Holofotes e viaturas

Mídia dos EUA questiona desfile de acusados

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11 de julho de 2011, 15h25

A imprensa americana começa a questionar uma antiga prática no país, notadamente em Nova York, que a favorece: a do perp walk — o "desfile do perpetrador" do crime para as câmeras de televisão e dos repórteres fotográficos, quando ele é preso e conduzido algemado pelo espaço entre a viatura policial e a porta da delegacia. "Está na hora de acabar com o perp walk?", pergunta a revista The Economist, em sua última edição.

"Nos Estados Unidos não existe presunção de inocência", clamaram autoridades francesas logo depois da prisão do ex-dirigente do FMI Dominique Strauss-Kann (DSK), cujo perp walk provocou muitas discussões sobre a prática. "Sob tais circunstâncias, até mesmo a Madre Teresa pareceria extremamente suspeita, especialmente se suas mãos estiverem algemadas", diz o jornalista e defensor das liberdades civis Nat Hentoff, segundo a revista.

Existem duas beneficiárias do perp walk: a Polícia e a imprensa. "Essa prática fornece imagens para as reportagens de jornais e televisões e permite aos policiais exibirem suas presas", diz The Economist.

A Polícia argumenta que, com o perp walk, mostra à sociedade que perpetradores de crimes, mesmo os de colarinho branco, são presos. O problema, dizem os críticos, é que isso acontece antes da pessoa ser julgada e condenada, o que é uma violação de seus direitos constitucionais. "É uma afronta à presunção de inocência", diz Jack King, da Associação Nacional de Advogados Criminalistas, segundo a revista.

Em uma sentença dada em 2001, publicada pela American Bar Association mais recentemente, um tribunal distrital federal de Nova York chegou a essa conclusão: "A única finalidade do perp walk é permitir ao delegado e aos policiais aparecerem na televisão". E citou o fato de que os policiais sempre combinam o perp walk com a imprensa antecipadamente.

Segundo o Huffpost World, o premiado repórter investigativo Art Harris, que cobriu dezenas de escândalos de celebridades e julgamentos criminais para a CNN, People Magazine, CBS, ABC, Fox e Washington Post, disse: "Os cínicos podem chamar o perp walk de o tapete vermelho dos repórteres criminais".

The Economist lembrou que o primeiro chefe do FBI, J. Edgar Hoover, desfilava os membros da máfia presos à frente das câmeras. Lee Harvey Oswald, preso em Dallas pelo assassinato do ex-presidente John Kennedy, foi morto durante um perp walk. Essa era uma das táticas preferidas do ex-prefeito de Nova York e ex-candidato à Presidência da República Rudy Giuliani, quando ele era promotor público federal.

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