ConJur, Ano XV

De Cuiabá para o mundo como se fosse São Paulo

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1 de agosto de 2012, 8h04

Spacca
Débora Pinho - 31/07/2012 [Spacca]

A revista Consultor Jurídico tinha dado seus primeiros passos quando viajei de Mato Grosso a São Paulo para tentar a sorte nela. Era novembro de 2000 — a revista tinha três anos de vida e a sede já era na rua Haddock Lobo. Antes a redação da revista ficava na rua Conselheiro Furtado, bem atrás do Forum João Mendes, no centro da capital paulista. Ela me foi apresentada pelo amigo Aílton Segura, jornalista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, onde me formei quase um ano antes. Ele conhecia o jornalista Márcio Chaer e tratou de fazer a aproximação. Marcamos uma entrevista e fiquei uma semana em São Paulo, em fase de testes, para produzir informações jurídicas. Contratada, voltei para Cuiabá, pedi demissão do jornal A Gazeta, onde trabalhava na época, e duas semanas depois estava morando em São Paulo.

Uma das primeiras notícias que fiz, na fase de testes, foi sobre uma decisão da Justiça de Mato Grosso do Sul de acatar um pedido para alteração de registro civil de um transexual. A decisão, hoje tão comum, estava entre os cinco casos no Brasil que a Defensoria Pública do Estado tinha conhecimento. Entrevistei, na ocasião, a transexual mais famosa do país para saber o que pensava do assunto. Roberta Close, com 36 anos na época, disse que apesar de ter operado quando tinha 23 anos e lutar na Justiça desde 1990, ainda não tinha conseguido mudar o seu registro para o sexo feminino. Ela relatou, então, à revista ConJur o constrangimento que passava diante de algumas situações cotidianas.

A notícia com a chamada Roberta Close comenta decisão da Justiça de MS foi parar na capa do UOL, parceiro da ConJur na época. Toda vez que isso acontecia, a audiência do site aumentava. Mas também havia um risco: o site poderia sair do ar diante de tantos acessos. Arriscávamos sempre nesse sentido porque o nosso maior objetivo era nos tornar conhecidos e chamávamos a capa do UOL de “nossa vitrine”. Vibrávamos a cada notícia, de celebridades ou não, que conseguíamos emplacar na capa do portal.

A alegria de estar na capa do UOL era maior ainda, diante da estrutura da redação que chamava atenção. Era bem enxuta. Eu era a repórter, o Daniel Tannus o editor e, vez por outra, aparecia algum estagiário, ficava alguns dias e logo ia embora. Pouco tempo depois de eu chegar, o Tannus saiu e fui promovida a editora. Claro que não contei a ninguém que também era a única repórter — afinal, sempre aparecia algum estagiário para eu me sentir chefe. A redação, neste período, ficou composta apenas por mim e pelo Márcio Chaer.

Produção na micro redação
Como a redação era enxuta, a produção de notícias e reportagens ficava também limitada. Eu e Chaer nos desdobrávamos para tentar publicar informações exclusivas do mundo jurídico e ainda produzir o noticiário trivial. Não eram raras as vezes que chegavam íntegras exclusivas de decisões, liminares ou petições por fax e dividíamos a digitação entre os poucos funcionários para publicar as informações aos leitores o mais rápido possível. E, claro, dar o furo.

Algumas curiosidades engraçadas sempre aconteciam, na fase transitória de repórteres ou estagiários. Um caso que sempre me lembro é o de uma repórter que não aceitava tirar uma ou outra dúvida de português dentro da própria redação. Cismou que ninguém sabia perfeitamente a ortografia nem a gramática. Certo dia, numa dessas dúvidas que surgem vez por outra na redação, não quis palpite de jeito nenhum. Disse que ia ligar para o professor Pasquale. E ligou!!! A diversão foi geral quando o professor Pasquale confirmou que os escassos integrantes da redação estavam corretos.

Apesar da redação enxuta, a vontade de produzir notícias de todas as áreas do Direito era grande, mas a grana era curta para contratações. A redação era composta por, no máximo, três ou quatro pessoas nessa época. Sempre em fase transitória. Foi então que no ano de 2002 tive uma ideia para tentar amenizar esse déficit. Estava assistindo uma dessas chamadas de retrospectivas na televisão e pensei: Aí está a chance da ConJur de resgatar tudo de importante que passou no ano, em todas as áreas do Direito, e não foi possível dar a cobertura adequada. E melhor ainda: sem custo. Propus ao Chaer que convidássemos personalidades do mundo jurídico para escrever a “Retrospectiva 2002: Saiba como foi o ano para o Direito Criminal” e assim por diante. Foi dessa forma que nasceu, em 2002, a retrospectiva que a ConJur publica todos os finais de ano.

De 2000 até hoje, foram mais de 1.500 textos que assinei na revista ConJur e outros milhares que editei sobre temas jurídicos relevantes para o país. Além disso, assinei três colunas — Brasil Legal, Imagens da História e JusTube. No final de 2006, voltei a morar em Cuiabá (MT). Desde 2007, com o mundo sem fronteiras da internet e das redes sociais, edito a revista diretamente de Cuiabá, o que me rende várias piadas na redação. Mas o que realmente importa é que me orgulho de continuar no primeiro lugar que me fez verdadeiramente pensar e analisar os fatos do Judiciário, sob a ótica da lei e do Direito, sem tentar fazer qualquer prejulgamento com a visão do imaginário popular.

A cada texto que escrevo ou edito na ConJur, me lembro da primeira conversa que tive com o Márcio Chaer, em 2000. Para me explicar com funcionava os fatos no mundo jurídico, ele disse que “um ovo não cabe na caixa de fósforo”. Na época, na minha arrogância e talvez ingenuidade dos 24 anos, pensei: Isso é tão óbvio. Hoje, quando vejo ovos em caixas de fósforo cada vez que o direito de defesa é prejudicado por prejulgamentos publicados na imprensa, entendo perfeitamente o que ele quis dizer com a sua sabedoria.

Bons ventos
A estrutura da redação começou a melhorar no ano 2004, quando a sede passou a ser na Vila Madalena. A necessidade de ter uma redação maior ficou evidente porque o site já tinha se tornado conhecido — especialmente no mundo jurídico. A demanda de notícias era grande. A redação precisava acompanhar a velocidade de seu prestígio. Antes apenas com correspondente no Rio de Janeiro, a ConJur passou também a contar com o Rodrigo Haidar na Suíça, em 2004. Ele foi o primeiro correspondente internacional da revista. Hoje é editor da revista em Brasília.

Atualmente, a ConJur é composta por 22 jornalistas, com correspondentes nos Estados Unidos, Inglaterra e em Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A partir de 2005, a revista começou a fazer o Anuário da Justiça, publicação que se tornou igualmente conhecida no mundo jurídico. Além do Anuário da Justiça nacional, a ConJur também publica os Anuários da Justiça Federal e da Justiça do Trabalho. As Justiças estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais também já tiveram ou têm um Anuário. A ideia é continuar a trilhar esses caminhos do mundo da Justiça e do Direito pelo país sempre para melhor informar o leitor.

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