Excessos em ação

PM do Paraná pede desculpas para advogada por tortura

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5 de dezembro de 2012, 11h24

O chefe do Primeiro Comando Regional da Polícia Militar do Paraná, coronel Ademar Cunha Sobrinho, pediu desculpas à advogada Andréia Cândido Vítor, presa em uma ação da PM na qual ela afirma ter sido torturada pelos policiais e sofrido racismo. As informações são da Gazeta do Povo.

O coronel foi ouvido nesta terça-feira (4/12), na Câmara de Curitiba, e se desculpou publicamente pelos excessos cometidos por policiais em uma ação no Bairro Alto, no fim de novembro.

“Peço escusas pelo que aconteceu. Não é normal este tipo de conduta na Polícia Militar. Não é normal o preconceito e isto tem ocorrido o mínimo possível na corporação”, afirmou Cunha Sobrinho. O coronel foi ouvido pelas comissões de Segurança Pública e de Direitos Humanos da casa.

A audiência foi acompanha pela advogada Andréia Cândido Vítor. O caso só se tornou público, depois que ela decidiu denunciar os excessos na ação policial. “Espero a restauração emocional das pessoas que viveram a violência e a restauração profissional dos policiais que abordaram. Não tenho medo, tenho fé em Deus e no estado democrático, muito bem representado por esta Casa de Leis”, disse.

O vereador Tico Kuzma (PSB), que preside a comissão de segurança, disse que vai acompanhar as apurações de responsabilidades conduzidas pela Corregedoria da PM e pediu para ser informado de todos os procedimentos. Já o vereador Algaci Túlio (PMDB) sugeriu que há uma insatisfação dos policiais de base, o que teria gerado os excessos registrados recentemente.

“Esta conduta me parece que não é do caráter do policial. Parece que a Polícia Militar passa por uma fase difícil e que o alto escalão não está satisfeito com o governo”, disse o vereador. O coronel negou a possibilidade, afirmando que a insatisfação se resume ao aspecto salarial, mas que isso não teria impacto sobre o serviço. “Há blogs de policiais que pedem reposição salarial, mas não há boicote no serviço policial”, garantiu.

O caso
Segundo a PM, a ação começou depois que uma equipe flagrou um motociclista sem capacete fazendo manobras perigosas na Rua Rio Guaíba, no Bairro Alto, por volta das 19 horas de sábado (24/11). O motoqueiro teria desobedecido a ordem de parar e entrado em uma casa. Moradores da casa negam que tenham havido perseguição e afirmam que o rapaz apenas estava com a moto ligada, mas parada, em frente à residência.

A ação teria começado a partir desta abordagem. De acordo com moradores e vizinhos, policiais militares invadiram a casa e agrediram várias pessoas, entre elas uma idosa de 74 anos e uma adolescente portadora de deficiência física. Vídeos gravados por vizinhos mostram o grande número de viaturas paradas em frente à residência e uma aglomeração de policiais e moradores.

Em um vídeo divulgado pela Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (AbraCrim) e entregue ao Gaeco, seis pessoas afirmam ter sido agredidas. As imagens também mostram vários cômodos da casa e peças de roupas sujos de sangue, após a ação policial. Também é possível ver um pedaço de cassetete, possivelmente usado pelos policiais.

Onze pessoas foram presas. Entre elas, a advogada Andréia Cândidos Vítor. Ela afirma ter sido levada com outros três suspeitos a um módulo policial, na Praça da Liberdade. Disse que os quatro foram agredidos com tapas no rosto e pontapés. Ela ainda teria sido vítima de injúria racial.

Na descrição da ocorrência, os policiais afirmam que foram hostilizados por moradores e que precisaram usar armas não letais, como teasers e bastões. Eles descrevem que as viaturas foram recebidas a pedradas, mas em nenhuma das imagens apresentadas é possível comprovar esta versão.

Na quinta-feira (29/11), dois oficiais da PM foram identificados e afastados de suas funções. O caso também é investigado pelo Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná.

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