Referência na advocacia

Evandro cumpriu, com sobras, tarefa de defender ética

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18 de janeiro de 2012, 17h35

Quando o velho Evaristo de Moraes se foi, em 1939, Evaristinho contava apenas seis anos de idade. Evandro Lins e Silva, jovem advogado, discípulo do velho, veio a ter com nosso pai, logo depois, porque “o convívio quase diário nos corredores e cartórios do Palácio da Justiça estreitava essa amizade[1].

Sem a figura paterna, Evandro tornou-se um guia profissional para o iniciante, e o guardião das histórias do ausente pai, cuja biografia sempre esteve a finalizar, mas o seu tempo, também ceifado pela “Indesejada das gentes”, não permitiu.

Inesquecível a fala de Evandro, na oportunidade de inauguração do busto de Evaristinho, no Salão dos Passos Perdidos, fala esta depois reduzida a termo e publicada no livro “Antonio Evaristo de Moraes Filho, por seus amigos”:

“Registrei que ali estava, por uma eventualidade invencível e insuperável, invertida a ordem natural das coisas, trocados os sinais dos ponteiros misteriosos do relógio do Universo. O curial seria o contrário, como aconteceu em diversas outras ocasiões, o normal seria que Evaristinho ali estivesse na minha posição e eu na dele, pois tinha idade de ser meu filho. Na verdade era um filho espiritual, e a afeição recíproca, que nos ligava, jamais arrefeceu, mesmo em meio às rusgas e emulações em causas em que fomos antagonistas. Nunca restou mágoa ou ressentimento desses encontros, desses embates fortuitos, em processos retumbantes. A profissão exige luta, divergência, litígio, sustentação de posições contrárias, que podem levar a discussões às vezes apaixonadas e ao emprego de linguagem veemente, áspera, ríspida, no calor do debate. Passada a refrega, os adversários ocasionais, civilizadamente, logo se reconciliam. Não é à toa que o legislador descriminaliza a injúria praticada na discussão forense”[2].

Na condição de “filho espiritual”, Evaristinho discursou, em nome da classe, num dos eventos em celebração aos 80 anos de Evandro Lins e Silva, concitando o aniversariante a liderar a cruzada em defesa da ética na advocacia, reconhecendo que, àquela altura, talvez fosse “pedir demais a alguém que já nos deu tanto; e que, a mim, particularmente, deu tudo o que consegui na profissão, ao abrir-me a oportunidade de exercê-la”.

O multíplice Evandro, que hoje completaria 100 anos de idade, cumpriu, com sobras, a tarefa de defender a ética na advocacia, e outras tantas, sendo pertinente recordar, do discurso de Evaristinho, o epílogo: “Nós – advogados brasileiros – não podemos apresentar esta escusa, da falta de um referencial, que nos sinalize a trilha retilínea. Temos em você, mestre Evandro, o paradigma a quem devemos prezar. Obrigado, por isto, e por tudo mais”.


[1] “Antonio Evaristo de Moraes Filho, por seus amigos”, “Dora e a Engenharia Genética de Pigmalião”, p. 5.

[2] Por Antonio Evaristo de Moraes Filho.

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