A dualidade de tratamento entre a Polícia Militar e a Polícia Civil está cada vez mais evidente no Estado de São Paulo. A diferença na destinação de verbas, por exemplo, é gritante entre as duas instituições. O investimento destinado à corporação da Policia Militar superou 35% do previsto nos últimos seis anos. Na prática, são R$ 296 milhões a mais. Enquanto isso, a Polícia Civil teve de se conformar em receber 13% a menos (equivalente a R$ 65 milhões em investimentos), segundo dados do sistema orçamentário fornecidos pela liderança do PT na Assembleia.
A fatia menor do orçamento, destinado à Civil, representa claramente a atual falta de tecnologia, de pessoal, de viaturas, de prédios próprios — já que a maioria é alugada ou emprestada por prefeituras — e de investimento em inteligência policial. Este último sendo o mais grave de todos, já que a atribuição de investigar, de elucidar crimes, é da Polícia Civil. Sem contar os salários aviltantes pago a esses profissionais. Os delegados de Polícia de São Paulo têm uma das piores remunerações do País. Atrás de estados carentes como Piauí, Maranhão e Ceará.
Não é de hoje, contudo, que a Polícia Militar se tornou um poder paralelo no Estado. A legitimidade é tão consolidada que a PM é quem que faz sua própria folha de pagamento. O Poder dado a esta instituição explica até o fato de oficiais escolherem carros de luxo para andar pelas ruas de São Paulo. A instituição, que não tem problema algum de verba, gastou recentemente R$ 2,8 milhões com uma Chevrolet Captiva para o comandante-geral, coronel Álvaro Batista Camilo, e 61 Vectras para atender aos coronéis da corporação. O carro do comandante é mais caro e luxuoso que o usado pelo governador do Estado, Geraldo Alckmin. Inversão de valores?
A discrepância não para por aí. A Corregedoria da PM é só um nome fantasia, segundo o próprio Secretário de Segurança, Antônio Ferreira Pinto. Eles investigam as irregularidades, mas não fazem a correição de seus coronéis. Já o controle da Corregedoria da Polícia Civil foi levado para o gabinete do secretário, que tem levantado a bandeira do combate à corrupção. Nós, delegados de polícia, também abominamos a corrupção e não compactuamos com ela, mas desde que essa frente adotada pelo Secretário não vire caça as bruxas. Os profissionais não podem ser colocados numa vala comum, pois a maioria das investigações refere-se a infrações administrativas.
É por essas razões que a Polícia Civil aguarda, ansiosamente, uma Política de Segurança séria. Enquanto a Polícia servir ao Secretário, a sociedade é quem pagará a conta.
Comentários de leitores
10 comentários
não faz sentido Delegado receber menos que Defensor
analucia (Bacharel - Família)
não faz sentido Delegado de Polícia receber menos que Defensor Público, pois este exerce atividade privada e não tem carga horária de 40 horas e dá plantão noturno.
Além disso, Delegado prende bandido e Defensor solta bandido.
Segurança Pública é atividade privativa do Estado e assistência jurídica não é, pois consiste em atividade de relevância social, mas não privativa. Logo, pode ser terceirizada.
Nesse caos jurídico é preciso discutir este aspecto.
Melhor que o Estado terceirize e privatize a assistência jurídica, e invista na Polícia.
Defensoria náo é parte, e o fato de função essencial à Justiça, não ser atividade privativa do Estado. A assistência jurídica deve ser exercida apenas de forma suplementar pelo Estado enquanto segurança pública não.
milagre
idealista (Funcionário público)
Apenas para conhecimento, se muitas vezes o esrivão está à frente do plantão, é porque o delegado responde por várias unidades ao mesmo tempo, e isto é fato em São Paulo. O delegado não é milagroso e não consegue se dividir para estar em dois lugares ao mesmo tempo. A pergunta que se deve fazer é: a quem interessa uma Polícia Civil bem remunerada, preparada e eficiente, nos moldes da Polícia Federal de hoje? Como bem observado nos comentários, uma investigação eficiente e sem alarde não gera voto quanto sirenes, gritos, helicópteros, "botinadas", etc. Esperamos que o MP não feche os olhos para a militarização que vem ocorrendo no Estado de São Paulo, em detrimento da investigação policial e da administração da Justiça, enfim, de toda população paulista.
Espécies em extinção
Wagner Göpfert (Advogado Autônomo)
Delegados, investigadores, papiloscopistas, escrivães, peritos, etc., quando bem treinados e equipados revelam crime de poderosos, chefes do tráfico, corruptos, grandes quadrilheiros e o pior: não são facilmente identificados nas ruas, não fazem circo, não dão (mera) sensação de segurança à população, enfim, não trazem votos.
Se esses senhores ganharem condignamente, estiverem em número compatível com a demanda, eles só vão fazer entupir mais a mesa dos membros do MP com inquéritos complexos e trabalhosos, entupir mais o caótico judiciário e obrigar o executivo construir mais fóruns e cadeias, que não dão nenhuma visibilidade ao governante/candidato de plantão, ou seja, só dão despesa. São espécies em extinção.
Comentários encerrados em 24/05/2011.
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