poder da justiça

Prisão de Strauss-Khan acende debate sobre Justiça

Autor

  • Joaquim Falcão

    é professor de Direito Constitucional e Diretor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro vice-presidente do Instituto Itaú-cultural e ex-membro do Conselho Nacional de Justiça.

8 de julho de 2011, 11h41

[Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (8/7)]

O caso do ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn – que renunciou ao cargo após ser acusado de tentativa de estupro por uma camareira em Nova York e foi preso quando voltava à França, seu país natal – abre debate que ultrapassa as fronteiras de EUA e França.

Interessa, inclusive, ao Brasil e independe do julgamento final. A combinação entre o poder dos procuradores em abrir inquéritos, dos policiais colocarem algemas, a repercussão na mídia e as consequências políticas decorrentes pode ser explosiva.

Causar danos irreversíveis a cidadãos. Será esta combinação -direito, mídia e política – boa para a democracia?

Uns acreditam que não. Sobretudo quando os procuradores podem fazer carreira política depois.

Em Nova York, eles são escolhidos pelo voto popular. Mais ainda. Vários se candidatam depois para serem governador ou parlamentares. A campanha eleitoral de amanhã pode estar começando na atuação judicial de hoje.

No Brasil, a midiática atuação do ex-delegado federal Protógenes Queiroz contribuiu para sua eleição como deputado. Daí muitos defenderem no Brasil longa quarentena para que ex-juízes, procuradores, delegados se candidatem.

Outros acreditam que é assim mesmo. A combinação é inevitável. O próprio judiciário e a opinião pública corrigirão eventuais desvios de função. O juiz recusando a denúncia. O eleitor não votando em autoridades judiciais imprudentes.

A busca pela justiça pode servir também a interesses políticos maiores. Não são poucos os que alertam para o fato de que DSK tentava mudar a política financeira e as regras de eleição para diretor-gerente do FMI, favorecendo países emergentes. Negociava, inclusive, o apoio do Brasil.

Interesses macroeconômicos americanos teriam influenciado os procuradores?

Se influenciaram, ganharam. O julgamento agora é até dispensável. A denúncia que deveria ser o início da justiça foi a pena final. Para DSK, FMI nunca mais.

O problema é o mesmo. Como evitar a indesejada manipulação política das denuncias judiciais nos EUA, na França ou no Brasil? Somente com o avanço da mídia investigativa vamos saber a verdade. Se houve ou não manipulação. Se houve ou não tentativa de estupro.

Se não houve, DSK poderá processar a todos: camareira, hotel, procuradores, prefeitura etc. E ser presidente da França?

Autores

  • é mestre em direito pela Universidade Harvard (EUA), doutor em educação pela Universidade de Genebra (Suíça), professor de Direito Constitucional e diretor da Escola de Direito da FGV-RJ, e ex-conselheiro do Conselho Nacional de Justiça.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!