Perda na Política

Morre ex-vice-presidente da República José Alencar

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29 de março de 2011, 16h45

Gil Ferreira/SCO/STF
Vice-presidente da República, José Alencar na sessão solene em comemoração dos 50 anos do STF em Brasília. 21/04/2010 - Gil Ferreira/SCO/STFMorreu nesta terça-feira (29/3), às 14h45, o ex-vice-presidente da República José Alencar, por falência múltipla de órgãos, aos 79 anos, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O político mineiro lutava contra um câncer na região do abdômen há 13 anos. A informação é do site G1.

José Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e deixa três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia. Na última das várias internações, Alencar estava desde segunda (28/3) na Unidade de Terapia Intensiva do hospital Sírio Libanês, em São Paulo, com quadro de suboclusão intestinal.

Antes, ficou internado 33 dias até deixar o Hospital Sírio-Libanês no dia 25 de janeiro. Por isso, não participou da solenidade de posse da presidente Dilma Rousseff. Momentos antes da cerimônia, no entanto, cogitou deixar o hospital para ir até a capital federal a fim de descer a rampa do Palácio do Planalto com Luiz Inácio Lula da Silva. Desistiu após insistência da mulher, Mariza. No mesmo dia, ele recebeu a visita de Lula, que deixou Brasília logo após a posse de Dilma.

O ex-vice-presidente travou uma longa batalha contra o câncer. Nos últimos 13 anos, enfrentou uma série de operações e tratamentos médicos. Foram mais de 15 cirurgias. Em abril de 2010, desistiu da candidatura ao Senado para se dedicar ao tratamento.

Desde 1997, foram mais de dez cirurgias para retirada de tumores no rim, estômago e região do abdômen, próstata, além de uma cirurgia no coração, em 2005. A maior delas, feita em janeiro de 2009, durou quase 18 horas. Nove tumores foram retirados. Exames feitos alguns meses depois, no entanto, mostraram a recorrência da doença.

Também em 2009, iniciou em Houston, nos Estados Unidos, um tratamento experimental com um novo medicamento no hospital MD Anderson, referência no tratamento contra a doença. O tratamento não surtiu o efeito esperado e o então vice-presidente voltou a fazer quimioterapia em São Paulo.

Empresário lutador
José Alencar Gomes da Silva nasceu no dia 17 de outubro de 1931, em Itamuri, zona da mata mineira. Começou a carreira aos 14 anos, como balconista em uma loja de armarinhos. Aos 18 abriu o seu próprio negócio, a lojinha “A Queimadeira”, onde vendia tecidos, calçados, chapéus e guarda-chuvas.

Antes de fundar a Companhia de Tecidos Norte de Minas, a Coteminas, conhecida como um dos maiores grupos industriais têxteis do país, foi atacadista de cereais, dono de fábrica de macarrão.

Como empresário, entrou no mundo da política. Passou pela presidência do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e pela vice-presidência da Confederação Nacional da Indústria.

Decidiu entrar para a política já com mais de 60 anos de idade. Reportagem da Revista Época lembra que ele disputou o governo de Minas pelo PMDB em 1994, mas acabou em terceiro, com 10,7% dos votos, atrás do ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa, e do tucano Eduardo Azeredo, o vencedor do segundo turno. Em 1998, foi eleito para o Senado com 2,9 milhões de votos.

Com o objetivo de criar uma chapa que simbolizasse a união entre os trabalhadores e o empresariado, um grupo de petistas mais próximos de Lula começou a articulação para ter Alencar como candidato a vice na garupa de Lula. A operação envolveu uma intensa negociação com o antigo PL, hoje PR, que exigia dinheiro do PT para financiar campanhas para deputado. Do ponto de vista eleitoral, foi bem sucedida. Com a implosão do PL após o mensalão, Alencar refugiou-se no inexpressivo PRB, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, responsável pela re-condução de Alencar como vice na vitoriosa chapa da reeleição de Lula, em 2006.

Na vice-presidência, Alencar se notabilizou por fazer uma campanha sistemática pela queda da taxa de juros. Durante muito tempo, ele foi a única voz importante do governo que reclamava publicamente da política econômica conservadora liderada por Antônio Palocci, o então ministro da Fazenda. Em novembro de 2004, com o desgaste do ministro José Viegas junto aos militares, Alencar assumiu o Ministério da Defesa. Enquanto esteve no cargo, era visto como um dos governistas associados à articulação de parlamentares e lobistas que tentava criar um programa de reestruturação e salvamento da Varig, que, anos depois, acabou vendida para a Gol.

Paternidade decretada
Em julho de 2010, um processo de paternidade envolvendo Alencar ganhou repercussão nacional e deflagrou um grande debate na internet. Numa ação de investigação de paternidade, um juiz de Minas deu ganho de causa a uma professora de 55 anos que diz ser filha de Alencar. O processo de Rosemary de Moreira Gomes da Silva começou em 2001. Como Alencar nunca aceitou fazer teste de DNA, o juiz interpretou o fato como "culpa presumida". A defesa de Alencar obteve o efeito suspensivo da sentença. O caso ainda será julgado pelo Tribunal de Justiça de Minas.

Homenagens póstumas
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, divulgou nota, em nome da corte, lamentando o falecimento. "O Supremo Tribunal Federal enluta-se nesta data e presta suas respeitosas reverências à memória de José Alencar, manifestando ainda os mais profundos sentimentos de pesar aos familiares de Sua Excelência", afirmou.

O mesmo fez o Superior Tribunal de Justiça. Segundo a nota da corte, José Alencar foi "exemplo de coragem e de dedicação à causa pública", que "nos legou o heroísmo de sua luta pela vida, e por isso permanecerá nos anais da história como um dos nossos maiores".

Em nota de pesar, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, João Oreste Dalazen, disse que Alencar “trouxe para a vida pública a garra e o talento de um notável empreendedor, um dos maiores que o país já conheceu”. Segundo ele, o ex-vice-presidente foi “um bravo que deixa saudade e uma exemplar mensagem de luta e patriotismo a todos nós”.

O presidente do Superior Tribunal Militar, ministro Álvaro Luiz Pinto, destacou que "a pessoas com a qualidade de José Alencar, não é dado apagar-se da memória. Sua história de vida e o exemplo de coragem e otimismo, revelado nos últimos 13 anos, nos inspira a seguir lutando pelos ideais que imaginamos ser importantes para a construção de um Brasil mais digno".

Também em nota, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante Júnior, prestou homenagens. Segundo ele, “é fácil falar do Dr. José Alencar político, generoso, amigo, patriota e democrata. Difícil é seguir o seu exemplo, de coragem, de persistência, de atitude, de esforço e de dedicação, valores pelos quais deu a própria vida”.

O presidente da OAB lembrou que foi Alencar quem sancionou, como presidente da República em exercício, a lei que resguarda a inviolabilidade de escritórios de advocacia. A Lei 11.767/2008 teve vetados apenas dois artigos, que descreviam os instrumentos de trabalho dos advogados que deveriam ser protegidos, e a restrição de possíveis investigações apenas sobre os instrumentode de trabalho do advogado suspeito, e não dos pertencentes aos demais colegas de trabalho.

Em nome da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, o presidente da entidade, César Mattar Jr., disse que "José Alencar deixa um legado de trabalho, compromisso, coragem e luta, que ficará para sempre na lembrança de todos os brasileiros. A Conamp torna pública a sua solidariedade e presta seus pêsames aos familiares e amigos deste homem que, no exercício de sua vida pública e política, deixa um belíssimo exemplo de dedicação ao país".

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