Igualdade racial

UniPalmares forma primeiros 80 bacharéis em Direito

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11 de abril de 2012, 18h22

No fim do primeiro semestre deste ano, a Faculdade Zumbi dos Palmares (UniPalmares) forma sua primeira turma de bacharéis em Direito. Serão os 80 primeiros formandos em Direito saídos da primeira faculdade voltada a jovens negros. 

O curso de Direito da UniPalmares, hoje, tem cerca de 700 estudantes, dos quais 87% são negros autodeclarados. São números que chamam a atenção. De acordo com relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009 o Brasil tinha menos de 7 milhões de jovens com entre 18 e 24 anos no ensino superior. Desses, 7,4% eram negros autodeclarados.

Por conta desse quadro, o reitor da UniPalmares, José Vicente, se diz “otimista” em relação aos novos bacharéis. “Nosso curso, por focar em jovens negros, é diferenciado, e por isso mesmo nossa expectativa é ótima”, conta. Para ele, é uma faculdade que “traz algumas transformações”.

Ele conta que o curso da Zumbi dos Palmares tem um grande apelo prático, com programas de trainee e núcleos de orientação jurídica prática, ambos por meio de convênios com grandes empresas. Além disso, de acordo com o reitor, a biblioteca da faculdade vem crescendo. “Um dado adicional que também nos deixa bastante otimistas é que os alunos sempre participaram dos programas de aprendizado na prática desde o início do curso. Todos tiveram a oportunidade de fazer um laboratório prático muito intenso.”

Preocupações
Ao mesmo tempo que comemora a formatura da primeira turma, José Vicente reconhece os desafios que tem pela frente. Por se tratar de uma faculdade voltada para um público de baixa renda, muitos dos alunos chegam à UniPalmares com dificuldades carregadas desde o ensino médio. “Isso é muito difícil para uma faculdade compensar”, reconhece.

Essa defasagem, na opinião do reitor, que é formado em Direito, é reflexo direto do “público alvo” da UniPalmares. Mas o problema, para ele, é que os exames jurídicos “não reconhecem a trajetória, infelizmente”. Então, num mercado competitivo como o da advocacia, Vicente observa que seus alunos ainda podem começar a corrida em desvantagem. “Pegamos o estrato que ninguém quer, para quem todos olham torto, e recebemos de braços abertos. Mas isso traz a preocupação da defasagem.”

Ascenção social
Outra característica importante da UniPalmares é a mensalidade. Para o curso de Direito, o aluno paga R$ 350 por mês se honrar o compromisso até o dia 6 de cada mês, e R$ 385 se perder o prazo. Como acontece com muitas faculdades particulares, a mensalidade acaba atraindo estudantes interessados em ter curso superior — qualquer um —, e não seguir a carreira para a qual se formou.

“O diploma de ensino superior no Brasil é uma referência e até símbolo de ascenção social. Não estamos imunes a isso, mas não é esse o nosso foco”, afirma José Vicente. Ele conta que muitos dos alunos da UniPalmares já trabalham no serviço público, onde um diploma significa promoção, aumento salarial ou até transferência para cargos melhores. Por isso, o curso de Direito tem muitos policiais, funcionários de tribunais e de cartórios. “Eles tentam galgar esses objetivos, e com os preços que oferecemos, eles conseguem.”

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