Reviravoltas do mercado

Universidade britânica avisa que vão faltar advogados

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12 de maio de 2011, 17h35

Há dois anos, a ordem dos advogados inglesa começou uma campanha para desencorajar os estudantes a seguir a carreira da advocacia. E deu certo. Uma projeção recentemente divulgada na Inglaterra aponta que, já no próximo ano, o número de vagas disponíveis para os recém-formados pode superar a quantidade de graduados.

Os dados foram divulgados pela The College of Law, universidade inglesa considerada uma das principais a oferecer o legal practice course, que é o curso de um ano obrigatório para os formados em Direito que querem ser solicitors, os advogados responsáveis por lidar diretamente com o cliente e autorizados a atuar apenas nas instâncias inferiores. Além deles, atuam na advocacia britânica os barristers, que são os profissionais habilitados a atuar nos tribunais superiores, sempre de toga e peruca.

De acordo com The College of Law, no próximo ano devem entrar no mercado de trabalho menos solicitors do que a demanda. A previsão da universidade é que, no final do primeiro semestre de 2012, quando acaba o ano letivo na Inglaterra, o número de vagas de trainees seja 14% superior ao número de formados. A universidade aponta que, mesmo com base em dados mais conservadores, o equilíbrio deve ser quebrado já em 2013. E alerta: se nada for feito, vai faltar advogado no mercado.

A campanha começada pela Law Society of England and Wales, a OAB inglesa, em 2009, visava diminuir o número de novos advogados em um mercado já considerado superocupado. Dados da ordem dão conta de que, em julho de 2009, havia pouco mais de 115 mil solicitors atuando na Inglaterra e no País de Gales, o que dava uma média de um advogado para cada grupo de 476 pessoas. Isso sem contar os barristers, que em 2009 ultrapassavam os 15 mil.

Com a crise econômica que há quase três anos atormenta a Europa, a Law Society entendeu que era premente avisar os estudantes de Direito que eles iam investir numa carreira — os cursos para se tornar solicitor custam mais de 10 mil libras (cerca de R$ 26 mil) por ano — com poucas chances de conseguir uma vaga no mercado de trabalho. De acordo com publicação britânica The Lawyer, já em 2010, um ano após o início da campanha, a procura pelos cursos sofreu uma queda de 20%.

Em comunicado publicado em seu site, The College of Law afirma que a diminuição da procura superou a queda de oportunidades abertas nos escritórios. A universidade lembra que, se nada for feito para reverter isso, corre-se o risco de repetir o que aconteceu no mercado da advocacia depois da crise da década de 1990, quando a oferta de vagas para advogados recém-formados era tão maior que a quantidade de graduados que os salários pularam de 30 mil libras (quase R$ 80 mil) anuais para perto dos 100 mil (mais de R$ 260 mil).

De acordo com um artigo publicado no jornal britânico The Guardian, no entanto, a Law Society não vê motivo para suspender a sua campanha e considera importante alertar os estudantes sobre o mercado concorrido que pretendem entrar. A entidade que representa os barristers, Bar Council, por outro lado, lançou em março um site para esclarecer aos jovens o que é ser barrister e estimular os melhores candidatos a entrar para o time.

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