Igreja Católica".

A rigor, o autor só se afasta da cronologia clássica nos capítulos finais, dedicados à segunda metade do Século 20, ainda por merecer uma classificação mais universal por parte dos historiadores. Freitas do Amaral não chega a sugerir, mas não deixa de ser emblemático o fato de ele ter reservado as ultimas páginas do livro para o filósofo alemão Hans Jonas, pioneiro na abordagem filosófica sobre dois temas bem atuais – a ecologia e a civilização tecnológica. "Tentar adivinhar o futuro a partir do passado seria puro historicismo, que condenamos por falta de base científica", adverte, no entanto, o autor. "A única coisa que podemos ter por certa e segura é que a história não acabou".

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Título: História do Pensamento Político Ocidental
Autor: Diogo Freitas do Amaral
Editora: Almedina
Edição: 2012 – 1ª Edição
Páginas: 771 páginas
Preço: R$ 149,00

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