Ações afirmativas

Cotas raciais e sociais têm debate acalorado

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25 de novembro de 2011, 11h30

Discussões acaloradas entre o senador Demóstenes Torres e o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos sobre o tema “Cotas Raciais ou Sociais”, no grande auditório do Teatro Positivo, encerraram o ciclo de debates da XXI Conferência Nacional dos Advogados, na quinta-feira (24/11), em Curitiba. Demóstenes defendeu as cotas sociais. Disse que elas são capazes de beneficiar todos os pobres do Brasil em vez de segmentá-los. Bastos foi aplaudido ao enfatizar que “basta observarmos o número de negros nesta conferência, para verificarmos que eles ainda sofrem as consequências de centenas de anos de escravidão”.

Com base nos trabalhos do médico geneticista brasileiro Sérgio Pena, Demóstenes afirmou que o conceito de raça é social, pois geneticamente não tem sentido. “No Brasil, a cor de um indivíduo tem muito baixa correlação com sua ancestralidade africana. É muito difícil dizer quem é branco, negro ou índio. Não existe identidade negra ou branca. Existe identidade brasileira. Temos que trabalhar pela integração”, afirmou.

“A inclusão de alguém sempre implica na exclusão de outro. É inegável que existe racismo no Brasil, mas as cotas raciais seriam uma forma de discriminação entre pessoas que estão na mesma condição social. Se grande parte dos negros e pardos são pobres, eles seriam os principais beneficiários das cotas sociais”, declarou Demóstenes para concluir a defesa das cotas sociais.

Grande defensor das cotas raciais, Thomaz Bastos começou sua exposição relembrando fatos históricos e dizendo que a escravidão no Brasil foi a mais longa e cruel de que se tem notícia no mundo. “Dos cerca de 11 milhões de africanos trazido às Américas, 44% vieram ao Brasil. Nos Estados Unidos, que recebeu aproximadamente 500 mil negros escravos, o tráfico negreiro aconteceu por pouco mais de um século. No Brasil, foram 300 anos. É por isso que as marcas da escravidão permanecem tão profundas”, discursou.

Segundo o ex-ministro, as cotas raciais são capazes de diminuir um pouco a desigualdade social verificada entre brancos e negros nos dias de hoje e saldar uma pequena parte da dívida histórica que a sociedade brasileira tem com os negros. “Não é um esforço de segregação ou luta de classe, mas de solidariedade e trabalho fraterno. A Justiça distributiva feita hoje é capaz de criar igualdade social e de oportunidades no amanhã”, comentou. 

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