Coluna do LFG

Maceió é mais violenta que o país mais violento do mundo

Autor

  • Luiz Flávio Gomes

    é doutor em Direito pela Universidade Complutense de Madri. Mestre em Direito Penal pela USP. Jurista e cientista criminal. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi promotor de Justiça juiz de Direito e advogado.

19 de janeiro de 2012, 11h31

Spacca
** Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes (IPCLFG) concluiu que a capital mais violenta do país é Maceió. Com 94,4 homicídios a cada 100 mil habitantes, de acordo com dados do Datasus (Ministério da Saúde) e do IBGE, a capital regrediu 13 posições na década 1999/2009, já que ocupava a 14ª colocação dez anos antes (com uma taxa de 30,9 mortes por 100 mil habitantes em 1999).

Nem mesmo o país mais homicida do mundo em 2009, Honduras (de acordo com as análises do IPCLFG), um dos países mais pobres e menos desenvolvidos do mundo (121º colocado no IDH 2011), com uma taxa de 82,1 mortes a cada 100 mil habitantes, apresentou um índice tão alto quanto a capital alagoana. Maceió, em suma, é mais violenta que o país mais violento do mundo.

Também em 2009 o estado de Alagoas foi considerado o estado mais homicida a cada 100 mil habitantes dentre todos os estados da Federação (Veja: Brasil é o 20º país mais violento do mundo. Alagoas é o campeão nacional).

O Brasil como um todo já é considerado uma zona epidêmica de violência com uma taxa de 26,9 mortes a cada 100 mil habitantes, mas o que ocorre com Maceió é mais do que uma situação de calamidade, é uma pandemia, que deve ser compreendida em suas causas sociais, políticas, educacionais etc. e combatida considerando-se suas peculiaridades, assim como deve ocorrer em cada estado brasileiro vítima de tanta violência, que denota não só uma sociedade doente como incivilizada.

Tarefa número um consiste em expurgar da cultura brasileira o seu pecado original, verdadeiro ovo de serpente, que consiste na separação de classes, segregando as classes de baixo em territórios bem demarcados. Isso se chama balcanização (divisão do país). Mas não se trata de uma simples segregação territorial, mais que isso, o mais grave é a admissão de que as classes de baixo não devem mesmo ter os mesmos direitos das classes de cima. As pessoas da ralé, em geral, são consideradas apenas como corpo (braços e pernas, anatomia) e como corpo apenas são torturáveis, prisionáveis e mortáveis.

O assassinato arbitrário de um mendigo não é visto, do ponto de vista social, em geral, como uma grave violação aos direitos humanos, sim, como um expurgo útil. Isso deriva do que Foucault chamava de “consensos sociais inarticulados”. A sociedade tem consensos não escritos. Uma sociedade pouco avançada como esse modelo, que não pensa na polis nem na sua eticidade democrática, tende a viver de forma muito infeliz. É isso que está ocorrendo no nosso país.

** Mariana Cury Bunduky é advogada e pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes.

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