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Os livros da vida da ministra Maria Elizabeth Rocha

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11 de julho de 2012, 8h00

Spacca
Maria Elizabeth Teixeira Rocha [Spacca]Se tivesse de escolher uma personagem da literatura, a ministra do Superior Tribunal Militar Maria Elizabeth Rocha diz que seria Elizabeth Bennet, de Orgulho e Preconceito, da britânica Jane Austen.

Casada com o general da reserva Romeu Ribeiro Bastos, Maria Elizabeth, primeira e única mulher da mais antiga corte do país, considera sua xará uma “cinderela feminista”. Ela diz que os personagens femininos da literatura foram fundamentais para a formação de sua personalidade.

“Quem sempre me fascinou foram as anti-heroínas”. Assim ela define Anna Karenina, de Tolstoi, Nora Helmer (Casa de Bonecas), de Henrik Ibsen, e Carmen, de Prosper Merimmé. Ao lado da personagem inglesa, foi esse seleto grupo de mulheres que lhe revelou, quando adolescente, um lado da vida sobre o qual nunca havia pensado a respeito.

“Elas se destacaram pela coragem e destemor com que enfrentaram as convenções hipócritas que subjugavam e de certa forma ainda subjugam as mulheres”, afirma a ministra, que tem particular apreço por Nora Helmer. Quando tinha 16 anos, ela assistiu à peça Casa de Bonecas, com Tônia Carrero no papel principal, fato que diz ter mudado sua vida. “Aquilo foi um divisor de águas. Pensei: vou ser dona do meu destino”.

Infanto-juvenis
Filha de um advogado que, segundo ela, lia um livro por noite — “ele tinha leitura dinâmica e uma memória privilegiada”, diz —, Elizabeth foi alfabetizada aos 7 anos e seu fascínio pela literatura começou graças a seus pais.

Fábulas de EsopoNascida em Belo Horizonte, ganhou na infância a coleção O Mundo da Criança, com os contos dos Irmãos Grimm, as fábulas de Esopo e toda a obra de Monteiro Lobato, autor do Sítio do Pica-pau Amerelo, obra pela qual a ministra nutre afeição especial.

"Ele congrega a miscigenação brasileira. Todo o multiculturalismo brasileiro está dentro daquela obra", elogia. Entre os personagens famosos do autor, a ministra faz questão de frisar que sempre teve preferência pela boneca Emília. “A Narizinho era todas nós, e a Emília era o que nós gostaríamos de ser.”

Luso-brasileiro
Após cursar o jardim de infância numa escola pública de Belo Horizonte, Maria Elizabeth fez o antigo primário e ginásio — hoje ensino fundamental — no Sacré Coeur, dirigido por freiras. “Mesmo num colégio religioso, elas sempre tiveram a visão de não censurar determinadas obras literárias; ao contrário, sempre foram recomendadas”. Foi lá que teve contato com autores luso-brasileiros como Machado de Assis, Eça de Queiroz, Érico Veríssimo, José de Alencar e Jorge Amado. “A primeira vez que li Capitães da Areia, que era um livro até relativamente avançado para a época, foi por indicação do colégio de freiras.”

Li e Recomendo
Entre seus autores de língua portuguesa preferidos estão aqueles que se consagraram pela criação de neologismos. “Mia Couto introduz o léxico das regiões de Moçambique e recria com beleza e sensibilidade a língua portuguesa, como Guimarães Rosa fez”. Outro aspecto da literatura que chama sua atenção é a ruptura das formas consagradas. “Amo a narrativa de Saramago, que despreza regras do vernáculo à semelhança da própria vida, que não obedece regra alguma”, afirma.

O Diário de Bridget Jones - Helen FieldingDistração
Na biblioteca de Elizabeth, entretanto, não existem apenas livros sisudos. A ministra do STM é fã de best-sellers como Harry Potter, Diário de Bridget Jones e Sex and the City. "Harry Porter eu li todos, mas esqueci todos", diz ela. "É uma literatura de consumo agradável porque mata o tempo, mas você esquece. Não é aquela literatura que entra na sua alma".

Jurídicos
Maria Elizabeth se formou em Direito pela PUC-MG e é especialista em Direito Constitucional. Fez mestrado na Universidade Católica Portuguesa, doutorado na UFMG e atualmente prepara a conclusão de seu pós-doutorado pela Universidade Clássica de Lisboa.

Integrante da corte militar brasileira, ela não titubeia quando o assunto é a ditadura. “No meu mestrado, fiz uma análise sobre a articulação do golpe de 1964: a participação das elites, do capital multinacional, da classe média e da grande imprensa na deflagração da deposição de João Goulart.”

1964: A Conquista do Estado, Rene DreyfussPara elaborar sua pesquisa (Classes sociais e o processo político no Brasil: O Golpe de 1964), dois autores foram referência para sua obra: Rene Dreyfuss, autor de 1964: A Conquista do Estado, e Helio Silva, de títulos sobre o tenentismo.

Ela garante que não houve resistências ao seu nome quando tomou posse no STM. “Um blog ou outro fez um comentário desairoso, mas no geral sou extremamente respeitada pelos meus colegas.”

Como constitucionalista, Elizabeth teve seu primeiro contato com os especialistas da área por meio das obras de José Alfredo de Oliveira Baracho. “Ele era o homem das teorias gerais e foi quem me influenciou a estudar Direito Constitucional. Ele trazia pra dentro dos livros todo o Direito comparado”.

Pontes de MirandaPontes de Miranda, Nelson Hungria e Carlos Maximiliano também são autores jurídicos que exerceram forte influência sobre a ministra, que atualmente tem enveredado para uma análise jurídico-filosófica do Direito Constitucional, tendo por base obras de Rawls, Nozik, Dworkin, Friederich Mueller e Habermas. “A despeito de divergirem, suas linhas de pensamento propiciam uma reflexão dialética profícua”.

Crítica de Cinema
Cinéfila, na graduação, Maria Elizabeth também atuou como crítica da arte para o jornal Estado de Minas. “Vi todos os filmes da Nouvelle Vague francesa e lia o Cahiers Du Cinéma, quando o Truffaut ainda escrevia.”

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